quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Bombeiro ou incendiário?
Há alguns anos atrás eu tive um gerente que me dizia que na vida temos que escolher se queremos ser bombeiros ou incendiários. O conceito, embora simples, é bastante aplicável em diversas situações (pelo menos para mim): em cada uma das situações podemos escolher qual é a postura que queremos adotar, seja de fazer "o circo pegar fogo", seja de "apagar o incêndio".
Para ficar mais claro o conceito vale a explicação: sabe aqueles momentos em que alguém vem até você (um amigo, um irmão, um conhecido, sei lá, qualquer um) e te conta alguma ofensa que sofreu ou alguma situação em que se sentiu prejudicado? Pois é... temos duas opções nesses momentos: afirmar mais o senso de justiça própria da pessoa confirmando a impressão que ela já está em sua alma de que é vítima da outra parte ou adotar uma postura mais racional, trazendo a pessoa a uma reflexão o mais imparcial possível, fazendo com que ela possa criar empatia pela outra parte e, com isso, busque a conciliação. Às pessoas que adotam esta primeira postura o meu antigo gerente concedia o apelido de "incendiários" e às pessoas que adotam a segunda ele apelidava de "bombeiros".
Se pararmos para pensar, o incendiário é alguém que, acima de qualquer coisa, quer colocar fogo em tudo, destruindo e queimando o que estiver por perto. Olhando no dicionário, o incendiário é:
"adj. Que é próprio para incendiar; que é destinado a provocar um incêndi+o: projétil incendiário.
Fig. Próprio para inflamar os espíritos: discurso incendiário.
S.m. Autor voluntário de um incêndio.
Fig. Aquele que excita à sedição, à anarquia."
Por outro lado, o bombeiro é aquele profissional (aliás, o incendiário é uma amador por mais especializado que seja, afinal, incendiar não é reconhecido como trabalho ou profissão por não ser algo construtivo) que dedica o seu tempo a apagar incêndios, destruições e salvar vidas em situação de perigo. De acordo com o mesmo dicionário, bombeiro é:
"s.m. Homem que pertence a uma organização para combater incêndios e outros sinistros.
Bras. (RS) Espião ou explorador de campo inimigo; indivíduo que observa atentamente os atos de outrem."
Ou seja, em alguns lugares, o termo "bombeiro" tem até um significado adicional que é de investigação do comportamento alheio. Mas, em essência, o bombeiro é mesmo um salvador de vidas.
E nesses dias tem acontecido situações em que Deus tem me dado a oportunidade de escolher qual postura adotar. E eu sei (diferente de como era no passado) que todo cristão foi chamado para ser bombeiro, doador de vida, imitador de Cristo que é o Salvador. Ou seja, não cabe para um cristão a postura de incendiário. O cristão, quando está de fato buscando a Cristo, busca resgatar, salvar, construir e não destruir algo ou alguém (ou ambos).
Deus tem me dado oportunidade nos últimos dias de agir diferente: uma irmã da igreja que veio conversar comigo sobre determinada situação em que se sentiu rejeitada; uma amiga que passou por um processo seletivo em que a condução da avaliação deixou a desejar; colega de trabalho que combina uma coisa e manda por escrito algo em tom de cobrança como se não tivéssemos acabado de conversar; um amor que, embora correspondido, não esteja maduro para prosseguir.
Não foi em todos os casos acho que agi da forma correta, e lamento por isso. Inclusive já pedi perdão a Deus mas isso nem sempre é o suficiente para cancelar as consequências que acho que são o mais difícil de lidarmos no fim das contas. Conto com a misericórdia Dele para poder suportar com graça as consequências que virão.
Mas, mesmo assim, Deus tem mudado a minha visão e o meu contexto: entendo hoje que ser incendiário é ser rebelde. Ou seja, ser incendiário é ser irreverente (e isso, que eu achava que era bom, entendi que não é nada legal porque o irreverente é alguém que simplesmente não tem reverência, e portanto, respeito, por autoridades). Então, ser incendiário não é bom. E ponto.
Luto contra essa natureza incendiária todos os dias. Paulo tinha um espinho na carne como ele mesmo descreve em 2 Coríntios 12:7-9: "E para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo". Acho que essa natureza minha, que por criação e experiência é incendiária, é o espinho que estou enfrentando no momento. Mas, ao contrário de Paulo, o Senhor tem me ajudado, dando-me a opção de tirá-lo e auxiliando a curar a ferida que este espinho produziu.
Então, eu declaro: Larguei a minha carreira de incendiária! Às vezes eu ainda esqueço disso e no calor da emoção acabo provocando uma chama ou outra. E a minha oração é que essa crise de identidade em que esqueço quem verdadeiramente sou em Cristo se vá para sempre, passando a ser apenas uma lembrança viva de como é ruim viver essa vida dupla, fazendo-me criar empatia em relação ao próximo, amando-o como Cristo amou.
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Parabéns pelo texto, já pensou em fazer uma pregação sobre ele a alguém?
ResponderExcluirObrigada! Deus é bom e coloca pessoas ao nosso redor sempre para que possamos aprender mais e tomar posições como as que Cristo tomou. Pregar sobre isso? Hum... já compartilhei algumas vezes mas nunca estruturei uma pregação. Deus sabe todas as coisas e na hora certa isso pode se tornar de fato uma pregação ou o tema de um livro. Aguardemos... :)
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