Bom, não sei se cheguei à mencionar, mas dentro de menos de um mês estamos nos mudando para outro país. E sim, é um país de língua igual mas diferente. Mas isso é assunto pra outro texto...
O que preciso registrar hoje é o que é inevitável para mim: fazer um balanço do que foi esse tempo na França para a minha vida.
Saí da Itália passando por um mês de Irlanda, e ali já vi que muita coisa tinha sido deixada. Isso porque, saindo da Italia, entrei em uma situação de ser cuidada em cada detalhe pequeno que, não só fiquei constrangida pelo amor de Deus (e dos meus amigos que me adotaram nesse período) mas também por conta da maneira como eu pude ver na prática algumas coisas que desmistificaram conceitos romantizados demais que estavam dentro de mim. E foi ótimo, porque se não tivesse sido assim, eu acho que não teria dado conta do que veio à seguir.
Mas vamos com calma: falando assim parece que vivi um terror nos últimos meses... e a verdade é que não poderia ter sido melhor! Sim, passei por muitos momentos de confronto comigo mesma, de luta interior, de batalhas contra as circunstâncias, de guerra contra os limites e medos que me controlavam (acho que inclusive pela primeira vez na vida vi o quanto eu me tornei tímida nos últimos anos) e foi mesmo um período de me olhar no espelho, de me conhecer de um outro modo, de reavaliar o que me trouxe aqui, e o que vai continuar funcionando para a nova fase.
A mudança de agora é totalmente inesperada, e isso só me dá a sensação de Deus apressando etapas, concluindo fases, e nos levando à um outro nível em momentos em que nós jamais poderíamos imaginar, ou mesmo adiantar em termos de prazo.
Se eu vim para a França com o plano de ficar dez anos, e estou ficando por sete meses, posso dizer que algumas coisas aconteceram, e através delas vejo Deus remindo o tempo, e nos fazendo aproveitar as estações de modo completamente novo, e muito mais intenso mas ao mesmo tempo, mostrando que quem controla mesmo o impossível é Ele.
Dito isso, que obviamente é super genérico e aberto para quem não conhece os detalhes do que estamos vivendo aqui em casa, posso dizer que este tempo em solo francês me faz ter uma imagem na cabeça: limpeza do solo para mudar de plantação.
Você já viu alguém que tenha uma plantação de milho e que, de repente, decide plantar soja no mesmo lugar? Eu não tive a oportunidade de ver o processo todo, mas por algum motivo, pesquisei anteriormente sobre isso e acabei adotando a explicação pelo que ela é: para se mudar de plantio, a primeira coisa é simplesmente arrancar tudo o que está plantado, esteja maduro ou verde, passado ou ainda bom, para que, em seguida, a terra seja limpa, remexida, fique por um período se recuperando para, só depois, receber novo adubo e novas sementes.
Sem esse processo, nada de novo vai nascer ali. Sem esse procedimento, simplesmente o fazendeiro perde o plantio, porque as sementes serão lançadas mas a terra não estará pronta para suportar a nova plantação. Mas, esse processo, embora intenso, não é longo, e tem prazo definido. Para um leigo, pode parecer simples, ou rápido. Para um fazendeiro, pode parecer trabalhoso ou lento. Mas para a terra é o que é: necessário.
E assim, sigo como o solo que Jesus escolheu semear para este novo tempo. Assim como Ele quis fazer com a Sua Palavra, as Suas promessas e os Seus sonhos, então eu aceito, abraço e confio. E sim, mais do que isso: assumo as responsabilidades sobre o que é a minha parte, e deixo à cargo Dele aquilo que não me compete.
Sigo mais confiante, embora com muito menos certezas. Aliás, certeza é o que definitivamente não temos por aqui... mas parando para pensar nisso agora, a fé nasce de convicções e não de fatos visíveis já concretizados. A fé nasce de crer que mesmo sem todas as respostas, o que virá será ainda melhor, mais intenso, mais abundante e mais completo, simplesmente porque é Ele quem está na direção.
Então eu paro de tentar manter os últimos galhinhos de pé, e sem tentar também quebrar o que resta (nem uma e nem outra atitude seria benéfica), sigo respeitando o ritmo da dança proposta por Ele: se Ele apertar o passo, eu acompanho; se Ele der aquela paradinha, eu fico no lugar.
E assim, como terra sendo preparada para o novo plantio, deixo em vinte dias a França, agradecendo por tudo o que aprendi, por tudo o que vivi, por tudo o que deixo aqui, e por tudo o que virá à seguir.
E que venham as novas sementes!
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