Domingo à noite fui assistir à pregação de um pastor pelo qual recentemente ganhei grande admiração. Ele está com sua família visitando minha cidade neste mês e veio pregar em uma igreja bastante familiar para mim e, juntando o útil ao agradável, lá fui eu.
O tema da pregação era exatamente o título de hoje e, diferente do que eu havia ouvido antes (embora muito próximo do que eu sempre acreditei), o foco dele não é em enfrentarmos grandes circunstâncias batendo no peito e mostrando a nossa “macheza”.
O texto usado foi 2 Reis 6 em que é contada a história de Eliseu com o seu moço (naquela época, os serviçais eram denominados desta forma) estão passando por um local de guerra e o rapaz, pouco experiente na fé, fica com medo por ver que o povo inimigo está em grande número e que eles estão apenas em dois. Eliseu então, compadecendo-se do rapaz, pede a Deus que abra-lhe os olhos e então o moço vê a quantidade de carros e cavalos de fogo em derredor que o Senhor dos exércitos providenciou para protegê-los.
O texto em si é emocionante mas a reflexão a seguir me deixou pensativa: o pregador falou sobre termos então o que ele chama de “fé corajosa”. Fiquei intrigada por alguns motivos:
1) Acredito que, por essência, toda fé é corajosa, já que fé é acreditar naquilo que não se vê ou aquilo que ainda não é (mas cremos que virá a ser);
2) Hoje em dia, em um mundo tão imediatista, ter fé parece ser encarado como um ato de coragem, independente do alvo de sua devoção mas principalmente quando falamos de fé em Cristo;
3) Ouço muitas pessoas falando que não querem ter filhos porque não tem coragem de colocar alguém em um mundo tão cruel... considerando isso, nós pais, ao decidirmos ter nossos filhos, exercitamos essa fé de que tudo será bom com coragem;
4) Estatística é, para mim, uma fé corajosa... afinal, basear suas decisões na esperança de que o passado se repita, principalmente em um mundo em constante mutação, para mim é muita coragem... e haja fé para viver desse jeito;
5) Acho que todo mundo passa por pelo menos uma fase de fé corajosa: a adolescência. Essa é a fase em que acreditamos que podemos mudar o mundo (embora milhares que vieram antes não tenham conseguido) e que o que é ruim só acontece com os outros (alguns inclusive não superam essa fase e vivem essa “adolescência” por muitos anos depois
De qualquer forma, vivemos mesmo em um contexto em que, para ter fé (e principalmente exercitá-la) devemos ser corajosos.
Neste sentido, ele mencionou algo que fiquei depois pensando e cheguei à conclusão de que eu não tenho essa tal fé que ele mencionou:
- Força de vontade de mudar crendo que as minhas atitudes, se diferentes, vão produzir resultados diferentes, embora seja proveniente de um raciocínio lógico, exige realmente grade fé, afinal, acho que a maioria de nós (pelo menos eu sou assim) em algum nível tem o “complexo de Gabriela”;
- Determinação para amar a si mesmo de modo que possamos saber como amar ao próximo exige grande fé e muita coragem: comer corretamente, abrir mão do que nos parece agradável em favor da conservação da saúde, deixar a preguiça de lado e fazer o que é mais difícil mas é melhor para nós... a lista é extensa e a coisa fica feia quando pensamos quais são as coisas que realmente praticamos e pior, qual é a nossa verdadeira motivação em praticá-las;
- Escolher amar o próximo... nossa, como é complicado isso!!! Deixar de responder àquela piadinha idiota, mais velha do que a minha avó (que diga-se de passagem já faleceu há uns vinte anos), exige muuuita fé corajosa. É muito mais fácil retrucar do que realmente colocar-se no lugar daquela pessoa que fez o gracejo e entender que ela simplesmente não tinha nada melhor para dizer e que, no interior dela, ela fez aquilo entendendo que era o melhor que podia fazer por ela mesma (embora não faça o menor sentido achar que fazer piadinhas ofensivas ou que sabidamente não colaboram com a auto estima alheia e/ ou com a paz de espírito em algum nível vai te trazer conforto de alguma espécie). Isto posto, é terrível deixar passar sem um xingozinho pequeno aquele mané que te fechou no trânsito ou foi estúpido e te empurrou no metrô, mas é o certo a se fazer. Somos imediatistas e esquecemos que, na verdade, o Senhor nos chamou para sermos sal e luz e não pimenta e escuridão para os outros;
- Decidir ir além mesmo quando as circunstâncias parecem não favorecer: é necessária uma fé muito corajosa para deixarmos de lado a reclamação e colocarmos em nossa vida a adoração e o louvor. É muito mais fácil reclamar do que está acontecendo: somos programados para isso. Difícil é reconhecer a mão do Deus altíssimo mesmo nas situações mais delicadas ou doloridas para nós. Pior ainda é quando simplesmente não conseguimos enxergar adiante, ou como diz o autor Tommy Tenney em um de seus livros, encontrarmo-nos no elevador da vida em meio àquele mar de joelhos e sacolas como se fôssemos uma criança de três ou quatro anos de idade.
