terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Pessoas são mais importantes do que coisas

Hoje aconteceu uma situação que mexeu comigo de verdade. Mas para que faça sentido, preciso começar de um pouco antes da situação em si.
Quando eu vim para a Italia, uma das coisas que eu tinha decidido era fazer as traduções dos materiais que fossem necessários para que assim a Palavra de Deus pudesse ser compartilhada nesse idioma que era até então novo para mim e para todos os missionários que vieram na mesma equipe que eu (com exceção de um que foi o nosso professor). Eu decidi então que aprenderia bem e que essa seria uma das minhas funções principais, e definitivamente essa seria a minha contribuição maior para a igreja enquanto eu estivesse por aqui. No início, sofríamos porque éramos em poucos, e muito se tinha para fazer. Com o passar do tempo, Deus foi trazendo mais pessoas, e embora tenhamos abraçado mais atividades, formamos uma grande equipe, da qual obviamente aquele que foi o nosso professor no início se tornou o líder.
Pois bem, volta e meia tem coisa para traduzir, e com o tempo fomos nos tornando ousados. Tanto que todos os nossos materiais de cursos, livros para jejum e até um livro para um seminário especial que será ministrado no mês que vem são sempre traduzidos pela equipe para o italiano, de modo que sempre tem alguma coisa para se fazer. Para completar, no meu caso, eu assumi também a tradução do material dos kids, e cada apostila tem cerca de doze a dezesseis lições para tradução, e isso consome um tempo considerável por semana. Mas isso nunca incomodou, porque me propus a fazê-lo e sempre tive prazer nisso.
Em dezembro então começamos o projeto de traduzir esse livro do seminário de fevereiro, e sendo em média três capítulos por pessoa, não ficava pesado para ninguém. Porém, por ser dezembro, fui acumulando coisas, fui deixando passar o tempo, seja com atividades normais, seja com as festas, seja depois com questões pessoais que foram surgindo, e agora estamos à uma semana do prazo final e eu não consegui nem começar a minha parte. E isso tem sido complicado, porque não tem um dia em que eu não pense nisso, mas não tem um dia também em que eu tenha conseguido começar. E assim segui até hoje. E eu fiquei nesse tempo todo lutando com o meu desgosto por não ter conseguido fazer o que prometi, por outro lado, com o inconformismo porque não queria jamais que a minha tarefa fosse passada a outro, mas infelizmente, fui chegando a um ponto de exaustão e de impossibilidade que não sabia mais bem como resolver. Até que hoje o líder mandou uma mensagem no grupo perguntando como andava a coisa toda, e eu respondi para ele em privado que eu não conseguiria... e discutimos feio. E isso aconteceu porque tínhamos guardado para cada um coisas que deveriam ter sido já eliminadas mas que, por não termos falado, ficaram de algum modo infelizmente mal resolvidas, e isso veio à tona hoje.
Não nos xingamos, claro, mas isso nos fez ver que infelizmente não tivemos sucesso em nos comunicarmos anteriormente, e por isso acabou que na hora da pressão, derramamos um no outro o que tinha de ruim. Claro, teve também o fato de que eu, ignorando os meus instintos de responder só quando estivesse calma, acabei respondendo na hora e por isso fui muito dura e injusta com ele. Mas para mim, tudo foi motivado por um motivo simples: eu senti nele a preocupação com a atividade, mas não vi a preocupação com a minha pessoa.
Por um lado, eu cometi o pecado de esperar que outra pessoa parasse para perguntar se estou bem, ou se preciso de algo. Por outro lado, por conta da correria, ele se focou naquilo que precisa ser feito, e ao invés de começar a conversa perguntando o motivo pelo qual cheguei a esse ponto, ele só reclamou que estava tarde demais para dizer que eu não conseguiria. E os dois tínhamos razão. E os dois estávamos errados.
Um pouco mais tarde, depois de me acalmar, o chamei para conversar, e esclarecemos muitas coisas. E ele comentou sobre uma coisa que ouvia sempre mas que a cada dia faz mais sentido: "pessoas são mais importantes do que coisas". E sim, é óbvio (ou deveria ser), e se você não acha isso óbvio, pare tudo o que você está fazendo, vá diante de um espelho, e repita comigo, até que você acredite nisso: "pessoas são mais importantes do que coisas". Mas se para você isso já é óbvio, então vá diante do espelho e, honestamente, se pergunte quantas vezes no dia de hoje (só hoje já é o suficiente) você, ao lidar com alguém, pensou primeiro em como está a outra pessoa ao invés de tratar diretamente da tarefa em questão?
Chegamos à conclusão que de infelizmente perdemos o foco muito rapidamente, e por causa da pressão, da pressa, do orgulho, do medo, e de tantas outras coisas, na verdade, primeiro olhamos o resultado para depois, quando nos lembramos, olharmos para a pessoa. E se você é falho como eu e chegou à conclusão de que está fazendo o mesmo que eu faço (ou que o meu líder fez), tenho a boa e a má notícia: a má é que sozinhos não vamos mudar nunca, mas a boa é que Jesus morreu na cruz por cada um de nós para mudar essa realidade, e através da ação do Espírito Santo nas nossas vidas, o nosso olhar pode mudar, e com isso podemos também olhar a pessoa antes da atividade, podemos considerar o ser humano além dos resultados, e podemos ver o amor de Deus além dos nossos medos, das nossas ideias e das nossas certezas, que são limitadas, falhas e passageiras.

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