Eu particularmente sou uma pessoa que não morre de vontade de comer praticamente nada, e nem vivo para comer. Claro que eu como, e não é que sou assim tão regradinha (e até como muita besteira), mas eu não sou o tipo da pessoa que morre se não comer mais tal coisa ou que fica sonhando com comida tal... mas claro, como todo mundo, eu tenho lá as minhas preferências, e eu curto doces. Bom, é verdade que nem todos os doces: outro dia me perguntaram se eu gosto de pudim e a verdade é que talvez eu não tenha comido um pudim incrível até hoje, mas não é o doce que me faz suspirar (sem trocadilhos infames). E por sinal, muito diferente da maioria das pessoas, eu simplesmente não gosto de chocolate: acho gorduroso, muito forte e meio exagerado... fora que como eu não tenho mais o hábito há anos, quando eu provo experimentar um pedacinho, eu fico acordada por horas, e isso não é exatamente legal... Acaba que eu gosto demais de sorvetes de frutas (picolés ou os tais "sorvetes de massa"), macarons (aqueles docinhos franceses cheios de açúcar que derretem na boca quando bem feitos) e de algumas tortinhas, como a de limão e a de morango (pode ser também de frutas vermelhas em geral). Acho que no caso das tortinhas, existe um balanço tão gostoso entre o azedinho da fruta e o açucarado do recheio... uma coisa que é encantadora, não sei explicar. Enfim, preferências...
Mas, como todo mundo que já se aventurou alguma vez na cozinha, eu já fiz algumas tortas de limão, e muitas delas ficaram até que bem gostosas, mas outras não foram tão bem sucedidas assim. Acho que tem muito a ver com técnica e prática, claro, também é necessário considerar a receita usada, mas acho que cozinhar envolve um pouco também o estado de espírito da pessoa, porque quando o cozinheiro não está bem, parece que mesmo seguindo uma receita, alguma coisa não fica igual. O que me faz pensar que, muitas vezes, o que nos destaca em alguma coisa não é só a técnica naquilo que se faz, mas a paixão com que fazemos certa coisa.
Volta e meia vejo o meu namorado tocando algum instrumento, e a primeira coisa que penso é que, por mais que eu tivesse a mesma capacidade de aprendizado técnico que ele tem (não sei dizer ao certo, mas ele me parece bem acima da média em relação à esse quesito), o que realmente faz a diferença é que quando ele toca, não são os dedos dele apenas... é como se ali, a cada nota, a cada movimento, a cada compasso pudéssemos ouvir não o resultado do toque dos seus dedos, mas a consequência de cada batida do coração... é como se a cada pedacinho da música pudéssemos ouvir a sua alma, percebendo o que tem de mais profundo nela, seja feliz ou triste. E isso acontece porque ele simplesmente ama a música, e ouvir, tocar e cantar, ou improvisar e criar canções, para ele, não é trabalho: é parte de quem ele é.
E isso me faz refletir sobre essa tortinha (ou sobre as tantas que já fiz ou que já comi): por mais que a receita seja a mesma, a pessoa que ama o que faz, ou a pessoa que faz o que ama, acaba transmitindo para o que produz um pedacinho de si, e isso é absolutamente inigualável. Sem dúvida, essa é a melhor tortinha de limão que eu já comi na vida, e olha que nem é de algum lugar assim tão famoso, mas a explosão de sensações que ela me proporcionou foi única, e olha que essa é uma receitinha bem batida pra mim...
Bom, é claro que a reflexão não é sobre tortinhas, mas é sobre um versículo que até hoje eu tinha entendido de um modo bem diferente: em Mateus 6, o verso 21 diz que onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração. Sim, eu sei que o versículo não se referia literalmente a isso, mas cá para nós, aonde colocarmos valor, ali estará o nosso coração, não é mesmo? Então, se enxergarmos o que fazemos como valoroso, certamente ali estará o nosso tesouro, o nosso melhor resultado, a nossa melhor ação. E eu penso que muitas vezes lutamos para procurar a melhor colocação de trabalho pensando no salário oferecido pelo mercado, mas de que isso vale se pra você aquilo for só um meio de pagar as contas? Por outro lado, quando a gente escolhe uma coisa, mesmo que pareça simples como ganha pão, não é que a gente consegue resultados extraordinários, simplesmente porque fazemos o nosso melhor, e isso fica evidente para quem está em volta?
No momento, enquanto reflito, me sinto privilegiada por poder me deliciar com o resultado do trabalho de alguém que, para mim, ama o que faz... e penso como será quando eu largar de lado as amarras que até o momento me prenderam para que, com todo o meu ser, eu possa me dedicar a algo que simplesmente faça total sentido para mim, e eu assim poderei oferecer ao mundo algo totalmente único, mesmo que seja aparentemente completamente igual à milhares de outras tentativas feitas por tantas pessoas que já viveram nesse planeta... é para se pensar (e saborear cautelosamente até o fim).
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