Em julho eu fui a Moçambique. Lá, muitas coisas me chocaram e acho que a mais chocante de todas, ao contrário do que as pessoas costumam perguntar, não é a fome e nem a pobreza para mim. O que mais me chocou foi a mentalidade escrava que toma conta de uma nação, mesmo daqueles que possuem uma situação financeira estável e até confortável.
Essa mentalidade é expressa de diversas formas. Eles não cuidam de suas ruas, jogando lixo em qualquer lugar (e isso para mim significa que eles não tem consciência de propriedade, e por isso não cuidam). Eles tratam os brancos como se todos fossem ricos e portanto fosse lícito a eles explorar aos outros através de propinas e de abusos de preços e de condições. Eles não conservam as ruas e não assumem iniciativas para mudar a situação. E eu vi isso na surpresa e nas caras de desconfiança quando, em frente à igreja, declarei que a geração presente é a semente da mudança daquela nação. E declarei em fé porque creio que Deus pode mudar a direção daquela nação, através da cura, seja física, seja espiritual ou seja de emoções.
Na realidade, eu tenho até motivos para entender desta forma. Quando fui para lá conheci uma professora abençoada que estava por ali naqueles dias fazendo uma capacitação de professores para que a igreja comece a implantar as pré-escolas, já que as crianças chegam ao equivalente ao ensino fundamental sem poder distinguir as letras entre si, o que é para mim mais uma mostra da mentalidade escrava: não dar o devido valor ao conhecimento.
Essa professora, durante o curso, ficou hospedada na casa dos mesmos pastores que eu e tivemos a oportunidade de conversar em alguns momentos. E em dado momento ela comentou que uma colega dela de ministério teve um sonho com ela e dizia que ela levava para a África através daquele curso três sementes de cura: a do corpo, a da alma e a do espírito. A do corpo é fácil de entender porque os princípios ensinados no curso passam por questões de mordomia (ou seja, cuidar daquilo que Deus coloca em nossas mãos); a do espírito também é fácil, já que a renovação da mente através da palavra de Deus é cura para o espírito. Mas a cura da alma, essa foi mais complicada dela enxergar. E engraçado que para mim ficou tão claro que esse curso é parte dessa semente que foi plantada nos corações daqueles professores e que será disseminada nas mentes e nos corações das crianças e que serão responsáveis pelas mudanças que Deus quer promover a partir de agora por ali.
Fiquei feliz de ter a oportunidade de ser testemunha de algo tão poderoso que nem consegui entender o quanto isso é verdade não só lá mas em nossas vidas em geral. E o quanto de fato deixamos que a vida nos marque de modo tão definitivo, de modo que nos preparemos sempre para o pior, evitando decepções e tristezas que possam vir.
E aí, hoje, passando por uma situação bem complicada na minha vida, percebo que mais uma vez sou chamada por Deus para entregar a Ele a direção da minha vida. E desta vez (como das outras mas agora sem as desculpas e muletas que eu tinha no passado) Ele me chama para entregar tudo sem reservas, sem condições e sem garantias. E mais uma vez eu percebo que eu ainda tenho dificuldades de confiar.
A situação em questão é extremamente delicada para mim porque tem a ver com outras pessoas e hoje eu tenho a consciência de que de nenhum modo eu posso ser pedra de tropeço para a vida de outra pessoa e não quero de modo nenhum impedir o chamado de Deus na vida de ninguém. Por outro lado, aparentemente o que eu espero e quero conflita com o que Deus tem para nós. E eu, mais uma vez, dependo definitivamente de um milagre, ou de uma direção extremamente clara e definida do que realmente devo fazer.
Até aí, nenhum grande choque ou revelação. Mas, o engraçado é perceber que, ao invés de me preparar para a vontade de Deus recebendo-a como algo bom, perfeito e agradável (o que de fato é e a Bíblia mesmo faz questão de nos lembrar), eu me preparo para mais um "não" da parte Dele. No fundo, eu me preparo para mais uma frustração do que eu sonho.
Pois é... quem é que tem mentalidade escrava mesmo? Que raio de fé é essa que acredita que Deus, que é Todo Poderoso, Amoroso, Cuidador, Pai e Supridor, ao mesmo tempo vai sempre frustrar os meus sonhos, me deixando mal e triste? Por que eu ainda tenho medo da vontade Dele para a minha vida? Por que eu ainda me preparo para a frustração e não para a vitória?
Ou seja, que espécie de cristã eu sou acreditando que as batalhas serão perdidas? Que tipo de fé é a minha que consegue acreditar para os outros e não consegue crer para mim mesma? Como eu cheguei aqui? E mais importante: como eu saio disso?
Inevitavelmente me lembro da história de Moisés que foi usado por Deus para tirar o povo do Egito e em poucos dias eles já estavam no deserto, livres da escravidão do opressor físico mas que demorou com seu povo quarenta anos para se libertar da mentalidade escrava que lhes foi incutida...
Observação: comecei a escrever este texto na segunda pela manhã e acabei parando-o no meio porque o mal estar físico que sentia se agravou e eu fui ao médico, retomando as atividades normais só hoje (quarta-feira). Neste tempo, algumas coisas aconteceram e acho que a mais importante delas é que, de uma forma ou de outra, consegui em oração avançar nisso que descrevi acima e perceber que ser livre disso tudo é muito mais fácil do que parece. Claro, é quase impossível fazê-lo sozinho, mas com Deus é rápido e muito mais fácil. Inclusive, Ele deseja que sejamos livres (pois foi para isso que Cristo nos libertou: para a liberdade). Em oração, cabe a nós manter o coração aberto e a mente renovada e a cura vem muito mais rápido do que podemos imaginar.
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