terça-feira, 12 de março de 2013
Presentes ou Presença?
Lembro-me poucas coisas sobre a infância e uma delas é como eu gostava de esperar a minha mãe chegar em casa do trabalho à noite. Ao contrário da maioria das crianças eu ficava com o meu pai em casa (ou com a babá) e portanto era ela quem chegava depois e era a presença dela que era a mais rara por ali.
Por causa disso, ou por conta de sua infância pobre (não sei dizer), eu me lembro que minha mãe sempre me dava presentinhos. Em geral, não havia nada que eu pedisse que ela não me desse, mesmo que não fosse imediatamente. Isso era bom e ruim porque ao mesmo tempo em que eu sabia que ia ganhar algo que tinha pedido eu não experimentei a limitação de não ter algo que eu quis muito (mas isso é outra história).
E ontem, refletindo sobre a diferença entre buscar o poder de Deus e a Sua Presença eu me lembrei bem disso: quando eu era menor eu esperava pela chegada da minha mãe ansiosamente porque gostava de brincar com ela. Só que, como ela chegava cansada e preocupada (não sem razão) muitas vezes não brincávamos. Mas, em compensação, ela trazia os tais presentinhos.
Com o tempo, eu passei a esperar pelos presentinhos e não mais pela presença da minha mãe. Afinal, ela chegava cansada e irritada com o dia-a-dia no escritório e eu já sabia (ou achava que sabia porque era assim que eu percebia) que muito possivelmente não iríamos brincar mas a chance de ter um presentinho era maior e eu me contentava com eles.
Só que sincera como uma criança e com a sutileza que Deus me deu (se teve alguma coisa em que Ele foi econômico comigo foi nisso) aos poucos, quando minha mãe chegava, eu já deixava claro o meu interesse: o presente. E, uma das coisas que também me lembro é o olhar de frustração da minha mãe às vezes com isso. Tudo bem que no caso dela a frustração misturava-se com a culpa que sentia por não estar em casa e por causa disso ela guardava bem o que sentia. Inclusive nunca conversamos sobre isso até hoje... acho que temos algo a conversar (mas isso também é outro assunto).
Quando eu me tornei mãe fiquei com a minha filha em casa até seus dez meses de idade. E depois fui trabalhar. E repeti o que acontecia comigo na infância. Mas, aí, eu pude entender o outro lado: ao mesmo tempo que o presente era uma forma de tentar se aproximar da criança a quem eu deixava em casa por conta do sustento necessário mesmo pagando o preço de perder os seus melhores e mais preciosos dias, eu ansiava que ela quisesse estar comigo. E com o tempo ela esperava pelos presentes e não mais pela minha presença.
Fazendo um paralelo com Deus, Seu poder e Sua Presença, imagino que Deus, se não fosse Amor, se sentiria assim... um tanto frustrado. Isso porque, ao contrário dos milhares de pais e mães que deixam seus filhos em casa ou na escola para trabalhar, Ele nunca nos deixou. Pelo contrário, fomos nós que O deixamos. E mesmo assim, quando temos a oportunidade de revê-Lo, ao invés de ficarmos felizes porque O reencontramos, pedimos e ansiamos por "presentinhos".
Deus sempre ansiou por estar conosco. Ele sempre nos busca, sempre se faz presente e como descreve Tommy Tenney em seu livro "Caçadores de Deus", quando Ele brinca de esconde-esconde, é como o pai da criança pequena que se esconde atrás da cortina e deixa o pé de fora, esperando pelo momento em que seu filho vai encontrá-lo.
Por fim, por melhores que fossem os presentes que minha mãe me dava, no fundo eu sempre quis a sua presença mas nem sempre foi possível e isso me causou alguns problemas com os quais lidei durante anos a fio sem sucesso até que permiti que Deus começasse a intervir e resolver por mim em meu coração.
A ausência de Deus, por outro lado, não tem remédio. Por melhores que sejam os Seus presentes, nada se compara à Sua companhia. E ao contrário de como acontecia com a minha mãe (ou comigo mesma em relação à minha filha), Ele está SEMPRE disponível e à nossa volta, esperando o momento em que O encontraremos.
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