segunda-feira, 26 de março de 2012

Luxos e necessidades: qual é o limite?

Qual é o limite entre a auto-preservação e a vaidade? O que é realmente necessário e o que é dispensável? Ou ainda, como definir o que está no limite entre os dois?

Se somos templo do Espírito Santo, devemos nos cuidar. Por outro lado, se tudo neste mundo perecerá (inclusive nossos corpos), por que então fazer exercícios e exames preventivos?

Qual é o limite entre o que é espiritual e o que é material? Existe esse limite?

Tenho o direito de usufruir de algum dinheiro que ganhe sem dividir? Certamente não. Mas, qual é o percentual então? O dízimo é apenas uma parcela para que não nos prendamos ao dinheiro como se ele fosse a nossa segurança ou a garantia de um futuro melhor necessariamente.

Não serei hipócrita dizendo que não gosto de quando vejo um dinheirinho a mais na minha conta bancária ou quando tenho a oportunidade de comprar algo novo. Eu gosto e muito (como a grande maioria das pessoas que conheço) de comprar coisas novas. Fico contente de ver a minha casa com um armário novo ou com um cobertor maciozinho ou as novas toalhas tamanho família que fazem do ato de se enxugar um prazer adicional na hora do banho.

Por outro lado, é justo que eu possa viajar nas férias (e até fora das férias) e pessoas ao meu redor não contem com a infraestrutura básica para sobrevivência? Porque ela não tiveram as mesmas oportunidades acadêmicas que eu tive é justo que eu tenha mais conforto do que ela por ter um emprego melhor? De que vale o dinheiro no banco quando o travesseiro do lado está desocupado?

De novo, não quero ser hipócrita e dizer que não gosto dos luxos aos quais tenho acesso. Por sinal, tenho acesso a diversos pequenos luxos que confesso que amo usufruir: sorvetes Häagen-Dazs, sanduíches recheados com salmão defumado e mussarela de búfala, compra de livros com certa freqüência, idas ao shopping sem muita restrição, sessões de cinema pelo menos uma vez ao mês... tudo isso é luxo. Eu considero assim porque, a bem da verdade, não necessito de nada disso para viver. Por outro lado, se não preciso, por que eu gasto dinheiro com essas coisas?

Seria muito mais correto se, ao invés de gastar R$ 18,00 com um pote de meio litro de sorvete, eu comprasse um saco de arroz e um pote de sorvete de R$ 10,00: desta forma, eu doaria o saco de arroz, fazendo assim alguma diferença prática na vida dos outros, e ao mesmo tempo poderia curtir um sorvetinho de luxo. Ou o correto mesmo seria comprar dois sacos de arroz e nenhum sorvete e doar ambos os sacos e adoçar o meu dia com a alegria de quem recebeu a minha doação?

Tudo bem que, por exemplo, os livros que compro, normalmente depois de ler eu empresto (ou doo mesmo) para que outros usufruam da mesma leitura que me ajudou. Então, nesse sentido estou contente. Mas, será que não teria um jeito de fazer isso de modo mais econômico, permitindo que esse dinheiro pudesse ajudar a outros de mais formas?

Recentemente passei a gostar de cozinhar e aprendi a fazer alguns poucos pratos simples. Quando os faço, na maioria das vezes, faço para servir na reunião da igreja em casa, assim, além de não estragar (porque as quantidades normalmente são maiores do que consumimos em casa), eu não me obrigo a comer mais do que devia e posso usufruir do prazer de comer algo que gosto e ao mesmo tempo dividir com quem me visita. Talvez essa seja uma boa medida.

Mas, e o restante? As minhas roupas... amo comprar roupas! Mas, ultimamente, tenho olhado para elas e achado que são caras demais para sair comprando-as assim a esmo... então, embora tenha comprado duas blusinhas de R$ 15,00 cada no sábado passado, não fico mais comprando roupas, convertendo seus valores para outros custos que tenho. Será que estou ficando neurótica? Ou será que eu deveria ter feito isso desde sempre?

Há algum tempo atrás ouvi que a maior mudança que aconteceu nos últimos anos na minha vida foi que eu deixei de ser pão-dura. Tenho a certeza de que essa é realmente a obra mais visível que o Senhor fez em mim. De fato, eu sempre fui muito egoísta e nunca gostei de dividir nada e, agora, fico genuinamente contente de comprar coisas e dar de presente. É uma maneira de mostrar às pessoas que eu fico feliz de vê-las felizes.

Por outro lado, acho que gasto demais com o que não importa. Compro esmaltes para as unhas (amo vê-las coloridas, sempre com cores diferentes), como coisas menos simples... acho o máximo ir à padaria comprar um pãozinho recheado de escarola ou de azeitona, ou ainda de peito de peru.

Então, qual é a medida? Como saber qual é de fato o tanto que devo dividir? O dízimo é para mim apenas uma parte que serve para me lembrar que o dinheiro não me domina e que eu devo ser fiel de alguma forma à Deus. Não faço isso porque a igreja pede ou não, porque eu espero ou não recompensa de Deus, não é esse o ponto. Eu dou o dízimo porque é a maneira que Deus me permite colocar as coisas na perspectiva correta: o dinheiro é mais um instrumento à minha disposição para que a vida seja vivida. E só.

Todo mundo tem direito a realizar seus sonhos. Os meus, sei que Deus tem aos poucos permitido realizar, mesmo quando eles são um tanto egoístas. E Ele usa pessoas ao meu redor para viabilizar essas realizações. E os dos outros, quem é que viabiliza? Se eu não me colocar à disposição, quem é que pode ser o canal de bençãos para estas pessoas ao meu redor? Sei que Deus pode levantar qualquer um mas, qual é a graça de ver que eu poderia mas não fiz nada para melhorar a vida dos que estão ao meu lado (assim como eles fazem quando me amam ou me desafiam, ou ambos)?

Então... qual é a crise? A crise (se é que há uma crise... eu classificaria mais como uma dúvida momentânea) é saber se estou dosando na medida certa. Na verdade, é mais do que isso: é saber se estou cumprindo o propósito de Deus para a minha vida, se eu estou de fato usando os recursos que recebo de forma a honrar Àquele que se dá por mim (e pelos que estão ao meu redor). Quero ser motivo de orgulho para Ele, de alegria, afinal, nada podemos fazer para que Ele nos ame mais ou menos... mas muito há que se fazer para que Ele fique mais ou menos satisfeito conosco.

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