Engraçado como nestes dias eu percebi o quanto andava afastada da convivência com pessoas que não conhecem a Cristo no Brasil. Falo isso em parte com alegria, parte com tristeza. A parte alegre é que, de alguma forma, Deus me deu a oportunidade de conviver com pessoas que buscam Sua presença, procuram Sua palavra e realmente se rendem (ou buscam fazê-lo de fato) à Ele. A parte triste é que infelizmente isso significa que eu tive pouco contato com pessoas a quem poderia falar do amor de Jesus nos meus últimos tempos no Brasil. E para falar a verdade, de que serve um cristão que não tem a quem testemunhar aquilo que o Seu Pai faz por si mesmo?
De modo ousado decidi mudar de país e diferente dos demais participantes da equipe, eu acabei topando morar em uma casa com gente absolutamente desconhecida e que não necessariamente seria cristã. De início, gerou desconforto, e depois um senso de oportunidade, mas em tempo algum no meu país considerei os riscos reais e nem ao menos pensei que teria tantas lutas pela frente.
Chegando aqui, Deus me cercou com pessoas necessitadas e sedentas por Deus, mas ao mesmo tempo, muita gente que não sabe bem qual é o rumo, e não tem exatamente no que esperar. Sim, muitos que já ouviram falar sobre Deus, conhecem Jesus, mas não necessariamente de caminhar, e muito mais de ouvir falar. Nada contra, muito pelo contrário, mas para mim tem sido um desafio não estar chocada por algumas coisas que eu vejo acontecendo e que, de verdade, acontecem no mundo todo, mas que eu voluntariamente decidi me afastar no meu país, e agora são coisas com as quais preciso lidar diariamente.
Por exemplo: ouve-se falar muito de mulheres que buscam neste país um marido simplesmente porque não querem trabalhar, e o fazem a todo custo; por outro lado, homens que sentem que o dinheiro dá oportunidade deles terem mulheres que eles pensam que de outro modo não teriam a "companhia" e que, ao mesmo tempo, entram em um jogo de troca e de interesse. E como essa mentalidade está tão arraigada (talvez mais aqui do que no meu país, que vive uma onda de feminismo) na cabeça do povo local, parece que mesmo os que buscam coisas legítimas e corretas acabam usando seus dons e talentos pra se sentirem afirmados e serem notados como alguém que vale a pena. Por um lado isso me assusta, por outro me choca. E o pior: tenho consciência de que a errada sou eu.
Sim, estou errada, não por ter outros princípios e outra mentalidade. Não porque eu não acho que o maior valor de um homem seja o seu sucesso profissional, seu passado de glórias ou ainda seu potencial pra fazer dinheiro, mas principalmente sua disposição de conhecer ao Senhor e obedecê-lo, de respeitar e amar ao próximo e cuidar daqueles a quem Deus tem dado o privilégio de conviver. Estou errada por ficar chocada em ver um cenário que não seja exatamente assim por aqui, até porque sei que estamos nesse país pra trazer algo novo por aqui, diferente do que se vive hoje (mesmo na vida cristã) e que mais do que nunca, o exemplo diário da vida com Jesus é o que vai transformar e arrastar as pessoas a quererem mais e mais da presença e da comunhão com Ele.
No fundo, eu sabia que encontraria esse tipo de coisa por aqui, mas saber e viver tem uma distância incrível... por sinal, quando se vive isso intensamente, a primeira vontade é de sair correndo e confesso que eu mesma quis correr daqui, e em um determinado dia a vontade era sumir de todo mundo e simplesmente me trancar num canto sozinha, aparecendo de modo controlado apenas nos momentos em que eu precisasse (sem outra opção) conviver com situações como essa.
Quando me dei conta, vi que esse isolamento social e espiritual me tornou covarde, e não estou exagerando. Covarde sim, porque me coloquei numa bolha em que eu estava protegida de qualquer situação constrangedora e qualquer desafio maior que me fizesse buscar mais profundamente algum suporte em Deus. Sim, com vergonha confesso que me tornei covarde, uma princesa em uma bolha feita de paredes de concreto forradas por um tanto de religiosidade e espiritualidade, mas um ponto em que eu me sentia segura e que, no fundo, sabia que não correria riscos.
Óbvio que todo mundo precisa de um tempo em um lugar protegido desses, e claro que sempre precisamos de um lugar assim para onde retornar. Só que o que precisa estar claro é que, independente do que se pensa, esse lugar não pode ser necessariamente um endereço com CEP nos Correios, mas precisa ser um lugar fincado no coração de Deus, de modo que não importa aonde fisicamente estejamos, esse lugar seja alcançado assim como a tal "sala precisa" que vi uma vez nos filmes do Harry Potter (uma sala que aparece quando e onde ela é necessária, e contém tudo aquilo que é correto para o momento vivido).
Nunca, em momento algum, pretendemos nos tornar religiosos ou covardes, mas infelizmente quando não nos policiamos e não nos permitimos ir além, é exatamente o que nos tornamos. Infelizmente, acabamos nos deixando levar por padrões de usos e costumes e permitindo que nosso tempo e esforço sejam focados nisso e não no que mais importa: amar ao Senhor acima de todas as coisas (nossa "sala precisa") e amar ao próximo como Cristo amou a igreja (deixando de lado a autopreservação e a covardia, entregando-se àquilo que Deus nos reserva, confiando que mal nenhum nos consome quando estamos nas mãos Dele).
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