Nos últimos dias, o cenário político brasileiro tem me feito arrepiar até o último dos fios de cabelo. Sinceramente, vejo por todos os lados pessoas defendendo com unhas e dentes não só candidatos, mas ideologias que, de verdade, a maioria delas, quando questionada, dizem que não é bem assim, ou que não gostariam que fossem aplicadas na sua integridade. Pior: vem perdendo amigos, criando problemas, gerando desconforto e fomentando um ambiente de tensão, medo e raiva. E a coisa está tão séria que não importa muito de que lado a pessoa está: dependendo do grupo de palavras que você usar, a pessoa (mesmo sem ser mencionada ou referida em uma postagem de rede social) se ofende ou se posiciona contra você (isso mesmo, diversas vezes não é contra o seu posicionamento, ou contra a sua ideia, mas contra a sua pessoa). E isso sinceramente me assusta.
Em primeiro lugar, eu sinceramente não acredito que nenhuma pessoa vá salvar o país, seja de que partido político for e não importando qual ideologia siga ou defenda. O que muda mesmo um país é uma mudança coletiva de mentalidade e princípios voltados para o coletivo, para o bem estar do povo (e aqui não falo de gente mais pobre ou mais rica, mas do grupo como um todo), de modo que a pessoa não pense que está tudo bem jogar um pedaço de papel no chão porque é chato carregá-lo até a lixeira mais próxima (afinal de contas, quando chover, esse e mais todos os outros papéis atirados no chão por pessoas que pensam como você, serão arrastados aos bueiros que entopirão, e você e todo mundo - inclusive quem não faz essa porquice por preguiça - amargarão uma enchente nas ruas). Inclusive eu tenho a convicção de que colocar a culpa no político e não devolver o troco que a moça da padaria te deu a mais por engano é só pura hipocrisia mesmo, e que enquanto eu tratar as coisas assim, o país será assim: corrupto. E todo mundo sofre com isso, cada um de um lado.
Em segundo lugar, esses caras entram e saem do poder o tempo todo, e nada mudou isso nunca. Por mais bem intencionada que seja a pessoa, uma coisa é ter um discurso (seja ele qual for), e outra é praticá-lo (porque pra isso tem que ter não só peito mas também muito senso de oportunidade, visto que é necessário fazer uma série de alianças políticas com muita gente que já está lá há séculos e que conhece todos os pormenores de cada canto da lei, que parece que foi feita propositalmente de modo confuso para que a grande maioria simplesmente não conseguisse controlar e até nem mesmo compreender). Sendo assim, o discurso que ouvimos é, na verdade, uma isca para te convencer a colocar a pessoa ali, e não necessariamente será colocado em prática.
Dito isso, passo ao terceiro lugar: a vida deles, com ou sem você, vai continuar. Com isso, quero dizer que pra você faz diferença se a tua mãe vota ou não em candidato "x" ou "y" mas pra eles, desde que ganhem a eleição, não muda em nada se as tuas relações interpessoais estão ajustadas ou não. Para nenhum deles faz diferença quantos amigos você perdeu por conta de acreditar no teu candidato cegamente, porque na hora em que ele estiver eleito e as coisas não andarem como você esperava (porque muito provavelmente não andarão), então é (ou no caso seria) o teu amigo ou a tua mãe que pode fazer alguma coisa prática por você. Mas... ops... onde está todo mundo mesmo? Fugindo da tua agressividade, da tua falta de respeito com o próximo, da tua falta de empatia e de ouvidos (exceto para o que diz a assessoria de imprensa do teu candidato, ou você acha que só o concorrente tem a "mídia suja e corrompida" a seu favor?). O teu candidato (agora eleito e empossado) continuará vivendo a vida dele normalmente, com os amigos e com os acordos que convém a ele, e você estará sozinho tentando atravessar mais um furacão que teu fanatismo colocou no poder.
Então, de verdade, independente do que você pensa, considere se o que você tem defendido está acima do seu relacionamento com as pessoas que fazem sentido e valem a pena na sua vida. Pense o que seria da sua vida sem essas pessoas, e pense sinceramente como seria a vida se o seu candidato nunca tivesse existido. Pense quem estará com você no hospital quando você passar mal ou quando o seu filho nascer; pense em quem vai comer na tua casa quando for o teu aniversário; pense quem vai comemorar mais um campeonato conquistado pelo teu time, ou quem vai chorar com você uma grande perda.
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