terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Moendo gente
Brevemente li sobre um documentário criado recentemente chamado "Moendo gente" que retrata a condição de trabalhadores em frigoríficos no Brasil. Eu não vi o documentário mas, pela reportagem (e cá para nós, pelo título da obra) fica fácil saber do que se trata: abusos, condições precárias, negligência, uns pouquíssimos ganhando rios de dinheiro aparentemente inacabáveis e a grande multidão de trabalhadores vivendo e trabalhando em condições lamentáveis.
Por outro lado, vi nesses dias também uma outra reportagem mas que falava de beleza: era a reportagem que descrevia o quão lindo e luxuoso foi o casamento do "imperador" de um desses frigoríficos com uma jornalista nos últimos dias. Acho que o que resume como foi o casamento é a fotografia que colocaram da entrada do local da festa, em que a parede foi decorada com cinquenta mil orquídeas (isso mesmo, cinquenta mil).
Falar sobre o absurdo da situação é fácil. Falar sobre o quanto é ridícula a desigualdade e o quanto fica fácil entender de onde sai tanto dinheiro para pendurar flores na parede também. Mas fiquei pensando o quanto nós mesmos não fazemos o mesmo quando temos oportunidade.
Eu nunca tive dinheiro suficiente para decorar uma parede com tantas flores (aliás, nunca o faria porque, mesmo sendo lindo, acho particularmente desnecessário) mas também nunca passei fome, graças a Deus. Mas, de vez em quando, sou obrigada a contratar serviços de outros: encanadores, marceneiros, eletricistas, cabeleireiros, manicures e outros prestadores de serviço com quem lidamos diariamente. Fiquei pensando então: como os tenho tratado?
Na semana passada aconteceu um jogo de futebol em que um dos times acabou desistindo da partida alegando que os seguranças do time anfitrião os agrediram e que por isso não voltariam a jogar. Apesar da história estranha, o campeonato acabou e o time acusado ganhou o título. Até aí, nenhuma grande novidade (muito embora o acontecido tenha realmente sido inusitado... raras vezes vemos times de futebol ganhando por WO).
O ponto que chamou a minha atenção neste caso foi mesmo a reação de algumas pessoas em relação ao ocorrido: xingamentos, ridicularização e comentários definitivamente pouco elogiosos para os jogadores desistentes.
Mais antigamente, denúncias de uma rede de lojas de roupas (caras por sinal) usando trabalho escravo. Próximo disso, denúncias de uma obra em um hospital particular em que aconteceu a mesma coisa. Mais gente sendo moída em prol do acúmulo de riquezas para um seletíssimo grupo pendurar flores na parede.
E enquanto tudo isso acontece, fico pensando mais uma vez: em escala menor, o que tenho feito para mudar esse quadro? Como as minhas atitudes contribuem para que o mundo seja melhor? Como tenho agido diante disso tudo? Sinceramente, não sei responder... e isso sinceramente me aflige.
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