Hoje eu estava falando com meu namorado, contando sobre um jantar ontem que tive com uns amigos, cujo objetivo era levar um rapaz que veio do Brasil para ensinar a igreja sobre evangelismo, e sobre como podemos de fato cumprir aquilo a que nos propusemos inicialmente, que era vir à Italia para compartilhar Jesus com os italianos e quem mais estivesse por aqui. Na verdade, parece até meio estranho dizer que, mesmo sendo missionários há anos (essa igreja começou como um projeto há quase quatro anos atrás), ainda estamos muito aquém do que temos a convicção de que Deus quer para esta nação, e é ótimo poder contar com alguém de fora do nosso contexto para vir e falar algo que nos ajude nessa missão. De qualquer modo, que bom que Deus enviou esse moço para nos ajudar como igreja a mudar uma série de pequenas coisas sutis que estão tão enraizadas mas que, de verdade, nos aprisionam, nos atrasam e nos fazem perder o foco.
A ideia do jantar veio da aula que esse moço veio dar aqui uns dias atrás: um pessoal da nossa célula foi na aula, e ficou impressionado com a paixão e com a simplicidade, com a leveza que aquilo que ele trazia sobre Jesus. Não que eles não tivessem ouvido falar de Jesus; não que eles já não O conhecessem e não O desejassem ainda mais do que nunca, mas ter alguém de fora era certamente um incentivo necessário. E claro, sendo ele um visitante, o pessoal da célula de maneira "furba" (que quer dizer algo com "espertinha") o convidou para jantar, não só com o objetivo de fazê-lo experimentar a verdadeira culinária italiana, mas também para aprender um pouco mais com esse rapaz tão jovem, mas ao mesmo tempo tão adiante de nós nessa caminhada com Jesus.
Enfim, estava eu contando sobre esse jantar para o meu namorado e fui contando como fiquei feliz de ouvir aquilo que ele disse, que de fato era o que eu já vinha entendendo e buscando para mim. Disse também que eu estava feliz porque sendo uma pessoa de fora falando, então as pessoas da liderança aqui ouviriam, porque se eu falasse, sendo eu alguém de casa, sem títulos e sem cargos, e sem fama, eu não seria levada em consideração, porque afinal de contas, eu já cansei de falar certas coisas e ninguém me deu atenção...
E de repente, ele me interrompe, e me alerta para uma coisa que eu jamais me dei conta: esse espírito de vitimização que me ronda e que, de modo muito sutil, eu tenho abraçado nos últimos não sei quantos anos da minha vida. Hoje, no meu discurso, ele se apresentou através do "ninguém me escuta", mas poderia vir através do "ninguém me ama", ou do "ninguém me valoriza" ou do "ninguém me enxerga" ou de qualquer outra variação do mesmo tema, que no fim das contas, só quer dizer mesmo que o problema está em mim, e o problema é que, no fundo, tem um pedaço da minha identidade que não está completamente resolvido.
Convenhamos: uma pessoa com a identidade completamente curada, não se vitimiza. Uma pessoa que sabe quem é e toma as rédeas da sua vida, conduzindo-a para ser sempre uma versão melhor daquilo que Deus a fez para ser, através de um relacionamento diário com o Espírito Santo, não tem problemas em se expressar. Essa pessoa não vive reagindo ao que o outro faz ou diz: ela simplesmente age quando lê na circunstância (seja natural, seja espiritual) o momento oportuno de se posicionar de acordo com aquilo que ela foi criada por Deus para ser, não importa o que for. A pessoa curada sabe admitir quando erra, e sabe reconhecer quando acerta, mesmo que outros não vejam isso, e não se magoa quando percebe que disse ou fez algo correto mas incompreendido pelo meio. Na verdade, isso não importa, porque ela percebe que esse é de fato o papel dela: levar adiante a mudança que ela quer ver no mundo, sem imposições, sem discursos vazios, mas sempre baseada no Amor Gracioso do Papai, que nos criou e nos capacita todos os dias, não nos transformando em perfeição, mas nos fazendo expressar a Ele mesmo, e o que Ele é e tem é sempre correto, adequado e suficiente, mesmo que as pessoas não entendam isso.
E eu fiquei em choque... acho que em parte porque eu não percebia esse espírito de vítima sobre mim, mas em parte também porque de repente ficou muito mais claro como ou porque certas coisas me parecem não andar bem (pelo menos dentro de mim), mesmo quando eu tenho a convicção de que fiz a coisa certa. No fim das contas, está tudo no lugar, só que eu preciso atualizar a minha visão sobre mim mesma, porque de fato Jesus se fez vítima em meu lugar naquela cruz, para que eu fosse livre de qualquer peso ou condenação, especialmente em ser aquilo que Deus sonhou que eu fosse. Eu preciso atualizar a minha visão sobre mim, lembrando-me porque e para que Ele me criou, e não me fechando atrás de discursos que só tentam me convencer de algo que eu não sou. E preciso por mim mesma, para cumprir na minha vida o que diz Paulo em 2 Corintios 2:21: "Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça vem pela lei, Cristo morreu inutilmente!"
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