Agora de tarde estou terminando de ler um livro que comecei na semana passada sobre escolhas. Na verdade, o livro, que chama-se "Deus já escolheu. E você?", do pastor Celso Defavari, fala sobre aquilo que Deus já escolheu por nós mesmo antes de nascermos e também sobre o que Deus não escolhe, permitindo que nós façamos nossas escolhas e, portanto, colhamos aquilo que plantamos com cada escolha feita.
Cheguei em um ponto do livro em que o pastor fala que perdoar é uma escolha nossa. Na ótica de Deus, o perdão não é exatamente uma opção, porque de fato fica claro que é perdoado por Deus quem perdoa os que estão à sua volta. De qualquer modo, essa é uma das coisas que Deus permite que escolhamos. E cá pra nós, uma das mais complicadas, eu acho.
O ponto é que, perdão tem a ver com liberdade. Olhando friamente, perdoar é um ato que nada tem a ver com sentimento, mas com decisão de querer ir adiante. Aliás, o perdão é um ato individual e não necessariamente tem mão dupla. Inclusive, o perdão não depende do que o outro faz: deve depender do que nós queremos para nós. Portanto, se queremos ser perdoados, devemos perdoar para que semeemos a mesma medida que queremos receber. Manja aquele lance de fazer ao próximo o que deseja para si?
Mas o que raios é perdão? Quem perdoa não finge que nada aconteceu. Quem perdoa não acha que a pessoa estava tomada de uma insanidade momentânea e, se iludindo, considera que a pessoa que lhe ofendeu ou prejudicou não quis fazer isso (embora em alguns casos é exatamente o que acontece). Perdão é o ato de entender que a pessoa fez aquilo que entendia como melhor para o momento e que, mesmo que não tenha te amado naquela circunstância, aquilo que ela fez simplesmente não te aprisiona mais, porque você escolhe abrir mão da mágoa e deixar que Deus cure seus sentimentos para que a vida prossiga leve.
E quando a gente fala de perdão, muitas vezes, a consequência, claro, é reconciliação... hum... peraí: será que é mesmo? O que dizer então dos milhares de relacionamentos impróprios destruídos que infelizmente terminaram da pior forma possível? Devem necessariamente serem restaurados?
Um trecho da Bíblia sempre me deixou meio confusa sobre isso mas, hoje, ao ler esse versículo de novo, entendi a coisa de uma forma mais abrangente. O trecho é Lucas 17:3-4, que diz "Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se por sete vezes no dia, pecar contra ti e sete vezes, vier ter contigo, dizendo: 'estou arrependido', perdoa-lhe". Vamos ao que entendi:
1) Aqui fala de relacionamento entre irmãos. Ou seja, falamos de pessoas que possuem um relacionamento. Achei isso importante porque eu mesma sempre me achei no direito de repreender todo mundo que estava errado (ou que eu achava que estava), e na verdade, a Bíblia fala para que façamos ressalvas aos irmãos, ou seja, àqueles com quem temos intimidade. Isso significa que vamos aceitar qualquer coisa? Não, significa que quando não tivermos intimidade com a pessoa, devemos orar confiando que Deus mostrará quem precisa de mudança e amadurecimento: a outra pessoa ou eu. E isso também significa que se a pessoa precisar de mudança, Deus mesmo criará situações para que ela reveja sua postura;
2) Continuando, o trecho fala que se o irmão se arrepender, devemos perdoar. Até aí, nenhuma novidade. Mas, e se ele não se arrepender? Bom, devemos perdoar do mesmo jeito, porque afinal de contas, perdão tem tudo a ver com o nosso nível de maturidade ou visão e não o da outra pessoa;
3) Apenas sete? Jesus depois fala sobre perdoarmos setenta vezes sete, o que não significa um número fechado, mas significa que precisamos ter disposição de perdoar quantas vezes for necessário;
4) Ou seja, quando a pessoa erra mas se arrepende, ela está tentando fazer diferente. Isso quer dizer que não podemos desistir dela. Alguém lá atrás (ou alguém hoje em outro aspecto da nossa vida) não desistiu e não desiste de nós, portanto, não faz sentido adotarmos postura diferente dessa. Portanto... sigamos em frente até que as coisas mudem, não pelo nosso esforço, mas até que a pessoa realmente se renda ao agir de Deus para superar a dificuldade e parar de errar naquele sentido;
Mas, e quando à reconciliação? Onde fica? Bom, só tem reconciliação quem em algum momento esteve junto do outro. Portanto, em primeiro lugar, é importante que procuremos lidar bem com todos ao nosso redor, mas não vamos nos aliançar com qualquer pessoa. Ninguém quer dividir seus sonhos, por exemplo, com alguém que sabemos que não só não nos quer bem como também fará todo o possível para nos prejudicar. Isso quer dizer que essa pessoa não merece perdão. Claro que não! Ou claro que sim, já que ninguém humanamente falando merece o perdão (nem nós mesmos), sendo o ato de perdoar um ato inspirado por Deus. Na prática, precisamos perdoar do mesmo jeito.
Então, chego à conclusão de que, na verdade, o perdão é o remédio, mas deveríamos mesmo focar na prevenção. Nos relacionarmos corretamente com as pessoas é fundamental: conhecermos o outro antes de entregarmos todos os nossos sonhos, desejos e segredos faz todo sentido. Isso não quer dizer que não precisamos amar o outro (ou seja, doar a nossa atenção, o nosso cuidado, o nosso carinho)... mas quer dizer que aquilo que é nosso precisamos avaliar se a pessoa com quem queremos dividir tem o mesmo espírito e mesmo objetivo que nós.
Magoar o outro, embora não devesse acontecer, faz parte. Perdoar e pedir perdão deveria ser tão ou mais natural do que magoar ou errar com o próximo. Fazer alianças, de fato, é que deveria ser raro, e deveria ser um ato feito com consciência e com calma, assim como comer um quilo de sal. Se assim o fizéssemos, as nossas vidas seriam muito mais leves e muito mais simples, até porque não as complicaríamos logo de cara.
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