terça-feira, 20 de março de 2012

O mágico que virou religioso

Hoje no almoço eu estava conversando com um rapaz que me contou que seu primo, que ganhava a vida fazendo shows de mágica, mudou de profissão e passou a ser palhaço. Quando questionado sobre a mudança, apesar de ser reconhecido como um excelente ilusionista, ele respondeu que estava abrindo mão dessa carreira porque como se convertera, não queria mais viver a vida "enganando" os outros.


Quando eu ouvi isso, confesso que fiquei meio confusa e pensativa... afinal, por que ele desistiria da carreira de mágico/ ilusionista por conta de algo que é sabido de todos? Expliquei ao rapaz com quem eu conversava que, ao meu ver, a decisão foi extremada porque quando vamos a um show de mágica, sabemos que tudo aquilo é apenas um conjunto de truques e habilidades ensaiadas. Depois, fiquei pensando: sabemos mesmo? Digo, é claro que a maioria das pessoas sabe isso mas, será que TODO MUNDO realmente sabe diferenciar o que é real do que é ilusão?


Expandindo o conceito, ouço pessoas falando dos personagens de novelas e reality shows como se fossem vizinhos ou parentes... aliás, vizinhos coisa nenhuma, afinal, a maioria das pessoas (assim como eu) mal sabe o nome da pessoa que mora no apartamento ao lado (isso quando conhece o rosto porque, às vezes, nem isso sabem) e portanto, não teriam como falar de um vizinho com tanta "propriedade" e tanto "conhecimento de causa". Sendo assim, vejo as pessoas tratando esses personagens como gente de verdade, gente que de fato é como eu e você (quer dizer, não é mas as pessoas agem como se fossem).


Ouço eventualmente as pessoas falando de fulano ou beltrano que está sob júdice no reality show do momento, defendendo ou cobrando uma determinada posição diferenciada dessa pessoa como se conhecêssemos as suas motivações e desejos mas na verdade nem sabemos quem são de verdade as pessoas com quem de fato convivemos no dia-a-dia. Outro dia descobri que minha filha gosta de pagode. Até aí, nada demais... o único detalhe é que ninguém da minha família escuta pagode e nunca nessa vida tocamos esse tipo de música em casa. Isso me surpreendeu porque fiquei pensando o que mais ela gosta e eu não sei.


De qualquer forma, voltando à questão original (se é que saí dela em algum momento), o mágico deixou a sua magia porque não quer enganar ninguém. E eu, que não sou mágica e me considero uma pessoa relativamente esclarecida, percebo que na verdade, normalmente não precisamos de ninguém para nos enganar.


Pois é... a atitude do mágico me pareceu um tanto corajosa. Afinal, por causa de sua nova fé, abandonou sua carreira para investir em outra, obviamente acreditando que o Senhor o abençoaria (tenho certeza de que isso aconteceu porque, independente de ele ter razão ou não, a pureza de sua fé é digna de nota e creio eu até de recompensa). Por outro lado, me pareceu um tanto insensata... ele não era cafetão, nem traficante de drogas (pelo menos foi o que fiquei sabendo) e nem um ladrão e na minha percepção, a decisão de largar a tal carreira foi um tanto precipitada, especialmente porque ele não deixou o ilusionismo para ser pastor ou missionário, mas para ser palhaço.


Enfim, claro que cada um sabe onde o seu sapato aperta o calo do seu pé mas eu continuo achando que é muito pior aquele que vive de enganar de verdade (por favor, não me entendam mal... não estou falando de atores e atrizes ou pessoas que vivem de fazer shows por aí) tais como pessoas (com qualquer ocupação) que são corruptas, mal intencionadas e mal resolvidas que, às vezes, mesmo achando que estão ajudando, acabam atrapalhando a vida dos outros e a sua própria.


Para mim, ficaram algumas coisas de lição:


1) A fé desse moço é tão grande que ele de fato decidiu mudar de vida de modo radical e literal. Eu não sei até que ponto eu teria coragem (ou fé, ou ambos) para fazer o mesmo;


2) Boas intenções sem conhecimento podem de fato levar alguém à condenação: será que esse moço tomou essa decisão porque alguém falou a ele que ele deveria mudar de vida por motivos religiosos (e não cristãos) e ele simplesmente por respeito ou temor (ou ambos) seguiu o conselho?


3) Olha o que fica como testemunho: depois de virar "crente" o mágico virou palhaço... me parece até piada pronta... principalmente fora de contexto (que, se existe, precisaria ter sido considerado);


4) Não importa o que façamos ou como façamos, terá sempre alguém (neste caso como eu) para discutir e questionar a intenção e o propósito da gente ao agir... lamentável (a minha atitude inclusive)


5) Temos sempre que lembrar que, para criticar, devo olhar SEMPRE em primeiro lugar a minha vida (e em segundo lugar, a minha vida de novo) e, se isso não me der trabalho suficiente, devo pensar e lembrar da vida de Jesus;


6) Para procurar melhorar, devo SEMPRE olhar a vida do outro em primeiro lugar e, em segundo lugar, a vida do outro de novo e, se isso não me der trabalho suficiente, aí sim devo olhar a minha vida e como melhorá-la para fazer as vidas dos que me rodeiam melhor


7) Por fim, faço minhas aquelas palavras de uma piadinha que vejo constantemente: "Senhor, dai-me paciência... porque, se me der força, quebro tudo!". E, por sinal, dê-me amor também para seguir aquilo que descrevi acima e em que realmente acredito. Ah, se não for pedir muito, dê-me também sabedoria para tomar decisões que, acima de tudo, Te agradem, mesmo que os outros não entendam (inclusive eu).

Nenhum comentário:

Postar um comentário