Não sei bem porque, mas comecei a ouvir músicas de uma cantora chamada Fernanda Brum. Eu já tinha ouvido falar dela e não via nenhuma graça naquilo que ela cantava. Pelo contrário, achava muito dramático, muito exagerado, até meio forçado e muito depressivo. Se fosse para classificá-la, eu a chamaria de "Elis Regina Gospel". E cá para nós, eu detestava a Elis Regina (tudo bem, a culpa não era dela, e sim das músicas que meus pais colocavam aos finais de suas brigas na minha infância, que entravam no ambiente para preencher o vazio da falta de perdão e de entendimento na casa).
Só que, em um determinado dia, mais recentemente, não sei como ou porque, comecei a ouvir uma música dela. Na verdade, como passei a enviar louvores diariamente para um grupo de amigos, eu precisava abrir os meus horizontes musicais nesse sentido, já que chega uma hora em que tudo o que se conhece já foi mandado e é importante (pelo menos para mim) sempre variar. E aí, decidi ouvir um pouco do que ela cantava.
Eu já conhecia uma canção que fala "Espírito Santo, ore por mim, leve pra Deus tudo aquilo que eu preciso" e, embora a letra seja linda, eu mesma só a cantava em momentos de total desespero (o que graças a Deus é raro). Fora essa música, eu conhecia uma outra que ela canta com outra cantora e chama-se "Amigas" e como eu nunca fui muito boa em manter amizade com mulheres, a letra soava bonita mas não era bem verdade para mim.
Enfim, nesse fatídico dia, eu comecei a ouvir um DVD dela chamado "Cura-me". Eu já tinha ouvido uma parte da música título do álbum mas não tinha prestado atenção na letra, já que o que ouvi achei bem dramático e desisti. Mas, naquele dia, percebi que tinha algo mais naquela mulher. E comecei a ouvir o tal DVD. E nele, praticamente todas as faixas falam de cura emocional. Em cada uma das músicas a cantora aborda um tipo de sofrimento, abuso, dor ou trauma que boa parte das mulheres já passou.
E de repente, soube de algo que me fez ver tudo aquilo de modo completamente diferente: todas as letras foram escritas por ela, e são sobre situações que ela viveu. E durante a gravação, ela diz que muitas pessoas a questionam sobre essa sua postura de se expor desta forma, falando de coisas tão íntimas e tão profundas da vida e das emoções dela. E a resposta foi o que mais me encantou: ela explicou que é dessa forma que ela mostra que também é gente, e que é assim que ela é usada por Deus para alcançar o coração de outros.
E não foi que me deu uma tremenda de uma felicidade de ouvir aquilo? Quantas vezes eu já ouvi pessoas dizendo que eu não posso me expor da forma como faço porque simplesmente não é sábio expor tanto assim as emoções, os sentimentos e os acontecimentos? Quantas vezes já me sugeriram, pediram e até recomendaram mesmo que eu mudasse e falasse menos das minhas experiências ou tentasse auxiliar menos as pessoas, levando em consideração que o meu jeito é direto demais ou explícito demais?
Ouvindo as músicas, notei que ela pede ajuda cantando, ou seja, ela canta para clamar. E ao mesmo tempo, ela canta declarando vitória sobre tudo o que ela está vivendo de dificuldade, e parece que conforme a gente vai cantando com ela, a gente vai também passando a crer que aquilo tudo acontecerá porque Deus assim o fará acontecer. Das músicas que ouvi, acho que só uma ou duas são de vitória, contando uma benção recebida; a maioria é de clamor e intercessão.
Sentindo-me livre (Senhor, perdoe-me a pretensão da comparação), senti-me igual a ela. Eu escrevo do que vivo, e muitas vezes escrevo pedindo ajuda, já que falando eu não sei pedir, e nem saberia a quem recorrer de fato, a não ser Deus (não porque eu não tenha pessoas para me ajudar mas porque quase sempre porque escolho a pessoa errada para pedir). E também escrevo agradecendo para compartilhar (com outros que queiram saber) aquilo que Deus tem feito em mim, por mim ou através de mim em Seu infinito amor.
Estou começando a criar referenciais femininos positivos. MInha mãe é um referencial positivo mas não no quesito "expressão interior" já que, embora seja muito "popular" (minha mãe cumprimenta e conhece o bairro todo e faz contatos sempre por onde passa), ela tem uma habilidade reduzida (e me parece que pouca disposição também) de falar daquilo que está dentro dela. Minhas irmãs são em partes também mas elas tem um jeito e uma visão que é diferente da minha, e isso acaba fazendo com que o que funciona para elas não funcione para mim. E acabaram-se os meus referenciais femininos positivos de convívio próximo.
Por outro lado, vejo Deus respondendo minhas orações e me concedendo coisas que eu nem mesmo pedi propriamente. Mulheres como essa cantora me inspiram a fazer algo similar: expressar a minha fé, as minhas convicções e o meu caminhar diário com Deus através da arte em geral. E esse certamente é um meio de dar uma nova direção ao meu caminho, de modo que eu possa contar na medida certa tudo aquilo que Deus quer que eu diga.
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