Acabei de chegar em casa de um jantar italiano que promovemos na igreja. A ideia do jantar era chamar pessoas que não conhecem a Cristo para comerem uma boa comida, conhecerem gente que gosta de gente e passar alguns bons momentos em um ambiente preparado para recebê-los com muito carinho, e claro, ouvirem breves palavras sobre Jesus. E lá fui eu ajudar a servir a comida nesse jantar.
Bom, muita coisa aconteceu nessa semana e acho que por conta de estar em casa há sessenta dias e ainda estar vivendo um período de tantas mudanças (emprego, minha filha mudando de casa, coisas mudando na igreja... enfim, tudo realmente novo), eu tenho sentido de vez em quando que não sou suficiente para essa nova fase que está se apresentando para mim. Claro que esse sentimento vem do fato de que uma vez que tudo é novo e ninguém nasce sabendo as coisas, não tem muito jeito de estar preparado até que se encare as coisas de frente e comece a estudá-las, ou simplesmente as viva quando não tiver a possibilidade de se preparar com antecedência.
Nesta semana também eu visitei algumas pessoas da minha família e por mais que eu tenha ficado muito feliz de rever pessoas que eu realmente amo e ando mais distante do que deveria, eu fiquei triste por ver que certas coisas estão muito piores do que deveriam (ou poderiam estar pelo menos). E isso me trouxe um sentimento de impotência bem complicado.
Fora isso, acho que a ficha está caindo e entender que minha filha vai mesmo morar com o pai e eu não vou tê-la mais todos os dias comigo, por mais que tenha um lado divertido da descoberta do novo, tem sim um lado bem estranho e até pesado que é o vazio que ela vai deixar. Eu tenho consciência de que Deus permitindo a situação (e foi Ele quem permitiu e quis assim) essa é a melhor escolha e a mim cabe lidar da melhor maneira com ela. Sei ainda que ela está indo no tempo certo ter essa experiência com o pai, e que vai no melhor tempo do nosso relacionamento, o que faz com que ela saia de casa com as melhores referências e memórias. Mas mesmo assim, de alguma forma, fica uma pontinha de impotência sobre a situação, não só por ter deixado o controle de lado (o que é bom), mas por sentir que eu não sei exatamente como serão os dias, e fico tentando criar estratégias para que o vazio que vai ficar não seja arrasador, entregando os momentos tristes nas mãos de Deus, que vai me preencher (e sim, fé serve para isso mas ainda não consigo relaxar completamente e viver sem essa ansiedade vez ou outra).
Então, ter me oferecido para ajudar a servir nesse jantar me pareceu uma boa ideia. Bom, boa ideia é um exagero, já que eu nunca fui muito coordenada e volta e meia acabo me distraindo e quebrando copos ou pratos (muito embora a mesa da sala que tem um tampo com vários pedaços grandes de vidro continue intacta há vinte anos, o que é verdadeiramente um milagre completo). De qualquer modo, ainda tentei me oferecer para fotografar o evento, mas de alguma maneira isso acabou caindo no vácuo da comunicação e eu fui mesmo servir os pratos para os convidados.
Durante cinco horas, não fiz nada além de carregar coisas de um lado para o outro, fuçar na cozinha alheia para encontrar utensílios em caráter de urgência, servir copos com suco e refrigerante e recolher louças e guardanapos sujos para servir a próxima leva da refeição. E sabe de uma coisa? Me senti (com o perdão da comparação) uma super heroína: não quebrei nada, e apesar do cansaço, o jantar foi ótimo e os quase setenta convidados comeram bem, repetiram a entrada, a salada, o prato principal e a sobremesa, e eu ainda tive a oportunidade no fim de conhecer dois rapazes muito bacanas, sendo que com o segundo tive uma conversa muito, mas muito agradável, sobre a maneira como as pessoas por aí andam vazias, buscando coisas que alimentem a si mesmo a qualquer preço, e o quanto isso não tem sentido... foi incrível!
Voltando para casa, entendi tudo: quando eu me sinto sem rumo, pensando que as coisas não tem sentido ou que eu não vou dar conta e que não sirvo para determinado contexto, é só me dispor a servir os outros porque, nessas experiências, Deus fala conosco nas coisas mais simples e nos mostra o valor de poder carregar vários copos ao mesmo tempo sem quebrar, ou ainda o quanto a gente não presta atenção nas pessoas que nos servem constantemente (eu pelo menos não presto a atenção que deveria).
E aí, tudo aquilo que parecia não insolúvel na minha vida e tão sem rumo, de repente, fica muito mais simples, e eu percebo o quanto eu estava perdendo tempo pensando em coisas que simplesmente não fazem sentido serem pensadas. E sou alimentada, e o meu corpo, ao deitar na cama, descansa feliz, e a minha alma, revivendo os momentos alegres do dia, adormece suavemente em um sono gostoso e revigorante. E o meu espírito fica mais pleno porque sabe que, mesmo que só por aquele dia, cumpriu o propósito de Deus para ele. E no final das contas, a nossa medida é (ou deveria ser) um dia de cada vez, porque menos do que um dia, deixamos de cuidar do que nos cabe; mais do que um dia, é muita coisa por vez para se preocupar. Então, vivemos a vida na medida certa, servindo para tudo o que nos cabe servir um dia por vez.
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