Hoje o mundo ficou menor...

Onze meses atrás cheguei na Itália, terra de parte dos meus antepassados. Foi uma mudança radical, na qual deixei para trás uma vida inteira construída, vendi meu carro, meu apartamento, dei as minhas coisas, larguei o convívio dos meus amados familiares e de grandes amigos por causa de um sonho: viver o propósito de Deus para a minha vida, que no meu caso, é viver a vida missionária iniciando igrejas em vários pontos do mundo. Deus, em Sua maravilhosa graça e cuidado, decidiu começar comigo do começo: das raízes italianas, de onde meu bisavô saiu, de onde meu nome (Scrivano) vem, e de tantas outras histórias... e daqui, eu sabia que seria o primeiro passo para o resto do mundo.

E claro, isso envolvia também o que Ele tinha plantado dentro de mim desde a infância: sou italiana! Mesmo antes de saber como funcionava o processo de cidadania, mesmo antes de saber o que eram as leis (quanta realidade jurídica uma criança de oito anos pode ter?), eu já dizia e sentia que era italiana.

Com o passar dos anos, muitas coisas foram matando essa identidade e esse sonho dentro de mim, até que em algum ponto, como que dizendo que Ele tinha "perdido a paciência" com toda essa falta de vida dentro de mim, Ele me fez viajar para fora do Brasil a primeira vez (em 2009), e o primeiro lugar que eu pisei na ocasião foi em Milano. Hoje entendo que Deus queria com aquela viagem (absolutamente impossível) me provar que sonhar vale sim a pena, e que Ele sonha muito mais do que nós, e muito mais além...

O processo pelo reconhecimento da cidadania começou há quase dois anos, levantando o primeiro de vários documentos necessários... idas e vindas, correções de certidões em cartório, descobertas da história da família, conversas reveladoras de diversos tipos, e muitas emoções... até que conheci Spezzano della Sila, e com isso a origem da minha família, pessoalmente. Ali Deus me permitiu realizar mais um sonho: cruzar a Itália inteira... foi demais!

Conhecer o prefeito da cidade (que por sinal é um parente distante) do modo mais surreal, conseguir cada certidão (com a ajuda fundamental dos meus tios que me amaram profundamente quando mais precisei), contar com a ajuda de pais e amigos tão amados nesse processo de garimpagem, com o apoio e incentivo dos irmãos que nunca me deixaram desistir... foi mesmo uma cruzada sensacional!

E hoje, depois de 11 meses de Itália, mais de 20 vezes de idas e vindas ao comune de Milano, mais de 100 dias de espera pela confirmação da residência... um dia que se torna cada vez mais importante por tantas coisas lindas que Deus já fez, se torna também o dia em que sou reconhecida italiana. Aliás, eu e minha filha, juntas, começando uma nova identidade.

Só eu que vejo isso como algo profético? Parece que não... Ouvindo o áudio de uma amiga que me mandou os parabéns pela conquista (que viveu essa emoção há poucas semanas), o comentário foi que agora, o mundo é nosso. E sabe que, de verdade, o sentimento é mesmo esse? O mundo hoje ficou menor: as distâncias encurtaram, as portas se abriram, e eu que achava que um documento europeu não era nada de tão incrível assim, de repente, me traz essa convicção de que uma nova fase espiritual na minha vida começa agora. Começo a viver de modo mais profundo o fato de saber que Deus sonha coisas muito mais profundas, muito mais intensas e muito mais incríveis do que podemos imaginar, e que todas elas são ligadas ao propósito Dele para nós, que no fim das contas, consegue ser muito mais sensacional do que conseguiríamos planejar. De fato, Ele é o Deus do querer e do efetuar, e essa experiência para mim é a comprovação disso sobre a minha vida. E mais: agora sinto que, por mais clichê que possa soar, é só o começo. O mundo ganhou uma outra dimensão, e as portas do inferno estão mais frágeis diante não do meu documento, mas da fé que o Meu Papai, que sonhou com tudo isso e se empenhou pessoalmente para que esse sonho se realizasse, plantou e vem regando dentro de mim. Essa fé é o que nos leva adiante no dia mau, e nos faz gratos no dia bom. E é essa fé que se transforma em experiência com o passar do tempo, de que somos acima de tudo amados, que nos traz a alegria necessária para que, através de nós, mesmo sem palavras, o Espírito Santo aja e mude a vida dos que nos rodeiam. A Ele toda a honra, toda a glória e todo o louvor! O mundo ficou menor porque, hoje, ele passou a caber nas palmas das mãos de Deus para mim. Mais do que nunca, hoje eu anseio pelo cumprimento da Sua palavra, que me diz em Isaías 62:10: "Passai, passai pelas portas; preparai o caminho ao povo; aplanai, aplanai a estrada, limpai-a das pedras; arvorai a bandeira aos povo.

Ontem brasileira, hoje italiana... mas desde 2010, cidadã dos céus!