segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Comereis o melhor dessa terra

Isaias começa o vigésimo terceiro livro bíblico (sendo o primeiro classificado como profético, porque inicia a parte dos escritos dos profetas no Antigo Testamento) alertando o povo de Israel sobre o quanto é abominável a conduta do povo diante de Deus. Ele menciona que o povo, mesmo tendo sido resgatado e mesmo tendo sido cuidado por Deus por toda a sua história, blasfemou e deixou os princípios da fé para trás. Ele menciona também o quanto são inócuas as iniciativas do povo em tentar "restaurar a relação com Deus" fazendo ofertas conforme a lei, mas completamente sem significado, porque elas eram vazias de intenção real de mudança ou arrependimento; eram apenas tentativas de pagar de algum modo a sua liberação diante do descaso com Deus e seguir adiante na mesma vida egoísta e estúpida que viviam.
Conforme vamos seguindo adiante na leitura, é possível ver que Deus diz através de Isaías que, na verdade, ao invés de fazer ofertas e sacrifícios e pagar o dízimo, o povo deveria prestar assistência às viúvas e ajudar os pobres, porque aí sim, seguindo os Seus princípios, a vida do povo mudaria, porque esse sim seria um sacrifício aceitável ao Senhor.
No versículo dezenove, então, Isaías diz: "Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra", mas infelizmente, não só a frase é tirada do contexto em muitos casos, como também é resumida, deixando de lado o entendimento principal, que vem do ato de obedecer a Deus.
Bom, por que estou escrevendo sobre tudo isso? Porque hoje recebi uma mensagem de uma pessoa querida demais que queria mesmo me desejar um lindo dia (e claro, foi fofíssimo o seu ato), mas me fez meditar sobre aquilo que ela tinha me mandado... e eu perguntei então o que, para ela, significava a expressão "comer o melhor dessa terra", e a resposta foi interessante, mas um pouco diferente do que conclui que entendo. E prometi então compartilhar com ela sobre isso (e claro, mais fácil escrevendo aqui, porque pra mim, escrever é o modo mais eficiente de organizar tudo para expressar aos outros e até para mim o que penso, sinto e desejo, e também o que aprendi e aprendo).
Enfim, olhando para o contexto do capítulo seria possível dizer tantas outras coisas, mas acho que a principal é que o capítulo transmite para mim o que Deus considera o mais importante: os relacionamentos saudáveis com Ele e com o próximo. Ou seja, mesmo no Antigo Testamento, existem sim alguns momentos em que Deus mostra o Seu desejo de se relacionar com o Seu povo, e também o desejo de que o ser humano saiba se relacionar com o seu próximo. Aliás, desde então (e provavelmente em toda a Bíblia é assim), Ele já estava expressando a Sua essência: o Amor.
E claro, voltando à pergunta principal, se o maior desejo do nosso Papai é que nos amemos, o que seria o melhor na Sua visão? Bom, essa é obviamente a minha opinião sobre a coisa mas, eu acredito que o melhor dessa terra é ter relacionamentos profundos, cheios de amor, de cuidado, de apoio, onde um incentiva o outro a se relacionar melhor com Deus, e onde cada um é suprido totalmente por Deus, de modo a poder mesmo ser o apoio do outro (seja emocional, financeiro, estrutural ou de conhecimento). Pra mim, o melhor dessa terra é poder acordar de manhã e receber uma mensagem da minha filha, que mora do outro lado do oceano, me contando qualquer bobagem, mas me demonstrando que valoriza a minha companhia (mesmo que virtual); o melhor dessa terra é ter podido ir com a minha mãe ontem em uma feira de artesãos para passear, chegando em casa nós duas depois de horas andando exaustas e com a barriga cheia de coisas boas que experimentamos como amostras dos expositores. Pra mim, o melhor dessa terra é poder ter trinta minutos de áudio de cada irmã minha contando como elas tem ido adiante nas suas vidas, podendo mesmo à distância participar um pouco do cotidiano de cada uma. Para mim, é acordar de manhã e não importando qual seja a temperatura, eu estou aquecida e acolhida na cama que me serviu de base como descanso por toda a noite. É ter podido receber amigos na cidade em que moro (aliás, é ter amigos para recebê-los em suas férias); é ter o que compartilhar com o meu namorado ou com o meu pai, sejam coisas boas ou ruins (aliás, é tê-los em minha vida, assim como toda a minha família). E acima de tudo, é saber que, não importando as circunstâncias, Deus me ama muito mais do que eu mereço (obviamente) e mais ainda do que eu poderia esperar.
Soa muito espiritual isso? Não sei... e claro, não serei hipócrita de dizer que o dinheiro não é importante na sociedade em que vivemos, mas sinceramente, de que vale o mundo inteiro se perdermos a alma?
Por fim, sendo filha amada, e sabendo que o meu Papai não me renegará, a minha maior preocupação é perceber o quanto Ele já me ama, de modo que eu possa ser mesmo o abraço de alguém, o sorriso, a piada, o ouvido, o conselho, ou até a lágrima solidária em momentos de dor e incertezas. Porque o resto passa... tudo passa, menos o Senhor e o Seu amor por nós.

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