E hoje foi o dia em que eu tinha marcado a minha passagem de volta ao Brasil.
Não, eu não pretendia voltar pra lá em momento algum, mas por várias vezes eu pensei na possibilidade de dar uma passadinha ali, aproveitar uns dias com o povo e voltar em janeiro, vendo o meu velho pai, dando um alô pra minha mãe, tomando café com minhas irmãs e irmãos, passeando na Paulista mais uma vez, olhando nos olhos da minha filha mais uma vez pelo menos ainda neste ano.
Curiosamente, eu tinha esquecido disso, e mesmo com os avisos da companhia aérea, nada me incomodou ou abalou. No fundo, eu queria mesmo ir, mas sabendo que não ficaria por lá e voltaria rápido para cá. Depois, comecei a achar que não era mesmo o tempo de passeios, mas ainda cogitei a possibilidade, até que realmente senti de Deus a paz em decidir ficar, queimando esse retorno, e tendo a certeza de que o tempo de estar ali definitivamente não é hoje.
Não poderei abraçar meu grande amigo que perdeu o pai na semana passada, não verei meus tios e primos no Natal como fiz praticamente a vida toda, não estarei com minha mãe em mais um almoço com bacalhau, e não terei minha filha ao meu lado, nem que fosse pra reclamar dos shoppings lotados ou para rir das coisas estranhas que o pessoal das miçangas faz no centro cultural e financeiro da cidade. Nada disso vai rolar nesse ano...
Calor? Agora só em maio, quando a temperatura começa a esquentar de verdade. Até lá, a minha filha terá me visitado e voltado pra lá, minha mãe terá chegado depois de meses sem nos vermos, e meu pai... bom, não sei como estará, mas espero que ainda bem e com saúde. Por aqui espero a neve com uma certa ansiedade de criança, uma alegria de quem está esperando uma grande novidade, mas ao mesmo tempo sabe que corre o risco de cair numa furada (e quem nunca caiu em uma e ganhou mil histórias pra contar depois?).
Como será a festa no Natal? Com a igreja, com os irmãos que também deixaram tudo para trás e, assim como eu, estarão procurando celebrar o Aniversariante do dia, em parte com alegria, em parte com dor, mas procurando sempre serem gratos pela oportunidade de estar no centro da vontade de Deus.
Até o momento não tinha ficado triste por isso, e parecia que o Brasil não fazia diferença... pelo menos não até aqui. Mas hoje, mais exatamente agora, sinto o quanto a minha raíz italiana é menos forte do que eu esperava, e o quanto os habitantes do meu coração são mesmo muito mais barulhentos do que eu esperaria. E como as vozes, os abraços e os sorrisos me fazem falta. Como o whatsapp, o skype, o e-mail e as redes sociais simplesmente não são suficientes, e como tudo isso de repente começou a ter o peso de um mundo inteiro...
Arrependimento? Jamais! Satisfação? Bastante, por ter a certeza de que estou no lugar certo e na hora certa. Espero sinceramente manter a postura correta, e sentir o meu coração sendo realmente cuidado por Aquele que é o Único que pode confortar-me, trazer o abraço que realmente cura, o colo que acalenta, a mão que sustenta e afaga. Dor? Neste momento, extrema, mas como tudo que vale muito na vida, a minha escolha tem um preço, e às vezes, lembrar da conta incomoda e doi, e manter os olhos no que vale a pena passa a se tornar absolutamente essencial. Eu diria que essa é a Única saída...
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