segunda-feira, 6 de maio de 2013

Ler ou brincar?


Ontem eu tive a oportunidade de participar de um treinamento para o trabalho com crianças na igreja. Na verdade, eu fui porque todos foram convidados a conhecer o trabalho da igreja local com as crianças, quem são as pessoas que atuam, quais são as recomendações para cada idade e como podemos colaborar (e até nos volutariar para participar se quisermos, é claro). E eu fui lá na realidade com o intuito de ver como isso tudo funciona ali.

Na comunidade local anterior em que participava, eu tive a oportunidade de participar desse trabalho com crianças. Engraçado que na ocasião eu queria trabalhar com crianças grandes, beirando a adolescência. Mas, como que por uma ironia de Deus, fui colocada para cuidar as criancinhas menores, de um a três anos de idade. Quando isso aconteceu, eu sinceramente não sabia no começo quem é que ficava mais assustado: eu ou as crianças quando ficavam comigo. Isso porque alguém do meu passado me convenceu (porque eu deixei) que eu não nasci para ser mãe e simplesmente nunca poderia ter jeito de cuidar de crianças. E por acreditar nisso, eu tinha medo delas. Mesmo já sendo mãe. E mesmo já tendo passado por essa fase de primeira infância da minha filha.

Nos primeiros dias, eu não sabia direito o que fazer. Na verdade, eu estava ali porque entendia que era uma forma de participar mas eu me sentia mesmo totalmente deslocada e me questionava porque estava ali. De qualquer modo, permiti a Deus e a mim mesma uma nova experiência. E a minha vida mudou.

Um dia, uma menina, a Sarah, foi levada por sua mãe para a sala das criancinhas logo no começo do culto. Como a pregação tem cerca de uma hora e meia, a mãe entrou ali e ficou por uns quinze minutos, eu acho, até que a menina se acostumasse e, quando ela se distraiu, a mãe foi assistir a pregação. E a menina desatou a chorar.

Bom, nenhuma novidade até aí, até porque criancinhas dessa idade sempre choram quando percebem que a mãe não está por perto e se sentem abandonadas ou perdidas em algum lugar. Só que tinha algo diferente no choro da Sarinha. Não sei explicar exatamente, mas ela chorava tão intensamente que me impressionou. Só que não era um choro de gritos, mas um choro de sentimento profundo, uma tristeza que doía até em mim. Peguei a Sarah no colo e ela se abraçou comigo e continuou chorando copiosamente. E eu comecei então a cantar.

O mais engraçado é que naquele momento eu não conseguia pensar em músicas infantis porque eu estava tão apavorada com a possibilidade da mãe da criança ficar chateada comigo porque eu não sabia o que fazer, e o meu medo de ser inútil naquela situação era tão grande que confesso que comecei a cantar a música "Espírito Santo" que conheci sendo cantada pela Fernanda Brum, e diz assim:

"Espírito Santo, ore por mim.
Leve pra Deus tudo aquilo que eu preciso.
Espírito Santo, use as palavras.
Que eu necessito usar, mas não consigo.
Me ajude nas minhas fraquezas.
Não sei como devo pedir.
Espírito Santo, vem interceder por mim

Todas as coisas cooperam pra o bem
Daqueles que amam a Ti.
Espírito Santo, vem orar por mim.

Estou clamando, estou pedindo.
Só Deus sabe a dor que estou sentindo.
Meu coração está ferido,
Mas o meu clamor está subindo."

Até certo ponto, o meu pedido era pela menina. Mas, acho que muito mais do que isso, o meu pedido era por mim mesma, afinal, eu não fazia a mais remota ideia de como lidar com aquilo. E curiosamente ela começou a se acalmar. Seu choro foi ficando mais escasso, seus soluços menos profundos e as lágrimas já não saíam mais. Até que ela só ficou abraçada comigo. E eu continuei.

Depois cantei outras canções que lembrei e ela foi se animando. Eu resolvi então sentar porque eu já estava cansada de ficar tanto tempo com uma criança no colo (ela era uma graça e era bem recheadinha... uma daquelas criancinhas que dá vontade de apertar). Decidi sentar e coloquei-a no meu colo. Então, resolvi brincar com ela. Primeiro de cavalinho, depois de serra-serra, e depois ela quis ir ao banheiro e lá fomos nós. Na volta, sentamos e brincamos mais, e quando vi tinham outras crianças querendo brincar. E ela me chamou para brincar de comidinha. E eu fui.

Quando eu vi, estava sentada no chão brincando com umas oito crianças pequenas, fingindo que dormia, acordava e comia comidinhas de mentira e mais: estava curtindo tanto que nem vi o tempo passar. E ali, através da vida da Sarinha, eu fui curada.

Então, quando cheguei nesse treinamento ontem, eu queria ver como era o trabalho com crianças dessa faixa etária. Mas eu descobri que teoricamente as pessoas da minha célula cuidam de adolescentes, o que é uma outra ironia porque agora, com uma filha adolescente, o que menos quero é outros adolescentes para cuidar. E conversando com o meu líder, chegamos à conclusão de que é tempo de investir em outra tarefa no momento, que tem a ver com a livraria local e eu absolutamente amo.

E aí, conversa finalizada, culto iniciado (o treinamento foi antes desse começar), entramos para ouvir a palavra. Num dado momento no meio do culto eu levantei e fui cumprimentar uma moça que tem uma filhinha muito bonitinha que, por sinal, eu ajudei a cuidar um dia (dentro do culto mesmo) e acabamos (eu e a menina fazendo amizade). Só que como toda criança pequena tem memória curta, eu já fico tranquila porque sei que as crianças não me reconhecem por não nos vermos com frequência. E não é que a menina lembrou de mim e se abraçou comigo e não me deixou o culto inteiro? Sentou comigo lá no fundo e de vez em quando ela ia lá na frente ver a mãe, pegava alguma coisa e voltava... e ria, e brincava comigo. E ficou brincando, quietinha, sem dar muito trabalho, mas feliz da vida e querendo um pouco de atenção e carinho, que eu fui dando silenciosamente enquanto ouvia o Pastor falar. À propósito: eu já contei que essa menina é muito parecida com a Sarinha? Pele branquinha, cabelinho preto encaracolado, olhar cativante e bochechinhas de morder.

E eu fiquei na dúvida... será mesmo que é tempo de assumir de fato a livraria ou será que é tempo de investir nas crianças? O meu coração ficou sinceramente dividido. Em parte porque acho que agora é tempo de estar ali na livraria, levando esse novo projeto adiante; mas em parte porque pela primeira vez comecei a sentir que, talvez, eu possa um dia ser usada por Deus para fazer diferença na vida dos pequeninos... como diz a minha querida irmã quando parafraseia uma conhecida nossa: "vamos ver no que isso vai dar..."

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