Quando a relação é à distância, muita coisa muda. Por um lado, não tem o lado bom da convivência, e por isso a saudade maltrata, e te faz chorar, e algumas vezes te faz repensar em como mudar aquele contexto (seja pensando em reverter o irreversível, seja impulsionando o próximo passo a ser dado na tua vida). Mas, por outro lado, o senso de urgência se apura, e fica mais claro pra cada um dos envolvidos (ou pelo menos é essa a oportunidade que se apresenta) de que cada dia é precioso e se for desperdiçado não se saberá mais quando virá um outro... E isso te faz também aproveitar muito mais os momentos juntos do que quando consideramos como certo o dia de amanhã ao lado de alguém. E aí, quando você se encontra com quem você ama, a tendência é intensificar ao máximo o contato em todo o tempo, e isso gera a pressão do convívio com alguém que você criou uma relação fisicamente próxima mas que não tem mais dia a dia, e não tem mais a rotina, e muitas vezes se percebe que o outro é ao mesmo tempo super intimo, e ao mesmo tempo, um ilustre desconhecido. E quanto mais tempo se está junto nestas condições, dependendo do grau de liberdade e do tipo de relação que você tem com o outro (como amigos ou irmãos) a temperatura costuma subir. Esbarrar nos hábitos cotidianos de cada um é uma aventura que, quando vista como provisória e didática é uma delícia, mas quando vista com o cansaço das obrigações e com o peso das adaptações necessárias, é um tremendo desafio. Definitivamente, de perto ninguém é tão normal assim... Aliás, ser normal demais é absolutamente estranho. E por causa desse momento que estou vivendo em família, estou hospedada na casa da minha irmã por quase vinte dias, e em um contexto onde fico praticamente o dia todo dentro de casa (coisa completamente fora do meu costume) e convivendo com gente que eu amo profundamente, mas com os quais o convívio do passado não reflete as personalidades do presente. E por uns dias antes de vir, só a ideia de ficar com tanta gente junta já me trazia um cansaço na alma, talvez por precisar descansar mas também por lembrar como é delicado estar na casa de outras pessoas. E isso de algum modo acabou me bloqueando um pouco quando cheguei, e eu vim então orando e pedindo a Deus que me ajudasse a encontrar a conexão que eu tanto desejei com os meus, e que agora está disponível da parte de todos. Mas eu ainda não sabia como, e temia algo que se estabeleceu como uma tradição entre eu e as minhas irmãs, que chamamos de "café das irmãs", onde falamos de tudo e de nada ao mesmo tempo, e podemos como boas companheiras ouvir, falar, celebrar e nos apoiar (e as vezes até reclamar ou divergir das outras). A nossa proposta foi sempre nos tratarmos com liberdade e honestidade, de modo que possamos crescer juntas e manter o laço que fazemos questão de ter. Mas, porque a temperatura subiu, eu fiquei com medo desse encontro. Confesso que eu achei que pela maneira como eu me sentia, eu acabaria trazendo a tona coisas que não fazem sentido, e eu acabaria desperdiçando o tempo que já nos é tão restrito com coisas passageiras e de menor importância. Afinal de contas, nem sempre a gente está tão bem assim, e no fim, a gente só dá o que a gente tem. De qualquer modo, por respeito ao combinado, e por amor a elas, eu vinha mantendo de pé a ideia. O curioso é que como estou participando de um processo de 21 dias para me tornar uma versão melhor de mim, a cada dia tenho uma tarefa, e a de hoje era justamente tomar um café com amigas... E eu entendi o recado: estava na hora de manter o compromisso, mas porque as "temperaturas estão mais altas", o traje exigido seria a nudez. Despir-me do que passou, e cada uma a seu modo, se permitir participar um pouco da vida da outra, sem julgamento e sem opiniões, só mesmo aproveitando o estar ali. E de repente o que eu achei que me faria mal foi exatamente o que me curou, e nestes dias, a cada passo que dou para falar de como eu percebo que Deus tem mudado a minha visão, mais eu percebo a aproximação acontecendo entre mim e os meus familiares. Ou seja, o que parecia que me "fritaria" no calor das emoções foi o que me salvou, porque sem "roupas" o calor diminui, e se pode sentir melhor a brisa do desabafo do outro, ou a sombra da fragilidade alheia que, no fim das contas, pode ser ou ter sido também a sua, e a empatia entra em jogo, e eu posso amar o meu próximo como eu procuro me amar... E nesse meio, o Amor flui, e Deus está nisso. Com isso, hoje vou para a cama com a certeza de que estou vivendo de modo muito especial a frase que li outro dia e que é realmente verdade: "você é a soma das barreiras que você venceu". E hoje, não para a minha glória, mas para a Dele, na minha soma eu pude adicionar mais um pequeno obstáculo superado. Os desdobramentos disso? Eu não sei, mas tenho certeza de que são muito mais poderosos do que eu consigo enxergar hoje. Só que como eu não tenho controle do futuro, e apenas posso viver um dia de cada vez, me basta a satisfação de saber que, através da direção Dele, o gosto na minha boca nesta noite é de sonhos recheados de doçura familiar, e de alegria por fazer parte da minha família.
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