Outro dia tinha um grupo de adolescentes da igreja vendendo saquinhos de bombons e trufas para arrecadar dinheiro para que todos de seu grupo possam ir em janeiro a um retiro de final de semana. O objetivo do retiro é ter momentos com Deus e com os seus irmãos e amigos que foram convidados e a iniciativa, para mim, era nobre: nem todos tem recursos para isso mas todos se juntaram e como grupo decidiram fazer algo para que ninguém ficasse de fora.
Sendo assim, os meninos e meninas encontraram alguém para os ajudar a fazer os doces e eles, em grupo, com um adulto responsável, saem pelas ruas vendendo os doces nos momentos de folga, de modo que ninguém ficou sem fazer nada e todos acabam engajados na sua medida para o bem comum.
Embora eu não coma chocolates, eu respeito muito essa iniciativa por vários motivos e, principalmente por conta do sentimento de coletividade, resolvi ajudar. Comprei então oito saquinhos de bombons pequenos (o que me deixou com trinta e dois bombons) de algo que, de imediato, eu decidi distribuir no escritório em que trabalho. E foi o que decidi fazer. Mas a repercussão foi diferente do que eu esperava.
Na empresa existe uma tradição de que a pessoa compra uma caixa de chocolate e distribui aos colegas no dia em que faz aniversário. Por causa disso, algumas pessoas já vieram me dar, além do agradecimento, um abraço de felicitações pela data. E eu tive que segurar o riso e explicar que meu aniversário é em agosto, o que deixou a grande maioria das pessoas confusas em relação ao motivo do mimo distribuído. E eu expliquei que estava dando um chocolate porque quis. Alguns não acreditaram, outros acharam estranho e agradeceram, alguns riram da explicação (como quem não acredita mas deixa de lado a discussão) e um simplesmente não entendeu, o que me fez explicar quatro vezes o motivo até que ele realmente entendesse que eu simplesmente comprei e dei bombons porque deu vontade.
O que inicialmente foi engraçado aos poucos foi se tornando para mim estranho. Percebi que as pessoas não estão acostumadas a serem presenteadas sem motivo e que, quando isso acontece, elas simplesmente tem dificuldades de aceitar que o presente não tem nenhum outro propósito adicional além de só presenteá-las mesmo. Isso me ver o quanto o paradigma de que para gastar dinheiro é necessário que exista um bom motivo, e normalmente o "bom motivo" deve ser algo que traga um benefício na mesma moeda.
Outra coisa que ficou clara foi a relação entre causa e efeito ou a tal meritocracia, afinal, se não é meu aniversário (e portanto eu não tenho uma "dívida", mesmo que com a tradição), por que a pessoa estava recebendo aquele agrado? Espera-se que presentes venham como agradecimentos por algo já feito. Por fim, vejo que é mais fácil acreditar que nós é que devemos plantar algo bom para receber algo bom em troca, apesar de acreditarmos que coisas ruins acontecem conosco mesmo quando fazemos algo bom.
Não sei dizer o quanto as pessoas ficaram confusas com o doce mas eu confesso que para mim, o que inicialmente era uma recompensa (deixar o dia das pessoas mais alegre) aos poucos foi me revelando o quanto as pessoas carecem de pequenos atos de gentileza; daquele tipo de gentileza que gera apenas um sorriso em troca e que, no fundo, mudam tudo para que as faz.
Não sei se o bombom mudou a vida de alguém. Provavelmente não. Aliás, mudou: a minha. Fico a pensar que, além de fazer mais coisas desse tipo, pude ver que existe muito espaço para quebrar paradigmas como esse simplesmente pelo prazer de fazer com que o dia de outro seja melhor. Ou seja, embora muitas vezes eu me sinta mal e sem a menor vontade de estar aqui neste lugar por alguns motivos, esta é uma terra fértil e que está sedenta por gotas de amor no dia-a-dia. E isso explica porque Deus ainda me mantém aqui.
Bombons à parte, fico feliz porque Deus me dá a oportunidade de fazer a diferença. Mais ainda porque agora sei que posso criar iniciativas "privadas" para tornar o dia de outros mais feliz, mesmo que isso nada tenha a ver com a empresa ou o trabalho em si, mas pode trazer benefícios para todos ao redor. E assim posso cumprir o papel para o qual Cristo me chamou: ser diferente da multidão.
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