- Crer que na verdade existe um futuro sim, e que Deus vê além de todas as coisas que possamos imaginar porque Ele é maior do que todas elas, simplesmente porque Ele as criou. Isso significa que eu, por mais que tenha informações sobre o passado e sobre o que está acontecendo no presente, e por mais que saiba quais são as tendências no futuro, ainda nesse momento não saberei o que de fato virá a acontecer mas, Deus, o Grande Artista, sabe sempre todas as coisas e a vontade Dele é realmente perfeita e agradável. Isso é duro demais às vezes só que faz todo o sentido. Com isso, nunca seremos perfeitos e sempre erraremos e aí, para ter sucesso (não o conceito mundano e terreno de sucesso material mas sucesso conforme a palavra Dele) só tem um jeito: seguir aquilo que Ele diz através de Sua palavra (um aparte aqui, que na verdade vale outra reflexão: Deus é fiel... à Sua palavra e não à nós. Ele é fiel à nós quando nós seguimos o que lá está escrito. Caso contrário, Ele simplesmente não nos atenderá)
- Por último, aceitar aquilo que Deus permite que aconteça conosco. Às vezes, rejeitamos fatos que entendemos como desconfortáveis e até ruins mesmo e nos investimos de uma autoridade que nem sempre nos foi dada. Isso porque nada acontece sem a permissão Dele. Sendo assim, como teríamos autoridade e/ ou poder para rejeitar algo que Ele próprio aceitou e concordou que acontecesse conosco? Claro que algumas coisas são permitidas para que aprendamos como pedir ou como luta e estas devem ser combatidas; mas outras, existem para que saibamos como sermos fiéis ou mais humildes, e na verdade, com elas devemos conviver, aprendendo a dar graças no pouco e no muito, na alegria e na dor, na fartura e na necessidade. Na minha visão, a fé corajosa aqui vem então se encaixar perfeitamente para termos a coragem e o discernimento de pedirmos ao Senhor aquilo que Ele deseja para nós.
No fundo, depois de escrever sobre tantas situações em que a fé corajosa se aplica e se encaixa na prática, fiquei pensando que temos outros momentos ainda que podem ser listados: estou escrevendo este texto de dentro de um avião comercial, voltando para casa. Só que, quando comecei, estava na saída de minha cidade e, ao chegar na cidade de destino, quando estávamos quase pousando, o avião arremeteu (quem acompanhou a tragédia da TAM em 2007 sabe bem o que significa esse termo na aeronáutica em que o avião desiste do pouso e sobe novamente para recomeçar o procedimento de descida) e começamos tudo outra vez. Nada demais, só que na hora dei glórias a Deus por ser eu e não as minhas irmãs que detestam avião (sendo que uma só voa quando realmente não tem nenhuma alternativa a não ser voar e a outra nunca pisou em um avião por medo do “pássaro de metal”) a enfrentar essa situação. Confesso ainda que, embora saiba agora o que aconteceu e que o piloto teve que arremeter porque o vento mudou e, se prosseguisse, cairia no mar (e portanto foi a decisão mais sábia a tomar), no momento só me restou exercitar a fé corajosa de que o Senhor está no controle de todas as coisas e portanto, mesmo que tivéssemos um problema com o avião, Ele faria o melhor.
Senhor, dá-me coragem para exercitar com alegria a minha porção de fé corajosa, mostrando ao mundo que o Senhor me fez com um propósito e que o Senhor não errou ao me escolher: que na verdade, o Senhor é tão misericordioso que me escolheu e é tão maravilhoso que, apesar de mim, age na minha vida para alcançar os que estão ao meu redor, dando-me a oportunidade de viver conforme a Tua palavra e seguindo à diante pela fé em Ti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário