segunda-feira, 24 de abril de 2017

A geração do quarto

Recebi pelo whatsapp um texto que comenta sobre um jogo em que o adolescente recebe 50 tarefas desagradáveis e doloridas, sendo a última tirar a própria vida. E nesse texto, muito do que é dito (sobre estarmos deixando de lado nossos filhos, e sobre na verdade, o jogo dar a eles as emoções e sensações que não proporcionamos) lamentavelmente é verdade tudo isso... Mas devo dizer que muita coisa começou na minha geração, que cresceu com a babá eletrônica (TV) e se acostumou com o fast food (em que tudo é como desejamos e vem beeem rápido) cresci trancada em um quarto jogando videogame, mas naquela época, o maior perigo era criar bolhas nas mãos por causa do joystick... hoje, com a internet e o acesso fácil a maníacos e problemas de pessoas desajustadas, os nossos filhos estão muito mais vulneráveis. em contrapartida, muitos adultos cresceram desajustados, e tem nas redes sociais o conforto de descarregar de modo anônimo aquilo que o frustra, e acham a chance de, através de um relacionamento virtual, conseguir a satisfação que o relacionamento real nunca trouxe para si... mesmo que seja através de se sentir justificado e confortado com o sofrimento e o mal do outro... Deus nunca esteve distante, mas estamos tão ocupados com tantas coisas que o tempo que sobra, achamos que vale a pena gastar com quem aprendemos que vale mais a pena: nós mesmos. Afinal de contas, nossos pais nos ensinaram direitinho que tudo o que queríamos (pelo menos em termos materiais) poderíamos e deveríamos ter, já que muitos de nós não tem irmãos (e portanto, não aprendemos a dividir), e também porque sempre ganhávamos como compensação pela ausência de relacionamento familiar próximo um brinquedinho novo ou um doce diferente. E com isso aprendemos que o consumo e a comida podem sim aliviar muitas dores (pelo menos pensamos) e que, quando o dia foi difícil, merecemos nos presentear... Não aprendemos a sermos ouvidos, porque quando queríamos falar, nossos pais não tinham condições de nos ouvir. Portanto, quando falamos, somos estúpidos, porque colocamos para fora toda a nossa falta de aptidão e também as mágoas que acumulamos de anos e anos falando com as paredes, tendo dúvidas se elas realmente estariam ouvindo, mas tendo a certeza de que aquilo era realmente normal. Isso foi o que recebemos, e foi isso o que demos aos nossos filhos... com a diferença que hoje temos à disposição muito mais dispositivos tecnológicos para comprar, e por isso precisamos trabalhar muito mais, e também não tem tanto sentido assim se sentir culpado por não sentar à mesa para comer, afinal de contas, trocamos mensagens eletrônicas pelo whatsapp o dia todo. Mas ao mesmo tempo, desaprendemos a abraçar... olhar no olho é ameaçador, e ouvir uma outra voz que venha de fora da sua própria cabeça pode ser não só estranho mas realmente desconfortável. Ensinamos aos nossos filhos e filhas a se empoderarem, mas do que mesmo? De direitos que eles já tem, mas que por não terem uma identidade formada corretamente, não usufruem... e acham que precisam lutar por eles. Os ensinamos a gritar que devem ser aceitos, quando na verdade, o Criador do Universo já os aceitou desde antes que eles nascessem... e que o restante pode ou não aceitá-los, mas isso não mudará quem eles são.
Tem conserto? Claro! Nenhum pau que nasce torto continua torto depois de ser tratado pelo Carpinteiro de Nazaré. Mas, e até lá?
Penso que enquanto nós mesmos não admitirmos que não fazemos a menor ideia do que fazer sozinhos, porque afinal de contas, se fosse possível à minha geração se curar sozinha, já o teria feito, e enquanto não pedirmos ajuda ao Médico dos médicos, não seremos curados. E enquanto não formos curados, seremos apenas portadores de um discurso de lamento vazio e vão, sem efeito e sem sentido, porque no fundo, serão apenas palavras ao vento, já que em nós, nada disso ainda teve seu efeito comprovado.

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