terça-feira, 13 de junho de 2017

Are you ready for Masterchef?

Hoje, pensando sobre os relacionamentos interpessoais (particularmente naqueles em que, pra acontecerem, precisamos convidar ou aceitar o convite de alguém pra entrar num nível mais profundo de proximidade), me veio a seguinte ilustração: aquele programa de televisão chamado Masterchef.
O programa funciona assim: gente que curte cozinhar e tem boas noções gerais sobre a coisa se inscreve pra se apresentar a um júri de profissionais da culinária que vão avaliar o quanto vc é preparado e o quanto vc tem potencial pra ir além nesse quesito ou não.
A fase de eliminação em si é um show a parte: a maioria dos que se apresentam se acham e se sentem muito mais preparados do que realmente são. Dentro de suas casas, eles arrasam, mas quando são comparados com os demais, talvez até tenham os princípios e as técnicas corretas, mas ainda não estão prontos pra encarar o desafio, seja porque não tem ainda tanta técnica, ou porque procuram ser iguais aos outros milhares que já existem por aí (e cá pra nós, todo mundo curte uma exclusividade), ou ainda porque simplesmente não estão preparados pra pressão do dia a dia de uma cozinha profissional (não sabem seguir ordens, não sabem lidar com as frustrações ao ego, com as urgências, com o abrir mão do seu gosto pra produzir o que o avaliador aprovará, e assim por diante). E claro, geralmente quem é eliminado acaba se sentindo muitas vezes injustiçado... mas se ele for realmente razoável e tirar seus sentimentos da jogada, avaliando a situação depois de uns dias, verá que a negativa foi um livramento e que na verdade ela deve servir pra se preparar, e não pra deixar necessariamente a ideia de lado.
Nesse sentido, me ocorre que cada um de nós é um "concorrente", e que quando nos apresentamos aos jurados, na grande maioria das vezes, temos a visão errada sobre nós mesmos (e confesso que a grande maioria me parece que se sente muito mais preparada do que é de fato). Outros simplesmente "amarelam" com o desafio por não se sentirem prontos o suficiente, mas esquecem que ninguém nasceu sabendo e que o fim das coisas pode ser muito melhor do que o pequeno início delas (essa é a promessa do Senhor em relação aos que buscam os Seus sonhos).
Bom, uma vez começado o programa (com os selecionados inicialmente), começam os desafios que parecem pequenos pra quem assiste, mas que são as vezes decisivos pra quem os vive. A competição de fato ainda não começou, mas tudo o que vc faz pode te levar adiante ou te levar pra casa. Ou seja, a preocupação com a postura, com o tempo, com o ambiente geral, com os ingredientes... tudo conta e lidar com o nervosismo e as grandes expectativas que se tem da coisa como um todo parece ser o maior gigante.
No contexto geral, posso dizer que esse período é o de observação de alguém. Afinal de contas, ser observado é tenso, ainda mais quando vc tem a sensação de que está em observação mas não sabe exatamente o que funciona e o que não vai tão bem... E claro, as vezes se quer tanto estar em um relacionamento que a ansiedade de fazer parte desse mundinho dos "comprometidos" pode não só causar cortes profundos nos dedos como também perda de tempo, de foco, de sangue e da relação, que no fim era o mais importante.
Uma vez acaba essa fase das eliminatórias, começam então os desafios na cozinha do Masterchef. A cada semana aparece uma coisa completamente diferente pra cozinhar, com ideias diferentes, ingredientes que jamais foram usados (ou porque eram caros ou porque simplesmente vc nem sabia que eles existiam), e ali, segurança e tranquilidade para seguir instruções e controle de si mesmo são fundamentais. O tempo se torna um inimigo sem comparações, e saber lidar consigo mesmo no passar dos dias pode te dar aqueles segundinhos que vc precisava pra encerrar o prato como nunca o fez antes.
No relacionamento, imagino essa fase como a do namoro/ corte. Ok, namoro e corte (bem feita) são essencialmente diferentes, mas se ambos tem a base certa, a carreira é só de ascensão. Claro, de novo não é que o relacionamento em si seja uma competição contra possíveis outros pretendentes daquela pessoa que te interessa... mas de algum modo, é uma competição contra si mesmo, contra seu ego, suas expectativas e seus sonhos, já que não necessariamente eles estão errados, mas muitas vezes eles crescem tanto que tentam nos engolir. Nessa fase, se não rolar muita intimidade com Deus, muita paciência e muito carinho com a relação, acontecem grandes feridas e acidentes, que é o maior terror de todo e qualquer participante do programa (e na verdade também dos organizadores e jurados, cujo objetivo JAMAIS será massacrar ou torturar um participante, mas sim prepará-lo para essa nova fase que vai acontecer mais cedo ou mais tarde, se o próprio participante não desistir).
Chegam então, graças a Deus, as finais. Agora a segurança do que se sabe ajuda, assim como a intimidade com o espaço da cozinha, com a grande maioria dos instrumentos e obviamente com os jurados e seus próprios concorrentes. Ali o desafio é o foco porque, estando tão perto, o ego começa a cutucar de novo, e o espírito de "já ganhou" começa a querer comandar. Nada mais inapropriado, não só para essa fase, mas penso que para toda a vida, já que tudo que não é cuidado acaba estragando ou se perdendo. Pra mim, essa é a fase do noivado. Ao mesmo tempo que "já é seu", essa é a ocasião pra aprender que nunca será completamente seu, e ao mesmo tempo será seu enquanto vc cuidar bem. Até pq, sem ficar espiritualizando, o fato é que até na igreja as coisas não funcionam como deveriam por causa da arrogância do ser humano em geral.
Ufa.. a competição final, o último prato, na verdade é um misto de alegria, realização, satisfação e expectativa pelo que virá. Não importa muito o que aconteça, o futuro é quase certo e agora é curtir. E esse é o dia do casamento, certo? A única coisa que não se pode fazer é deixar o nervosismo arruinar tudo... de resto, meio que pode: tempo de reavaliar a caminhada, de celebrar a chegada até ali... de rir, chorar, agradecer... mas.. e depois? Vem o troféu e acaba ali?
Bom, depois disso, na verdade, vem a parte mais importante: a vida real, o dia a dia, a carreira de fato, e em especial, o que acontece por detrás das câmeras... olhando dessa forma, será que vc está mesmo preparado?

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