Nestes dias tenho sido convidada a encarar a morte de modo um pouco mais frequente. Graças a Deus não faleceu ninguém da minha família ou nenhum conhecido tão próximo (e eu digo graças a Deus porque se tem um assunto no qual eu tenho consciência da minha total e completa ignorância é a morte), mas nos últimos tempos aconteceram episódios que me fizeram refletir sobre esse tema.
Acho que o primeiro ponto foi ter sido escalada para sair da minha cidade e ir à uma cidade próxima auxiliar uma senhora que, estando em viagem com seu marido, ficou viúva. Ela, brasileira, não fala italiano, e ele, italiano, estando em seu país de origem, uns dias antes deles embarcarem no cruzeiro que os levaria de volta pra casa da viagem de comemoração de 48 anos de casados, teve um infarto fulminante e por aqui encerrou sua vida.
Esse episódio me marcou profundamente... acho que principalmente pelo privilégio de poder ter ido ao encontro dessa senhora e conhecer uma história tão bonita de relacionamento com êxito. Ela me contava que todas as manhãs ele fazia questão de preparar e tomar café com ela, já que sendo aposentado, ele tinha poucas atividades e curtia demais a companhia de sua esposa. Contou também que ele todos os dias insistia de levá-la a academia, e ela não permitia porque sempre gostou de caminhar, e não queria dar trabalho. Contou ainda da brincadeira dele com a filha que, desde criança, gostava de mexer e brincar com as orelhas do pai sentada no colo dele, e que agora com a notícia da morte, mesmo sendo adulta, estava arrasada. Eu ouvia aquilo tudo e pensava como ela foi privilegiada, e fiz questão de ressaltar isso pra que ela soubesse que, embora a dor do momento fosse dura, o que eles construíram de belo é muito maior do que ela poderia imaginar e é o que deve ser recordado e ressaltado. Claro, palavras de quem nunca esteve na posição dela, mas que sinceramente viu alguém que tem uma linda história de amor (rara nestes dias) para contar.
Outro episódio foi o falecimento de um irmão da igreja no Brasil que eu conhecia de vista e que tinha os seus 50 anos, e era pai de 4 filhos grandes, sendo o filho mais velho casado (eu fui na cerimônia) e marido de uma mulher sempre sorridente e com lindos olhos verdes iluminados pela alegria de conhecer Jesus. Sobre esse episódio, ficou pra mim a fragilidade da vida, já que um dia ele trabalhava normalmente e sem querer caiu do andaime, batendo a cabeça e vindo a óbito dias depois. Sim, ele está com Cristo mas a preocupação é com quem fica, e com o apoio àqueles que agora precisam seguir sem seu referencial humano.
Alem disso, o acidente de avião que ceifou quase oitenta vidas entre jogadores de um time de futebol de Santa Catarina e jornalistas. Como sempre, um acidente de avião não é quase um acidente, e sim uma sucessão de erros (muitas vezes iniciada ela negligência de alguém), e que deixou além da tristeza e da comoção geral a mostra de que ainda existem pessoas solidárias ao outro. Falo isso porque esse time viajava pra disputar a final de um campeonato nunca antes conquistado por eles, e o adversário não só abriu mão do título em prol dos falecidos, como no dia do jogo fez uma homenagem lindissima de deixar até o mãos durão soluçando de chorar aos que perderam suas vidas nesse acidente. Aprendo com eles como honrar e como reconhecer o que de fato é mais importante.
Por fim, andando pela cidade, acabei me deparando com o cemitério municipal, e ele é absolutamente monumental (aliás, esse é o nome dele) e guarda, com imponência, o futuro interrompido daqueles que se foram, e por muitas vezes, armazena a dor e o desespero de quem fica em esculturas que fazem questão de mostrar o sentimento de perda do ente querido. O lugar é incrível e andar por ali traz reflexões profundas.
Aprendizados? Primeiro sempre dar flores em vida, homenagear, reconhecer, agradecer a Deus e ao outro por tudo o que se tem, e saber priorizar o tempo, usando-o sabiamente para não chegar ao fim e ficar com aquele gosto amargo de que não aproveitou quando podia. Em segundo lugar, e de modo mais profundo, quando olhamos para Cristo, como compartilhou a minha amiga, fica a pergunta: "ó morte, onde estão seus aguilhões?". Olhando para a vitória de Cristo na cruz e para a vida eterna que Ele nos dá, dentro de mim de repente foi plantado um pouco mais de consciência sobre a eternidade, e sobre a vitória de Cristo sobre a morte, e aquilo me trouxe, por um lado, paz em relação aos que com Ele caminham e um dia com Ele estarão. A dor da despedida sempre é grande, mas não existe mais o tormento de pensar que nunca mais verei certas pessoas que são irmãos na fé. Quanto aos que não conhecem a Cristo, o desespero aumenta, porque desses sim a despedida é definitiva, e a consciência de que a morte os tratará é dura e traz o senso de urgência necessário.
Que o Senhor me capacite para, com base nessas experiências, seguir adiante com a postura correta e o amor necessário para com o próximo.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Oh, morte, onde estás?
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