terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Velocidade e pressa

Há uns dias atrás eu ouvi um video de um pastor que é também psicólogo e ex-esportista chamado Caio Fabio. Neste vídeo, ele falava sobre a diferença entre a velocidade e a pressa. O exemplo que ele usou foi uma gravação de um motoqueiro que decidiu fazer o próprio caminho entre os carros em uma avenida (ou estrada, não sei bem mas não é relevante) de tráfego intenso, ultrapassando os carros que iam em uma velocidade mais baixa que a dele, fazendo o que popularmente se chama de "costurar no trânsito". Ele vai fazendo o seu trajeto apressado, numa velocidade mais alta do que o restante dos usuários da via, e vai sendo seguido por um outro motoqueiro que foi filmando o trajeto. Ele ultrapassa diversos carros, e na sua pressa, porque está chegando antes, parece que ele tem razão e até dá a sensação de que ele está indo bem... até que um carro que obviamente não estava no planejamento dele (e que não considerou a sua presença) acaba por fechá-lo e ele simplesmente se choca contra um veículo, e voa da moto, e sofre um acidente horroroso. O video acaba com a pessoa que estava filmando seguindo o seu caminho, como se nada tivesse acontecido. O pastor então comenta que aquele motoqueiro, na verdade, tinha imprimido uma velocidade ao seu percurso, mas o seu motivador era a pressa, e por causa dessa pressa, dessa angústia de chegar primeiro (do que quem mesmo?) ele acaba se arriscando mais do que precisaria e não chega ao seu destino final. Daí segue então a reflexão que no momento não dei atenção, mas que no fim das contas, era mais do que uma simples mensagem para mim: era a chave para enfrentar as mudanças deste tempo.
Atualmente, tendo trinta e oito anos, uma filha com dezoito que acaba de se tornar mãe, pais vivos e ativos na terceira idade, duas irmãs que estão seguindo bem as suas vidas, sobrinhos que, de uma forma ou de outra, também... namoro um cara sensacional que tem duas filhas, e que é muito inteligente e extremamente amoroso, e tem convicções firmes e um carater forte. Tenho saúde, disposição para realizar muito mais do que muita gente mais nova, capacidade de fazer a grande maioria das coisas que eu quero, falo (bom, me comunico) em quatro idiomas, e já trabalhei em uma variedade de atividades que seria de assustar alguns... Acima de tudo, sou filha de Deus, amada Dele, sonhada por Ele e querida para uma vida de intimidade e comunhão. O que mais eu poderia querer?
Pois é... e de repente, ao olhar este mesmo cenário, a leitura pode ser bastante diferente, e eu me pego pensando naquilo que eu fiz que podia ter feito melhor (ou não, mas a cabeça na hora não calcula assim), ou então penso em tudo o que eu não fiz, ou como escolhi viver certas coisas... e eu olho para o momento atual, e penso que tendo quase quarenta anos, ao mesmo tempo que eu tenho décadas à minha frente, tenho duas décadas de vida adulta de experiências que na sua grande maioria eu não quero repetir, seja porque não quero mesmo copiar, seja porque definitivamente preciso fazer melhor. E então, olho para tudo o que a Graça é na minha vida, e para todos os talentos que Deus colocou em mim, e todas as capacidades que Ele me permitiu desenvolver, e de repente, me sinto desperdiçando a Graça, e isso me apavora, e me vem uma angústia de remir o tempo perdido (qual tempo mesmo, se o que vivi até aqui é o que me faz ser o que sou hoje?) para então aproveitar a cada instante a Graça que o Senhor derrama sobre mim, e eu vou parando para olhar para as cincunstâncias, as aparentes impossibilidades, e de repente, eu vou desanimando, me deixando intimidar, e aos poucos paralisando... e a pressa, que à primeira vista me levaria aonde quero mais rápido, me quebra no meio e me mata pelo caminho.
Por outro lado, velocidade é (até onde a entendo) uma maneira de medir o ritmo com que as coisas são feitas. Isso quer dizer que a velocidade pode ser baixa, média, alta, altíssima... mas ela necessariamente indica algum movimento. E ter velocidade é resultado de começar um movimento e continuá-lo. Ou seja, a velocidade é consequência inicialmente do começar, e depois se torna consequência do permanecer. Alterar a velocidade depende de colocar mais esforço, mas também é possível, assim como diminui-la. Portanto, tem velocidade aquilo que se movimenta. E o que não se movimenta, morre.
A conclusão que chegou o pastor foi que quando planejamos algo, independente do aspecto da nossa vida, o primeiro passo é começar, mas depois é imprimir velocidade, e ir rápido pode sim ser fruto do seu plano (o que aliás pode ser excelente quando o plano prevê que você vá mais rápido, porque às vezes, a velocidade será essencial para que você não perca certas oportunidades que só acontecem uma vez na vida) mas que a velocidade, quando motivada pela pressa, na verdade nos faz tomar atitudes impensadas, rumos não seguros e até ruins, e escolhermos fins que não valem a pena.
Passando para uma análise da minha situação atual, a pressa me mata, mas o planejamento e a priorização me permitem imprimir a velocidade necessária, e é isso que vai me levar adiante, e vai me fazer conquistar o que até hoje não foi conquistado, e me permitirá consolidar o que já foi feito, ou ganho até aqui. Tomar decisões apressadas é muito arriscado, e talvez com vinte anos seja até divertido fazer isso, seja pela adrenalina, seja pela falta de base para decidir de modo ponderado, seja simplesmente porque ser jovem é muitas vezes sinônimo de ser descabeçado e inconsequente, e faz parte do aprendizado. Mas tomar decisões apressadas depois que se torna adulto é muito mais custoso do que parece, e quase nunca vale a pena. Ter pressa é não saber diferenciar o importante do urgente, e talvez signifique também não saber priorizar ou mesmo não saber identificar o que realmente importa e o que não vale a pena. Ter pressa é desperdiçar o presente tentando antecipar o futuro, sendo que não se terá nada para viver ali porque nada foi construído no presente. Ter pressa é muitas vezes não saber discernir o que é semente e o que é pão, e em outros casos, é tentar comer a comida e só depois cozinhá-la... sem sentido, né? Mas a gente faz isso sem querer o tempo todo se não prestar atenção.
O que me ocorre agora é que para começar, eu preciso colocar no papel os objetivos, e depois deles os próximos passos, e depois disso, somente depois disso, organizá-los por importância e por urgência, e daí começar a descrever os detalhes de como eu vou alcançar ou cumprir cada uma das coisas que estiverem ali descritas. Só assim será possível realmente viver uma vida em velocidade alta, mas não motivada pela pressa ou pela urgência das coisas que foram mal planejadas, ou mal cuidadas, e portanto exigem no hoje através da pressão uma decisão apressada, e provavelmente resultados no máximo medíocres. Até porque, pra aproveitar bem aquilo que graciosamente Deus tem derramado sobre a minha vida, eu preciso saber identificar cada talento, e devo compreender como empregá-lo de modo proveitoso para o Reino de Deus e para mim, e só aí vai fazer sentido pensar em um plano de ação. Listar, orar, filtrar, priorizar e planejar o agir. Sem pressa. Mas aumentando a velocidade até que eu passe a voar novamente.

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