quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Operação "despir-se"

Sair de Milano (que enfrenta o alto inverno) com destino ao Brasil (que está no verão) é um desafio para o guarda roupa. Na verdade, as roupas que estavam guardadas há meses porque simplesmente não fazem sentido por aqui de repente precisam ser tiradas, lavadas e reconsideradas, mesmo que se só de olhar para elas você já tenha vontade de chorar porque está frio demais até para ficar os trinta segundos em que se está nu para entrar debaixo do chuveiro diariamente... Fora disso, pra mim sempre foi mais difícil considerar o que é adequado quando estou no auge do frio e vice-versa, assim como para mim escolher o menu da próxima refeição tendo apenas acabado a última é praticamente impossível. Parece que meu cérebro olha tudo aquilo e fala que simplesmente não consegue processar a informação... E se eu realmente tenho essa necessidade, tenho uma dificuldade enorme de resolver a coisa.
Bom, independente disso, fugir para o calor sempre me agradou e não é agora que seria diferente. Então, apesar de não ter provado nenhuma peça de roupa, fiz as malas considerando o que achei que fazia sentido e lá me viro com o que tiver à mão. Mas... porque eu vim muito cedo ao aeroporto, e porque está fazendo realmente um frio considerável (ontem por exemplo nevou por aqui), precisei preparar a roupa para o trajeto de casa até o primeiro aeroporto, e com isso agora de manhã vesti duas calças (sendo uma térmica), uma meia calça, duas blusas de lã (fora as duas blusas finas por baixo e o casacão de inverno que vai por cima), uma polaina (sim, eu as uso até hoje), mais um par de meias e um gorro e um cachecol de lã. E claro, saindo de casa ainda senti um pequeno desconforto porque o vento, mesmo que suave, por estar gelado, se faz presente de modo cortante.
Bom, cheguei no aeroporto e o casacão de cima já saiu. Check-in feito, cappuccino com croissant já comprados e consumidos, e o calor começa a realmente incomodar. Então fui ao toalete e lá tirei a calça térmica, as duas blusas de lã e fiquei mais tranquila... E quando voltei para o portão de embarque, tirei as polainas.. E só me veio o pensamento: "operação despir-se". Isso porque eu separei e coloquei na mala de mão um casaquinho leve e uma sapatilha para usar quando chegar a São Paulo, porque com os tais trinta graus do momento não seria possível continuar com o tênis que estou usando, mesmo que ele seja leve (e nem a blusa por baixo que, mesmo leve para o padrão europeu do inverno, no verão é impensável).
Depois de aliviado o desconforto, entendi que essa ida ao Brasil tem essa mesma função: despir-me. Não estou indo porque eu sentia falta do país e na verdade nem planejei essa ida, mas ela acabou acontecendo e eu tenho procurado me preparar da melhor forma possível. Sei que ali viverei um tempo novo, seja porque em termos familiares muita coisa mudou e está mudando, seja porque será um tempo para refletir sobre muita coisa antes de seguir adiante com todas as demais mudanças que o ano apresentará. Mas para isso, será necessário que eu me dispa daquilo que acho que sei no momento, e daquilo que espero com essa visita ali. Não vou deixar meus princípios e a minha fé, até porque sem isso eu morro. Aliás, eles são a minha base para organizar a agenda ali e também para planejar o ano, porque embora seja possível replanejar, até para isso é preciso parar um pouco para fazer um primeiro plano. E um plano de mudança de vida cheio de conceitos e ideias que já existem sem que sejam revistas me parece já fadado ao replanejamento mesmo antes de começar. Ou seja, "despir-se" é o tema do momento.
Espero ainda despir-me de mim mesma, para que sobre aqui apenas Cristo. Certamente essa é a melhor escolha, porque de fato Ele é o Príncipe da Paz que tanto precisamos como seres humanos, e que tanto precisaremos neste momento como família.
Ou seja, a partir de agora, eu tenho um oceano para refletir e me reorganizar internamente. Quero chegar com a postura adequada, com a alma serena e com o coração em paz. Quero portar para a minha família à Graça de Jesus, a alegria do Evangelho e a satisfação de saber que, não importa o desafio, podemos vencer quando confiamos plenamente Naquele que venceu o mundo e nos faz mais que vencedores!

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