No sábado passado promovemos no prédio da igreja o que chamamos de "Encontro com Deus" para juvenis (que compreende as pessoas de nove a treze anos). O evento aconteceu durante todo o dia e tivemos cerca de 115 juvenis nesse período, além do pessoal das equipes de organização do evento em si. No total, fomos cerca de 200 pessoas durante um dia inteiro ali para buscar a presença de Deus e marcar uma geração.
Eu participei não porque eu faça parte desse ministério que cuida de crianças e adolescentes mas porque o grupo da igreja do qual faço parte acabou sendo selecionado para organizar o evento e lá fui eu convidada para ajudar na cozinha. Topei o desafio embora eu saiba que cozinha não é exatamente o meu lugar mas, como foi o pedido, eu aceitei de bom grado. Só não confirmei prontamente porque neste final de semana eu ficaria com a minha filha e precisava que ela concordasse em estar comigo ali durante todo o dia, participando ou ajudando na organização.
Esse tipo de coisa, quando imposta, não funciona direito e pode até causar o efeito contrário. Por causa disso, preferi tentar conquistar o apoio dela para que a sua participação ali fosse voluntária e seu coração estivesse aberto para ajudar. Ela então concordou mas pediu para ajudar comigo na cozinha e eu combinei com ela e com a Pastora que então ela ficaria não comigo mas com a equipe de fotografia, já que desta forma ela estaria dentro do evento o tempo todo e não distante sem ouvir as palavras como ficaria na cozinha.
Enfim, lá foi ela meio sem jeito, tirar fotos durante o dia. Ela não ficou sozinha mas não ficou acompanhada e não aceitou participar, mas acabou ficando ali e ouvindo o tempo todo o que estava acontecendo. E eu, que inicialmente tinha sido chamada para a cozinha, logo cedo fui chamada para sair e comprar algumas coisas de última hora, missão que alegremente topei porque, de verdade, tem muito mais a ver comigo.
Saí do prédio e voltei umas três vezes, sempre dando uma passada por ali para garantir que tudo estava caminhando nos conformes. Mas, num dado momento, eu fiquei na dúvida se ela dormia ou orava. Bom, achava mesmo que estava dormindo mas eu tive uma pontinha de esperança de que ela estivesse orando. Afinal, a fé move montanhas.
Quando voltei em definitivo ao evento já eram por volta das onze e meia da manhã e claro, a equipe da cozinha estava mais do que organizada e eu, sultimente, senti que fiquei sobrando. Então, resolvi que ao invés de ficar magoada, eu faria algo de útil e decidi entrar para assistir o que estava acontecendo com os juvenis. Fiquei de pé atrás da minha filha e comecei a assistir a próxima encenação.
Quando começou, eu vi que era diferente do que eu já tinha visto antes: a palavra encenada tratava de cura da alma mas, diferente do que eu já tinha assistido, a perspectiva era a do adolescente que passa pela separação dos pais e depois por diversas consequências que os pais, sem perceber, acabam inflingindo aos seus filhos por pura cegueira causada pelo egoísmo do momento pós-separação. E, de repente, eu via um filme de tudo aquilo que eu mesma fiz com a minha filha e nunca tinha entendido. E comecei então a entender porque ela se sentia tão rejeitada e abandonada por mim. E as lágrimas saíam sem que eu pudesse pensar em contê-las. E a dor que invadiu o meu coração foi originada por um misto de arrependimento pelo que fiz e desejo de que ela me perdoasse e fosse curada. Sem conseguir fazer muita coisa, fui até uma amiga que estava ali e falei a única coisa que consegui: "eu fui essa mãe" e desabei a chorar novamente. Ela orou comigo declarando cura e que aquilo era passado e me acalmou, mas ainda tinha mais por vir.
Saí dali ainda abalada e fui para o banheiro, onde fiquei por um tempo considerável. Ali na cabine eu chorava e orava, pedindo que Deus fizesse algo no coração da minha filha e que ela pudesse ser curada de tudo aquilo que eu fiz. Pedi perdão a Deus mas entendi que ainda faltava algo.
Recobrei as forças, voltei lá para dentro e vi que minha filha continuava sentada no mesmo lugar em que tinha ficado sem muita reação. Peguei então uma cadeira e sentei-me de frente para ela. Chorando, expliquei que eu sempre tinha visto as coisas da minha perspectiva mas que, naquele momento, eu pude ver como ela via tudo o que eu tinha feito para ela e fui pedindo perdão por cada uma das coisas que, por ignorância ou egoísmo, acabei fazendo-a passar. Ela não falou nada mas chorou, nos abraçamos e depois ficamos muito bem. Conhecendo a minha filha, sei que o choro significou muito mais do que qualquer palavra que ela conseguisse expressar naquele momento. Sei também que essa oportunidade que tive foi única e desejei que outros pais tivessem a mesma oportunidade. E, em fé, sei que uma barreira grande foi quebrada neste sábado e uma nova realidade vem se estabelecendo desde então. E mesmo que eu ainda não veja os frutos disso, sei que algo novo de bom foi plantado no coração dela e que, no tempo certo, os frutos aparecerão e mudanças positivas serão canal de benção na vida de muitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário