terça-feira, 16 de outubro de 2012

Quanto mais EU MESMA melhor


Uma marca de refrigerante está há algum tempo com uma campanha na mídia cujo lema é "Quanto mais FULANO melhor", substituindo o "FULANO" por diversos nomes próprios comuns. De fato, a campanha é um sucesso e vê-se que as pessoas vem comprando latinhas com o seu próprio nome ou com o nome de pessoas queridas não necessariamente para tomar a bebida mas também e principalmente para guardar como recordação. Inclusive já vi fotos postadas com as tais latinhas em redes sociais como homenagens a pessoas amadas dos "fotógrafos" de plantão. Eu mesma comprei uma com o nome da minha filha e deixei de presente para ela em casa antes de sair hoje pela manhã.

Só que, uns dias atrás, andei pensando sobre essa campanha e uma música me veio à mente. Ela diz assim: "Mais de Ti, Mais de Ti, e menos de mim, menos de mim..." e eu fiquei pensando o quanto a publicidade não é um instrumento para distorcer coisas nas nossas vidas. No meu entendimento, vejo que a ideia central é incentivar a auto-estima do público e com isso alavancar as vendas do tal refrigerante, criando quase como uma brincadeira em grande escala.

Por outro lado, hoje pela manhã, tive uma ideia muito clara de como seria o mundo com mais de mim mesma. Acordei cedo o bastante para dizer que dormi pouco (aliás, acordei assustada com medo de perder a hora) e fui ao aeroporto para pegar um vôo para o Sul do país. Cheguei às cinco e entrei na fila de checkin mas, embora pareça um absurdo (para mim pareceu) eu fiquei quarenta e cinco minutos em pé na fila esperando a minha vez e quando eu cheguei já estava na hora de praticamente sair correndo e embarcar.

Honestamente, eu não curto ficar com sono. Além do mais, acostumei-me a acordar cedo mas o que chamo de cedo é pelo menos duas horas depois do que acordei hoje e como não dormi cedo ontem, de fato eu estava acabada de cansaço. E sinceramente, mesmo tendo chegado no aeroporto meia hora antes porque o serviço de taxi resolveu mandar a unidade que me atenderia meia hora antes do horário agendado fazendo com que eu saísse correndo de casa, eu não consegui tomar café da manhã, o que me deixou mais injuriada ainda porque eu sabia que a companhia aérea não me forneceria nada além de um mísero copo de água gratuitamente.

Enfim, mesmo com o atraso e tentando reclamar no balcão da falta de funcionários em quantidade adequada para atender à quantidade de passageiros e embarques em vôos no horário (sem sucesso porque obviamente o setor de reclamações é absolutamente oculto e fora de alcance, especialmente quando se está com pressa), eu decidi comprar um chá e ir tomando-o até o meu assento no avião.

Só que, no meio do caminho, porque o copo com o chá estava cheio e eu andava depressa por conta do horário que ficara apertado por causa da falta de interesse da companhia aérea de atender a contento os seus passageiros, eu queimei a mão. Confesso que isso aconteceu exatamente no meio do saguão principal do aeroporto e, quando aconteceu, eu soltei um sonoro palavrão, complementando com um "elogio solene" à companhia aérea citando nomes... eu poderia dizer que por um segundo aquele salão parou por minha causa. Continuei andando e deixando que a minha raiva fosse maior do que a minha vergonha ou o meu domínio próprio naquele momento e dirigi-me ao portão de embarque.

Chegando lá, dei a minha passagem à funcionária que fica na entrada e ela gentilmente encarregou-se de explicar-me algo que eu não sabia: as regras do órgão regulador do aeroporto não permitem que o passageiro passe pela verificação do raio-x com bebidas quentes e portanto eu teria que tomar o chá que tinha acabado de comprar (e ainda estava em fase de infusão) com frações de segundos a uma temperatura próxima à da ebulição da água (ou seja, quase cem graus, o que é muita coisa... basta lembrar que o corpo humano fica em média a cerca de trinta e seis graus). De fato, isso me irritou completamente. Tanto que, além de literalmente tacar o chá no lixo (e queimar a mão novamente) eu soltei outro sonoro xingo e entrei.

De dentro do transporte que leva os passageiros da sala de embarque ao avião propriamente dito eu liguei para a minha mãe, não para desabafar mas para conseguir um telefone em que eu pudesse reclamar com efetividade da companhia aérea (o que eu queria mesmo naquele momento era só liberar a minha ira, como se eu achasse que desta forma ela fosse diminuir ao invés de se alimentar e crescer mais ainda) e soltei novas reclamações descrevendo toda a situação.

Não contente, postei um comentário (até que bastante polido pelo que eu já tinha revelado anteriormente) em uma rede social sobre a situação e ainda contei aos passageiros que voaram ao meu lado de modo breve.

Pois é... lamentavelmente confesso que coloquei Cristo no bolso e assumi o controle da situação. Infelizmente, deixei de lado tudo o que vivo e o que entendo como correto, saudável e bom para seguir o conselho da marca de refrigerante, acreditando que "quanto mais EU MESMA melhor"...

Hoje eu vi claramente como é que, através de pequenas coisas, nos deixamos enganar e passamos a simplesmente deixar de crer no Nosso Salvador, tomando o controle das mãos Dele e empurrando-o para o lado, de preferência onde Ele possa ficar bem quietinho para que todos possam ver como "quanto mais EU MESMA melhor". E, como instrumentos do inimigo, só deixamos transparecer que Ele fora o comandante da embarcação quando essa revelação for no momento mais comprometedor para o Evangelho, fazendo com que outros entendam que nós, cristãos, somos um povo de muito falar e pouquíssimo agir, envergonhando Aquele que deu a vida por nós.

Hoje, definitivamente, vi na prática que pequenas coisas nos enganam e, quando menos percebemos, estamos pregando-as também. Hoje, eu só preciso pedir perdão ao meu Deus por tê-Lo envergonhado porque naquele momento era como se eu simplesmente tivesse desprezado todo o Seu esforço, cuidado e carinho por mim. Preciso pedir perdão aos que, mesmo involuntariamente, tiveram que lidar com mais de mim mesma, ao invés de lidar com Aquele que não é amoroso mas é AMOR. E hoje, é claro, preciso mais do que nunca agradecer a Cristo por não só me dar a salvação de graça (afinal eu e nenhum de nós NUNCA mereceríamos isso) mas por me amar insistente e pacientemente, dando-me novas chances e renovando a Sua misericórdia a cada manhã.

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