Uma vez assisti a um filme chamado "Comer, Rezar, Amar" e, embora tenha muitas coisas para falar sobre ele, uma delas me passa pela memória neste momento: em uma determinada cena, Liz (a personagem principal da história) entra com uma amiga em uma loja de lingerie e vê uma linda camisola azul; a vendedora e a amiga sugerem que ela compre o objeto de desejo, ao que ela responde perguntando a si mesmo: "per chi?" (que em português significa "para quem").
Quantas vezes eu ouvi que é importante uma mulher se arrumar, sair de casa penteada, perfumada ou ainda de unhas pintadas sem lascas, roupa elegante, que valorize o que ela tem, sem disfarçando o que não é tão bom, e ao mesmo tempo guardando para a privacidade o que ela tem de melhor? Não sei dizer quantas vezes me disseram que, ao sair de casa, é importante que as pessoas vejam quem sou através daquilo que expresso com minha aparência, e que se quero que as pessoas pensem que sou uma vencedora, que na verdade, preciso me vestir como uma. Não sei também contar quantas vezes, de fato, me contaram como é que uma vencedora se veste... e quantas vezes também eu me questionei se em algum momento na minha vida eu me pareceria com uma.
Há um tempo atrás fui desafiada não sair de casa sem maquiagem, e sempre sair usando salto alto e roupas combinando, cores bonitas, brincos e coisas que me valorizam. Já passei por esse tipo de desafio antes e já assisti centenas de episódios de programas de televisão em que as pessoas passam por transformações radicais no exterior que acabam produzindo mudanças interiores. Mas não sei quantas vezes eu pensei que aquilo não era comigo porque eu não precisava ou porque eu não achava que faria sentido para mim...
Desta vez, algo diferente aconteceu: andar assim me causou uma reação diferente do que eu esperava, e as pessoas em sua grande maioria notaram a mudança, e todas que se manifestaram disseram que foi para melhor. E foi muito curioso passar vinte e um dias ouvindo o quanto eu estava bonita ou elegante e como eu deveria fazer aquilo mais vezes. Isso me fez pensar, e pensar...
Ao final disso tudo, e com algum tempo passado, entendi que para mim a coisa funciona assim: o exterior expressa o que tenho por dentro. Portanto, não consigo me vestir bem quando as coisas dentro de mim não estão legais. Nunca gostei de mentir e acho que quem me conhece sabe o quanto eu sempre fui muito mais transparente do que o conceito geral considera razoável. Mas, de verdade, isso é algo que eu vivi a vida toda e decidi que não pretendo mudar. Sendo assim, se quero ser bonita, o que precisa mudar é o que está por dentro...
Com essa experiência, entendi que quando fazemos algo que depende de algum fator externo, quando esse fator não existir mais, o que construímos passará. Sendo assim, se eu comprar um par de brincos por causa de alguém que achou que eles ficam bem em mim ou porque eu acho que isso vai fazer os olhos de alguém brilhar ao meu ver, quando essa pessoa não estiver mais comigo, seja porque motivo for (inclusive morte), o sentido daquilo que decidi usar se vai com a pessoa. E se eu dependia disso para me sentir bonita, então, o meu senso de beleza morre com aquele que o gerou. A não ser, é claro, que isso esteja pautado em algo eterno...
Não custa nada agradar aos outros. Aliás, é muito gostoso poder ver a satisfação de alguém que te vê e fica feliz com você, seja por uma ação sua, por um sentimento expresso, ou por uma retribuição que você faça ou honra que você preste a ela. Mas isso não pode definir o seu valor ou a sua identidade. Até porque, quem você é te acompanha por toda a sua vida, e só muda quando você decide mudar, ou permite que seja mudado.
Então, hoje, quando vejo coisas bonitas nas lojas, e me pego pensando algo do tipo "se eu comprasse, para quem usaria?", eu sei que seria para mim mesma. Não porque me acho a mais linda ou porque quero me agradar, mas porque aquilo poderia ser uma expressão exterior do quando Deus me satisfaz com a identidade que Ele tem forjado em mim. Só que eu sei também que aquela peça não me deixa mais bonita, ou que não tê-la não me deixa menos bonita... eu não dependo mais disso para ser quem sou, e para ser o melhor que posso ser. Parecer bonita é, para mim, não mais uma prisão, um meio de ser apreciada por outros. Parecer bonita (parecer no sentido de expressar, e não de forjar algo que não sou) é um meio de expressar gratidão a Deus e a quem convive comigo por tudo o que sou, o que tenho e o que posso vir a ser e ter. E isso é liberdade...
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