quinta-feira, 29 de março de 2012

Salvo pelo gongo

Até pouco tempo atrás, quando eu ouvia essa expressão, imaginava que a sua origem tinha a ver com as lutas de boxe onde um lutador que está sendo literalmente massacrado deixa de receber o nocaute porque, antes do golpe derradeiro, toca o gongo e a luta acaba, preservando pelo menos um pouquinho da auto-estima e da "fama" do lutador em questão.

Só que, outro dia, recebi um e-mail falando sobre a sociedade e o mundo de uns quinhentos anos atrás e lá comentava-se sobre a origem de algumas expressões, entre elas essa que, em seu original, é "saved by the bell".

A expressão surgiu porque antigamente a medicina não era tão poderosa quanto hoje, especialmente a medicina diagnóstica que, pelo que sei, era praticamente inexistente. Com isso, eventualmente, algumas pessoas sofriam de males que faziam com que elas parecessem mortas. Como não tinha muito jeito de confirmar a não ser sentindo a pulsação do coração (e naquela época era só com o dedão na jugular mesmo), quando acometidas por esses males, as pessoas passavam a ter uma pulsação tão fraca que em alguns casos não era possível identificar com o toque. Uma vez morta, a pessoa era colocada no caixão e enterrada.

Tempos depois, quando se abria o caixão para tirar a ossada e reaproveitá-lo, notava-se em alguns casos que o caixão tinha em sua parte interior da tampa a marca de unhas... ou seja, a pessoa não só não tinha morrido até então como havia sido enterrada viva e sofreria consideravelmente até que de fato falecesse.

Por causa disso, criaram-se dois artifícios:

- O velório: os familiares e amigos ficavam vigiando a pessoa deitada por um período que variava de algumas horas até um dia inteiro para garantir que ela estava mesmo morta antes de enterrar;
- O sino: a ideia era deixar um sino pendurado do lado de fora do caixão com uma cordinha que ia até o lado de dentro; assim, se a pessoa estivesse viva e eventualmente acordasse durante a caminhada ao cemitério, ela puxava a corda e era salva pelo gongo.

Claro que, com a evolução da medicina, o tal sininho foi retirado e o velório (cujo sentido original perdeu-se completamente) passou então a ser um momento de despedida do vivo em relação ao morto, de modo que aqueles que ficarão por aqui ainda possam se acostumar na medida do possível com a partida do ente querido.

Quando pensamos em pessoas mortas espiritualmente, vemos que a realidade não é tão diferente assim... alguns não estão mortos, apenas estão com a tal catalepsia (aquele mal que mencionei acima) só que simplesmente não percebem.

É assim: um dia, sentem um certo desânimo; no outro, o sentimento se agrava... mais um tempo se passa e os sonhos começam a perder a cor e aos poucos vão deixando a visão do futuro cada vez mais embaçadas até que, de repente, o dia de amanhã torna-se um verdadeiro borrão aos olhos de quem está morrendo.

O curioso nessa situação é que muitas vezes as pessoas ao redor vêem o que está acontecendo com você mas simplesmente não falam. Às vezes acham aquilo normal; às vezes não se dão conta porque o processo é lento ou simplesmente porque estão tão ocupadas consigo mesmas que não reparam no que acontece ao lado. Outras até vêem e percebem mas ficam um tanto sem graça de comentar com você ou ainda deixam o assunto de lado porque é tão óbvio que não faz sentido fazer o comentário porque a pessoa, aos olhos dela, está morrendo por conta própria. Ou seja, quando estamos convivendo com alguém que está com catalepsia espiritual, também velamos o espírito dela... Estranho, não?

Como é muito óbvio que aquele espírito está morto, retiramos os sininhos do caixão e quando alguém começa a gritar de lá de dentro, muitas vezes tratamos os barulhos que ouvimos como "coisas da nossa cabeça" e não como um pedido de ajuda. E prosseguimos com o enterro.

Continuamos o serviço e claro, providenciamos para que este espírito seja devidamente enterrado. De que forma fazemos isso? Ao meu ver, quando fazemos aquelas "brincadeirinhas" ofensivas que só tem graça para quem as faz... e assim jogamos "a última pá de cal" e concluímos o serviço.

Só que Deus, em Sua infinita misericórdia, nos concede um sininho: a oração. É um instrumento pequeno segurado por uma corda frágil (a fé) mas que, se manuseado corretamente, faz um barulho tão alto que não pode ser ignorado por Ele e move-o para parar o cortejo, abrir o caixão e nos salvar.

Quantas vezes você já foi salvo pelo gongo? Eu já fui algumas... gostaria de ter sido menos porque, de verdade, gostaria de ter feito menos escolhas erradas que no passado me levaram para o caixão. Hoje, quando vejo pessoas nessa situação, eu tenho vontade de chorar... e choro. Creio que o meu choro de tristeza sincera e o meu clamor intenso fazem com que o Senhor providencie uma "luzinha" dentro do caixão de modo que a pessoa lá dentro enxergue a corda e puxe-a com toda a força que tiver para que o Senhor, na última hora, salve-o pelo gongo para que a Sua glória seja manifestada (e a pessoa seja salva e testemunhe disso, claro).

Surgiram então dois pedidos no meu coração para hoje:

1) Senhor, não me deixe embrutecer e não mais me comover com pessoas que estão fazendo escolhas erradas e, ao invés de escolher a vida, estão se deixando levar para o caixão;

2) Pai amado, Deus de misericórdia: permita que, se for possível, eu só vá para o caixão quando a Tua glória precisar ser manifesta através da minha vida e não porque eu escolhi errado. Faz cumprir a Tua palavra que diz "Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho." (Salmos 119:105) de modo que, mesmo que eu não enxergue, os meus passos sejam guiados sempre em direção à Vida.

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