Essa é a segunda vez que tenho a oportunidade de pregar sobre o tema "sinceridade", e pra ser sincera, ser sincera não é nada fácil...
O contexto é o seguinte: a igreja da aula faço parte faz alguns eventos, e num deles, cujos participantes são pessoas que não conhecem a Jesus ou que O conhecem ainda bem pouco, fazemos uma série de quatro pregações rápidas e simples baseadas na história da mulher do fluxo de sangue. Em cada uma dessas pregações é apresentado um princípio, sendo eles: fé, indignação, sinceridade e amor. E me coube pela segunda vez falar de sinceridade tendo por base o testemunho dessa mulher que procurava a cura do seu corpo mas que, ao final, obteve a sua salvação em todos os níveis (espiritual, sentimental, físico e relacional).
Não pretendo explicar aqui todo o argumento da pregação sobre o tema que me foi proposto, mas contar qual foi o meu testemunho dentro desse convite que pra mim, mais do que inesperado e restaurador, foi no mínimo inusitado, visto que veio daquele com quem a ultima conversa foi a maior discussão que tive nos últimos tempos por causa da minha sinceridade (discussão essa interrompida por circunstâncias alheias a nós, graças a Deus, e que provavelmente não será mais retomada porque, no final das contas, perdeu um tanto do sentido).
O fato é que, sendo sempre conhecida por ser sincera demais, sofri toda a minha vida, simplesmente porque na maioria das vezes, as pessoas prefeririam que eu guardasse pra mim mesma aquilo que sinto, penso, vejo ou compreendo... porque obviamente tudo isso incomoda a quem escuta. Aliás, uma vez fui chamada de "Anunciadora do Apocalipse" porque em geral, o que digo acaba sendo confrontador e desconfortável pra quem escuta.
O que dizer então quando depois de anos a fio aprendendo a conter-se (porque afinal de contas ser sincera demais, mesmo aprendendo a ser educada, tem um preço bastante alto para quem o é) acontece o convite de incentivar a outros a serem sinceros?
No caso da mulher hemorrágica, se ela não fosse sincera consigo mesma em primeiro lugar, jamais teria superado todos os seus conceitos, seus prováveis preconceitos e seus riscos, afinal de contas, na sociedade em que vivia, ela se aproximar de um homem tendo um fluxo de sangue presente no corpo era passível da punição mais dura: o apedrejamento. Por outro lado, ela se encontrava naquele momento da vida em que não tinha mais nada a perder: se ela não tentasse encostar em Jesus (já que ela tinha a consciência de que jamais lhe seria permitido falar com Ele), e portanto ser curada, ela morreria por causa da sua doença; por outro lado, se fosse descoberta, ela seria apedrejada, e morreria de qualquer modo. Ou seja, para ela só servia uma coisa: um milagre!
No meu caso, eu não tinha nada a perder, mas ao mesmo tempo tinha tudo a perder. Tendo em conta que deixei para trás toda uma vida no Brasil para vir falar do amor de Deus a esse povo, cair na tentação de falar sobre algo que pra mim não é verdade absoluta, só para cumprir uma agenda, ou para ajudar a um outro qualquer, por mais importante que seja, me violentaria o espírito. Considerando ainda que há meses venho questionando pontos da estrutura religiosa, dos conceitos vividos como igreja comparados ao Evangelho e das atitudes que vejo ao meu redor vindas de pessoas que são consideradas cristãs, sinceridade era realmente um tema super arriscado... como abordar?
Então, decidi fazer a única coisa honesta a se fazer do meu ponto de vista: me colocar diante de Deus e ser sincera. Coloquei ali diante Dele minhas inquietações (as dos últimos meses e mais essa em relação ao tema da pregação), meus desejos, minha vontade de falar mas ao mesmo tempo minha necessidade de ter uma vida cristã coerente e sólida... e a minha incerteza de como conciliar tudo isso em vinte minutos de mensagem que de fato trouxesse algo relevante a essas pessoas. E Ele, no Seu mais gracioso cuidado comigo, começou a me trazer a memória uma série de pequenas coisas, lembranças e situações que vivi. Trouxe também inquietações, dores e vitórias. Me permitiu ainda reavaliar a mim mesma e a tantas coisas que eu venho buscando reorganizar dentro de mim, e aos poucos foi me mostrando do que realmente se tratava a coisa toda: a sinceridade começa em mim (para comigo mesma, para com Deus e para com o meu próximo). Sem isso, nada do que venho lutando internamente pra que gere frutos bons no exterior terá valor...
E assim foi: me coloquei ali, me lembrei dos meus bons tempos de instrutora e, com toda a minha sinceridade, abri ali meu coração, me coloquei no lugar daquela mulher, e no lugar daquelas pessoas que me ouviriam, e me deixei expressar e fluir de dentro tudo aquilo que Ele já tinha colocado ali no meu coração para este tempo. E posso ser sincera? Não sei como foi para quem me ouviu, mas pra mim foi absolutamente libertador! Ao final eu chorei, me lavei nas lágrimas que estavam represadas por tanta pressão gerada por coisas que não se encaixavam dentro de mim, e tudo começou a voltar ao lugar. Percebi que nasci mesmo para falar a outros sobre aquilo que Ele me proporciona aprender, viver, curar, experimentar e amar... e que quando deixo de lado a sinceridade em prol do bem estar comum, um pedaço de mim morre... e quando me calo, o outro pedaço apodrece...
Então, sinceramente, aprendi que as vezes os convites mais improváveis te trarão exatamente aquilo que você mais precisa, desde que você seja sincero o suficiente consigo mesmo para, diante de Deus, se apresentar e pedir sabedoria, para não desperdiçar a chance, e render daquele desafio mais uma vitória da Graça na tua vida.
sábado, 3 de novembro de 2018
Sinceridade
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