Acho que a coisa mais interessante que tenho aprendido nos últimos tempos é como varia de cultura para cultura a recepção de um "sim" ou de um "não" nosso. No Brasil, aprendi de infância que são raras as pessoas cujo "sim" ou "não" são realmente mantidos até o fim... e pior, isso é considerado normal e em alguns contextos até uma coisa boa (sinal de flexibilidade). Na Itália, descubro que o "sim" e o "não" tem certo peso mas nada absoluto como eu esperava... mas muda porque aqui, se uma pessoa diz que não quer ou não vai fazer algo sem maiores rodeios, os outros não se sentem mal e nem ficam ofendidos. Já no Brasil, se vc não dá mil voltas pra pedir perdão do porque você pode não poder (porque raramente você vai admitir que não está a fim pra não soar desagradável ou ingrato) você é considerado grosseiro e insensível. Em compensação, na França (e pelo pouco que vi na Alemanha também) o "sim" é sim mesmo e o "não" idem, e muita gente se sente desrespeitada se você não for direto, simplesmente porque você está gastando um tempo desnecessário pra dizer algo que em dois segundos poderia ter resolvido. Na cabeça deles não tem sentido alguém se sentir obrigado a fazer algo e portanto não dar uma resposta direta é no mínimo estranho (e as vezes pode ser interpretado como um comportamento não confiável).
Então, muito além do contexto em que se vive (eu particularmente nesse quesito sempre fui italiana e só me dei conta realmente quando cheguei na Italia), penso que a vida que vale a pena é aquela que, sabendo o que quer e para onde vai, move-se nesses dilemas sociais com sinceridade e gentileza. Hoje em dia procuro dizer "sim" com alegria e ainda luto muito pra dizer "não" sem culpa. Afinal de contas, essas duas palavrinhas são (ou devem ser) dosadores de compromissos que assumimos de modo a cumprirmos nossos papéis e responsabilidades de modo claro e seguro.
Mas, cá entre nós, como faz pra pedir licença e dizer que não posso parar para ouvir uma história de alguém que claramente precisa falar, mesmo que seja num momento super inconveniente pra mim? E como digo "sim" com alegria pra algo que eu sei até que é necessário, mas que é chato pra caramba, que não vai trazer grandes frutos e que não será reconhecido jamais (aliás, gera o risco de causar mais empenho e complicação depois do "sim" sem grandes ganhos)?
Para mim, esse é um aprendizado essencial, mas sinto que nessa cartilha ainda estou só no primeiro capítulo... ontem mesmo, ao final do dia, eu estava morrendo de cansaço, e alguém do trabalho começa a falar e falar e, no fim das contas (ainda bem que eu já tinha terminado o que estava fazendo) acabei parada ali escutando e conversando com essa pessoa por mais de uma hora. Valeu a pena? Não sei... na minha vida mudou pouco aquela conversa; espero que para aquela pessoa tenha realmente sido importante.
Morrer para si no momento certo, na minha visão, é a medida justa. Ou seja, saber escolher quando aceitar algo, e principalmente avaliando corretamente o motivo pelo qual se está fazendo aquilo, é pra mim a chave que muitas vezes não consigo usar. Saber deixar de lado o orgulho e a reputação no momento de necessidade verdadeira do outro é tão importante quanto abraçar-se a si mesmo e reconhecer o seu limite quando o que foi proposto não tem uma motivação compatível com os princípios de vida que foram estipulados para si mesmo. Por sinal, a coisa que traz mais desgaste a uma pessoa, ao meu ver, é não ser (ou se permitir estar em uma situação em que não se pode ser) um só em qualquer situação ou circunstância. Manter muitos papéis é normal; manter muitas personalidades e modos de agir é doença. Como dizia alguém que eu conheci, fazer "picadinho de gente", criando uma faceta pra cada contexto, é em último grau, um pouco (ou tanto) de psicopatia. Mas isso, definitivamente é outro assunto... e eu me permito não refletir sobre ele aqui neste momento.
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Uma vida que vale a pena: parte 8 - o sim e o não
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