Me distraindo um pouco nas redes sociais pela manhã me deparo com a seguinte pergunta: "como explicar a um cego de nascença o que é o arco-iris?" e começo a pensar... e claro, a primeira conclusão é que, com certeza, essa pergunta tem a ver com o Papai.
Como será que um cego que nunca enxergou absolutamente nada imagina a cor, a profundidade focal, a intensidade da luz (não em relação ao calor provocado, mas em relação ao efeito visual que ela provoca), a perspectiva... difícil realmente de entender, já que em princípio ele não tem grandes referenciais práticos pra uma construção mental teoricamente apropriada do que é, por exemplo, um por do sol no meio do mar. Explicar então o arco-iris, que é algo completamente visual, e que parece tão distante até pra quem enxerga... dura missão!
Fiquei pensando, e pra mim, a saída é começar do começo. Ou seja, começar a propor uma cirurgia nos olhos, de modo que, aos poucos, a pessoa possa enxergar tudo o que está ao seu redor e que, até o momento, só percebeu em parte.
Eu nunca fui cega, mas mesmo quando era miope, não enxergava bem certas coisas, e ao tentar ver ao longe, a clareza me fugia e eu simplesmente começava a ver tudo borrado e sem definição adiante de mim. E assim eu vivi por anos, até o dia em que pude fazer uma cirurgia que mudasse essa realidade.
Claro, comecei a pensar nessa possibilidade quando comecei a perceber que o que eu via não era suficiente, e o que me motivou foi uma insatisfação de dentro para fora de mim, de modo que eu passei a desejar realmente enxergar os contornos da vida. Então, comecei a me movimentar, fiz os meus exames, busquei ajuda pra ir e voltar no momento da operação e me lembro como se fosse hoje que houve uma decepção quando o médico me disse que não seria instantâneo, e que eu teria que operar um olho, e só depois de quinze dias o outro.
No dia da primeira operação, fui animada, e saí desesperada. Isso porque, embora a operação em si tenha sido incrivelmente rápida, para mim durou horas. Ver os seus olhos sendo raspados como um jardim sujo de flores esmagadas e frutos já grudados pelo tempo, e depois sendo lavados com água não foi nada agradável. Mas definitivamente, a dor e a sensação de que eu tinha raspado vidro partido em meus olhos nos outros dez dias seguintes me faziam entristecer porque eu pensava que ainda tinha mais um olho para passar pelo mesmo processo.
Fui firme e no fim do processo eu comecei a ver a vida com contornos que jamais imaginei que existiam. Comecei a ver as coisas ao longe, sem óculos, sem lentes de contato, sem mais nada... só com os meus olhos, e aquilo foi fascinante. Não troco essa decisão por nada, e hoje faria tudo outra vez. E isso porque eu não era cega...
Mas como convencer um cego? Bom, ele precisa estar indignado com a sua própria situação, e conforme ele for ouvindo as lindas descrições que fazemos sobre o arco-iris, aquilo pode fazê-lo sonhar, e o fará mover-se em direção a uma solução. E ele buscará a cura. E quando estiver enxergando, no tempo certo, verá sobre os céus um lindo arco-iris, coroando aquela mudança que ele se permitiu em sua vida.
O Papai tem coisas incríveis para nós, mas como explicar a Sua aliança a alguém que nem vê que Ele existe, o planejou, cuidou dele desde sempre e o ama profundamente? Pra mim, só é possível confiar em quem se conhece, e o primeiro passo é plantar esse conhecimento através do Amor recebido do Papai na vida dessa pessoa. Aos poucos, isso vai gerando a indignação necessária, e ela também vai querer ser não só ouvinte, mas transmissora desse Amor, e quando ela decidir isso, seus olhos serão abertos, e, quando ela menos estiver esperando, saíra um arco-iris depois de um tremendo temporal em sua vida, mostrando aquilo que o Papai sempre quis que ela percebesse, mas que agora, ela tem condições de perceber e apreciar.
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