Desde julho de 2009 a minha filha passa uma semana em um acampamento perto de São Paulo. Essa tradição começou quando casou-se a vontade dela de passar alguns dias em um acampamento e a indicação providencial de um lugar de confiança para que ela pudesse experimentar essa nova realidade que seria ficar longe de casa por uma semana sem nenhum parente do lado e com várias pessoas da mesma idade, só curtindo as férias e ouvindo falar de Deus.
Esse acampamento não é muito longe da minha cidade. Na realidade, pelas minhas contas, fica a uns sessenta quilômetros da minha casa. Mas, mesmo não sendo tão distante, ir até lá pode não ser das tarefas mais simples.
A primeira vez que fomos a pessoa que nos indicou nos transportou de carro, de modo que foi bem tranquilo, apesar de não conhecermos o lugar. Na segunda vez, essa pessoa não estava mais disponível para isso e portanto fomos de transporte público: pegamos um ônibus até o metrô, o metrô até umas dez estações de casa, depois mais um ônibus até a rodoviária da outra cidade e de lá um ônibus municipal até o local e, chegando lá, descemos a rampa com as malas na mão torcendo para não cair lá no fim da descida com mala e cuia. A volta foi a mesma coisa.
Em outras vezes, alternamos caronas diversas, entre elas duas vezes em que pedi para que meu pai fizesse o transporte, o que ele acabou fazendo sem problemas. Isso porque até o início de 2012 não tínhamos carro e aí era realmente uma loucura tentar o transporte público outra vez.
Só que, quando compramos o carro, não tinha mais motivos para se preocupar. Ou tinha? Bom, eu tinha comprado o carro recentemente e na realidade não tinha grande prática. Fora isso, aquela rampa cheia de pedrinhas me apavorava, não tanto na descida mas especialmente na subida. Já pensou se dá algum rolo e eu tenho que parar o carro no meio da rampa? Com aquele chão de pedrinhas eu nunca mais saíria do lugar. E se chovesse então? Criei um certo medo e comecei a depender de outros propositalmente para esta jornada.
De lá para cá, em julho de 2012 tivemos carona, em janeiro de 2013 consegui um motorista para o meu carro (evitando enfrentar a tal situação desagradável) e em julho do ano passado viajamos para outro lugar, o que fez com que ela não fosse para lá (e eu não precisasse enfrentar a "monstruosa" rampa). Mas, nesse final de semana, eu não tinha mais opções: teria que enfrentar esse medo.
Na realidade, se eu tivesse pedido, provavelmente teria conseguido uma ajuda novamente. Só que me veio o seguinte pensamento: até quando você vai alimentar esse medo sem sentido? Afinal de contas, as pessoas saem de lá de um jeito ou de outro, e comigo não seria diferente. Com ou sem vergonha, com ou sem medo, eu sairia de alguma forma. E já não dava mais para deixar passar.
Bom, neste final de semana, me armei de toda a coragem que eu tinha (sei lá porque aquela rampa me apavorava tanto, já que eu não costumo ter medo da maioria das coisas) e fui. Confesso que no caminho eu já fui ficando ansiosa, pensando em como seria enfrentar aquelas pedrinhas infames, especialmente quando reparei as nuvens de chuva se aproximando. Mas não tinha jeito: eu tinha que enfrentar.
Chegando lá, com o coração na boca, cheguei ali no início da rampa e, para a minha surpresa, eles asfaltaram o caminho. Os meus olhos se encheram de água de alegria e na subida, apesar do óbvio friozionho na barriga, eu subi satisfeita em primeira marcha (para garantir que o meu carrinho 1.0 não morresse e eu junto sucumbisse de vergonha) e saí com um misto de pensamentos.
Parece ridículo pensar que uma rampa de pedras pudesse assustar tanto alguém como eu mas para mim essa rampa era quase um obstáculo intransponível e, no meu imaginário, eu precisaria de um homem para dirigir e passar esse obstáculo por mim. Só que o que me fez enfrentar isso foi o pensamento de que Deus é mais do que suficiente e não tinha nenhum motivo racional para que aquela dependência estivesse se estabelecido: a tarefa não exigia força acima do limite feminino, não exigia perícia que uma mulher não pudesse ter e nem uma outra habilidade que uma moça não tivesse. E no fim das contas, continuar com esse medo todo seria mais uma maneira de não confiar em Deus como suficiente para a minha vida.
O asfalto foi, para mim, um alívio. Provavelmente se o chão estivesse ainda repleto de pedrinhas, eu teria subido, mas teria surtado. Por outro lado, o asfalto para mim foi uma amostra do cuidado de Deus, me mostrando que quando eu me disponho a superar os meus limites, Ele me ajuda, às vezes mudando as circunstâncias (como as pedrinhas que foram substituídas pelo asfalto) e às vezes mudando o meu coração (e às vezes os dois ao mesmo tempo).
Lição aprendida na prática mais uma vez: quando tiver que fazer alguma coisa e tiver medo, procure se livrar do medo para fazê-la. Se não der para vencer o medo antes de começar, não tem importância: vá com medo mesmo. Só não deixe Deus de lado: Ele é o único que pode transformar o seu caminho de pedregulhos infames em um lindo asfalto lisinho e bem feito!
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