Acho que como todo filho único, eu pensei por muitos anos que compartilhar algo era realmente um sinônimo de dividir esse algo com outra pessoa. E de fato, penso que muita gente encara a coisa do mesmo modo que eu encarava. Mas, depois de começar a viver uma série de coisas nos últimos meses, começo a perceber que compartilhar e dividir definitivamente não são a mesma coisa.
Inclusive, como sempre prefiro fazer, fui pesquisar agora a quem o dicionário apoiaria: o meu velho ou o meu novo conceito. E para a minha surpresa, o dicionário me mostra que eu sempre estive errada... Se dividir significa demarcar, separar, cortar em um determinado número de partes, por outro lado, compartilhar significa ter parte em algo ou em alguém. Definitivamente, como dizem os italianos, sono caduta della nuvola (que é uma expressão que, traduzida literalmente, significa que eu cai da nuvem, mas que em sentido figurado, quer dizer que eu acabei de ficar chocada com o óbvio).
Dividir é saber que se tem algo e que parte disso não será mais seu e ponto final. Dividir é, por exemplo, cortar uma blusa ao meio: nunca mais será uma blusa inteira, e se for costurada, ela será uma blusa costurada, e não uma blusa perfeita.
Já compartilhar é como ter uma blusa perfeita e, às vezes usá-la, e às vezes oferecer à alguém para que essa pessoa também a use. A blusa continua inteira, e você tem a satisfação de ver a outra pessoa sendo abençoada com a sua blusa, que por sinal, continua sendo sua.
Portanto, quando pensamos em relacionamentos interpessoais, é importante saber o que se quer e o que se tem disposição antes de iniciá-lo (penso eu). Afinal de contas, existem pessoas que sabem e desejam compartilhar coisas com a gente, e tem gente que precisa mesmo que dividamos com ela algo. E se a pessoa está preparada apenas para dividir (ou espera apenas que o outro divida, o que é bem comum), isso não nos deve impedir de nos aproximarmos, mas facilita muito estar consciente de como será essa relação, já que não teremos expectativas que não fazem sentido.
Poder compartilhar é ótimo: afinal de contas, quem compartilha sempre tem o prazer de ter ao seu lado alguém que também, em contrapartida, de outros modos, em algum momento, compartilhará algo com você. Afinal de contas, como disse o dicionário, compartilhar é ter parte de algo ou de alguém, e portanto, compartilhando o seu tempo, o seu esforço, o seu carinho ou qualquer outra coisa sua com alguém, se tem parte de algo muito maior, que é essa relação mútua que se constrói em conjunto.
Mas... e dividir? Bom, hoje penso que dividir, quando se tem a percepção e a expectativa corretas, é uma dádiva, afinal de contas, ter tanto que se pode até doar uma parte, sabendo que não importa o que o outro faça, mas tendo a confiança de que o maior benefício você já ganhou (que é ser tão pleno, tão amado e tão próspero que pode dar pedaços de si e de suas coisas a outros) pode ser verdadeiramente libertador.
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