Nestes dias estamos em jejum para que possamos ser curados nos nossos sentimentos. O tema em si é relevante para todo ser humano, já que todo mundo em algum momento acaba tendo um sentimento ruim ou é afetado por algo que mexe com a maneira como as coisas se organizam no âmbito sentimental dentro da gente. E nestes dias, Deus começou (com nossa autorização) uma enorme faxina interna.
Curiosamente, o que mais tenho vivido nestes dias são situações que me remetem a contextos que me assombraram e me causaram grandes feridas no passado. Uma delas foi quando me dei conta de que, para cumprir um desafio colocado pela minha liderança, eu passei a sair de casa maquiada e com brincos em todo o período do jejum, mesmo que seja para ir à feira ou levar a minha filha à escola. Uns dias depois desse processo começar, lembrei-me do quanto a minha identidade como mulher foi afetada quando, durante o período em que estava casada, era ferida em relação à minha capacidade de me arrumar, já que o meu então marido dizia que eu não sabia me arrumar e estava sempre feia, não importando o que eu escolhesse para usar.
Agora de noite passei por mais duas situações. A primeira é recorrente: a minha mãe, tentando ajudar, acaba cuidando de coisas que não lhe dizem respeito e, sem querer atrapalha, como a frequência com que a minha filha escova os dentes ou se eu já preparei o lanche dela para a escola. E toda vez que ela faz isso, ao invés de me sentir ajudada, dentro de mim eu escuto um "incompetente" ou "insuficiente", porque a minha sensação é de que eu não sei fazer sozinha aquilo que todas as mães do universo minimamente capazes conseguem... o que, por fim, confirma a "profecia" do pai da minha filha, que por diversas vezes dizia que eu sempre fui uma péssima mãe e sempre seria. Claro, ela não fala com essa intenção e, mesmo eu tendo explicado diversas vezes o efeito que isso causa, ela quase não consegue evitar fazê-lo. Só que nestes dias, eu entendi que o que tem que mudar é como me sinto com isso, independente dela continuar fazendo isso ou não. Hoje, graças a Deus, consegui não dizer nada e apenas parar, pensar, processar (com a cara não tão alegre, mas já foi uma evolução já que eu não protestei e nem disse nada) e dizer que olharia o que ela estava querendo, mesmo interiormente pensando que ela não tem rigorosamente nada a ver com o assunto e lutando com o sentimento de incompetência que a situação me traz.
A segunda situação remeteu-me a outra ferida causada também por esse homem: ao pedir a opinião da minha filha sobre algo, ela usou um termo que, dependendo do contexto, poderia expressar exatamente a opinião oposta do segundo sentido que poderia ser adotado. Como eu estranhei e não tive a certeza da posição que ela estava adotando, eu perguntei para confirmar e ela me tratou como se eu fosse uma completa ignorante e, quando argumentei que preferia tirar a dúvida a partir de uma premissa errada, ela simplesmente decidiu encerrar a conversa por falta de condições de conversar. Na prática, ela em poucos gestos, repetiu o discurso de seu pai que, há anos atrás, disse que não conversaria mais comigo (a não ser amenidades) porque eu era burra e não oferecia condições de um diálogo razoável. E eu fiquei olhando para ela, virando as costas para mim no meio da frase, absolutamente em choque... só que desta vez entendi o que estava acontecendo: Deus permitiu que eu revivesse essa situação em outros moldes para, não só liberar perdão para o pai dela, como também para avaliar a coisa toda de outra perspectiva.
No fundo, em ambas as situações, eu ouvi mentiras. E eu sei que são mentiras não porque eu seja uma pessoa brilhante ou extraordinária, mas porque sei que Deus dá talentos a cada um, e o meu, por incrível que pareça, é aprender. Além do mais, Deus não nos coloca em situações em que não possamos ser supridos pela Sua Graça e protegidos pelo Seu poder (ou vice-versa), o que significa que Ele nunca me permitiria ser mãe se Ele não colocasse à minha disposição instrumentos para crescer na função e melhorar a cada dia dependendo Dele. Portanto, são mentiras.
Mas, em que momento consegui identificar essas mentiras (que por sinal por anos foram como que verdades para mim)? Em muitos casos, como o que acabou de acontecer, foi possível porque, com a mente limpa e renovada pela palavra de Deus, eu pude viver novamente a situação e agora, ao invés de me deixar dominar pelo sentimento, permiti que os princípios e pensamentos de Deus agissem em primeiro lugar, me permitindo limpar o coração e me manter livre (uma boa dica sobre o quanto isso é necessário é ler Gálatas 5:1).
Ou seja, tem coisa que não adianta teorizar: só vamos mesmo notar que o bicho papão não passa de uma sombra no carpete quando chegarmos perto e colocarmos a cara e a coragem em ação. Algumas coisas até conseguimos nos livrar ouvindo a Verdade; outras, só vivendo a Verdade.
Durmo hoje com o coração mais leve. Por mais que tenha sido dolorido ter que lidar com esse tipo de reação da minha própria filha (e ao meu ver sem ter merecido), vejo que isso me afeta porque eu ainda nutro expectativas sobre como ela vai me ver, como vai me tratar e como vai lidar com as coisas. Durmo aliviada porque sei que, embora não esteja no fim do processo, ele vai muito bem, obrigada, já que as coisas estão caminhando e que Deus tem me dado oportunidades de derrubar muros que antes eram absolutamente intransponíveis para mim. E, assim como a mulher virtuosa de Provérbios 31, posso olhar para o futuro e sorrir, simplesmente porque o Senhor está lá, a despeito de qualquer circunstância atual.
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