quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Meus heróis morreram de overdose...

Assim como cantava Cazuza, muitos cantam, seja com canções, seja com declarações, seja com atitudes. E às vezes parecem nem se dar conta da falta de coerência entre os seus discursos ou entre os discursos e as atitudes...
Na música "Ideologia", o compositor fala sobre a frustração, sobre desilução e sobre querer algo a mais para acreditar. De acordo com a música, o garoto em questão é alguém que já tentou seguir sonhos e ideais puros mas desistiu porque viu que, apesar das suas sinceras tentativas de levar sempre o melhor adiante, percebeu que não mudará sozinho o mundo e que, na verdade, até os que estão do lado dele, não estão assim tão a fim de tentar mudar as coisas, seja porque se renderam ao fato de que se sentem sozinhos e de que não farão nada desse jeito, seja porque entenderam como tirar proveito da situação e agora, mudar o mundo significaria mudar também a eles mesmos. E aos poucos ele vai percebendo que seus heróis, aqueles que tentaram antes dele resistir, morreram drogados com distrações mil, tentando anestesiar a dor da situação e da frustração. E ele vai vendo que os inimigos, as pessoas que ele mais desprezava, estão no controle da situação e ele vai ficando cada vez deprimido e o tempo vai passando, sem que hajam ganhos para ele. Então, esse rapaz se dá conta de que, na verdade, ou ele se adapta e passa a ser "um deles" (ou seja, alguém que se entregou, se corrompeu e que está procurando aprender a jogar o jogo como jogam os que mandam), ou então ele decide resistir ao seu modo (como canta Nando Reis na canção "Não vou me adaptar").
Isso é raro? Para mim, hoje em dia, sim e não. Isso porque eu creio que existem muitas decepções e de fato somos uma geração muito pouco flexível e adaptável e menos ainda resiliente, e estamos criando uma geração ainda pior do que nós nesses sentidos. Por outro lado, acho sim que é raro, porque ideais puros são dificílimos de se encontrar e com isso, cada vez menos pessoas querem de fato mudar o mundo para melhor, resgatar alguém ou fazer algo que beneficie o todo. E viva-se com um barulho desses.
Mas, e quando esse "garoto" é alguém que realmente acha que acredita em Jesus e o Seu amor como estilo de vida? E quando esse "garoto" é alguém que, por um lado, prega que precisa de Jesus, diz que depende do Seu amor, que deve conhecê-Lo mais profundamente, e que se julga um seguidor Seu, mas ao mesmo tempo declara admiração sincera (chamando-o até de gênio) a um empresários mais safados do país? E quando esse "garoto" expressa um misto de indigação e incômodo por um lado porque o tal empresário paga um salário indecente a um filho que trabalha para ele (mas para quem esse empresário paga todo o restante do sustento, incluindo conta de celular ilimitada e combustível para o carro que por sinal foi dado pelo pai), e ao mesmo tempo, esse "garoto" paga a mesma quantia para um funcionário seu por mais de um ano e não dá nenhum outro direito trabalhista (e obviamente não paga mais nenhuma conta)? E quando esse "garoto" canta uma decepção com o sistema nas suas declarações de intenção de fé, mas ao mesmo tempo age como os inimigos que estão no poder? O que fazer neste caso?
Começo a achar que tem muito cristão que vive uma ligeira cegueira ética, de cidadania e de caráter no geral. Aliás, provavelmente todo cristão é, certamente de início e depois ainda por um bom tempo, um mau caráter que precisa ser transformado pela obra do Calvário. Só que teoricamente para mim parecia lógico que todo cristão, por contemplar a Cristo, tomasse consciência da sua própria miséria e da sua condição pecaminosa, mas não é o que acontece... pelo menos não tão cedo. Curiosamente, nos tornamos hipócritas, porque através dos nossos discursos inflamados de amor e entrega declaramos coisas que jamais fizemos e que jamais faríamos, e que se formos questionados, pelo nosso desejo e interesse, não deixaremos de fazer jamais.
Provavelmente por isso tantos ateus e tantos que creem em outras coisas não só não se sentem amados por Jesus (porque os fazemos acreditar que somos de fato imitadores de Jesus, o que infelizmente está realmente muito longe da verdade) como também nos detestam, porque eles, de fora, são capazes de ver a nossa hipocrisia, a nossa falta de coerência e a nossa preferência por aquilo que nos traz mais conforto.
A minha oração é que tenhamos consciência e que possamos entender o mais profundamente possível, e possamos ser constrangidos pela verdade que Paulo descreve em 2 Coríntios 3:

"Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?
Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens.
Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.
E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;
Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,
O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.
E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória,
Como não será de maior glória o ministério do Espírito?
Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.
Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória.
Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece.
Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar.
E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido;
E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.
Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará.
Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor."

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