Quem manda na sua vida? Ou melhor, quem rege as suas prioridades: seus desejos, seus conceitos, seus medos ou seus objetivos? Ou é a opinião alheia quem decide o que vai ser feito, quando e como?
Eu tomo a liberdade de falar sobre liberdade porque Cristo veio para que fôssemos livres, e por isso Paulo inclusive recomenda que tenhamos atenção para não nos aprisionarmos novamente. Então, por isso me sinto à vontade para dizer que uma pessoa livre é uma pessoa que tem nas mãos as rédeas e as definições da sua própria vida.
Uma pessoa controladora é livre? Não, porque ela é escrava da necessidade de controlar as coisas. Mas uma pessoa livre estabelece as suas prioridades com base no seu propósito de vida, nos seus valores e nos seus objetivos. E nada mais.
Isso torna a pessoa egoista? Não necessariamente. Uma pessoa egoista agirá conforme seu caráter sendo guiada por si ou por qualquer outro que seja. Por exemplo: uma pessoa egoista, mesmo sendo guiada por outro para fazer um serviço voluntário, ela fará de tudo para que a coisa aconteça de acordo com o desejo e o conforto dela. E mesmo que o produto final beneficie outra pessoa, a motivação e a maneira como será estruturada a coisa em si será baseada não na necessidade de quem recebe o bem, mas de quem está respondendo à um comando alheio de modo egoista.
Dito isso (e acho que falo mais para mim do que para você estas coisas), eu chego cada dia mais à conclusão de que, ao deitar a minha cabeça no travesseiro, eu sou a única responsável por tudo aquilo que eu fiz. Ou seja, minhas reações ao que me ocorreu durante o dia são responsabilidade minha, mesmo que sejam respostas (justas ou desproporcionais) ao que as circunstâncias propuseram.
Não posso controlar o que o mundo tentará fazer comigo, mas posso sim decidir se eu ajo diante de algo, ou se eu reajo ao que me acontece.
Quando eu reajo, eu só devolvo para o outro ou para a circunstância aquilo que recebi, e normalmente em maior intensidade. Quando eu decido agir, a coisa muda de figura, porque eu tenho a oportunidade de oferecer quem sou, independente do que estão me entregando. Exemplo? Quando te fecham no trânsito, você xinga (mesmo que mentalmente) e se irrita ou você abençoa verdadeiramente a vida da pessoa que te fechou, pedindo a Deus que mostre a ela o quanto o comportamento dela a coloca em risco?
Quando eu decido ser intencional, eu decido ser livre, inclusive para me entregar nas mãos de alguém ou de algo, como um projeto maior do que eu. Mas isso só pode acontecer quando eu tenho nas minhas mãos a minha vida. Quando ela está nas mãos de outro, então não tem como eu me doar em 100% porque não tenho tudo isso em mãos.
Isso não significa que a nossa vida terá só um aspecto: continuamos a sermos seres relacionais em diversos níveis. A família ganha um tanto de prioridade e entrega, o trabalho um outro tanto, a diversão mais um pouco, o estudo... e assim por diante.
Por que eu não listei a vida espiritual? Porque considero que somos espírito, então o que vivemos aqui neste mundo é só expressão do que somos como espírito (ou da nossa omissão a quem realmente somos na essência), e isso permeia tudo.
E aí voltamos à pergunta original: você tem um projeto? Ou ele tem você?
Quando eu decidi vir para a Italia, esse ideal me tinha por inteiro. Eu organizei toda a minha vida em prol dessa mudança por mais de um ano, e ela aconteceu. A mesma coisa quando decidi vir para a França.
Mas, uma coisa em tudo isso eu aprendi: as mudanças de circunstância, de ambiente, de posição geográfica, elas não podem me afastar daquilo que é o meu propósito de vida. E mais: se a minha vida vai ser sempre caber em duas malas, então que eu aprenda cada dia mais a estabelecer coisas perenes que não estejam ligadas ao local, e ao mesmo tempo, que eu tenha sabedoria de extrair o melhor de cada dia, doando o meu melhor a cada dia para aquilo que é prioridade para mim, e que me aproxima do cumprimento do meu propósito de vida.
E não, isso não é óbvio. E não, isso não tem a ver de jeito nenhum com o que fazemos dentro de prédios em que são prestados cultos. E não, isso não é uma desculpa para deixar de frequentar cultos ou grupos para compartilhar o Evangelho. Isso só quer dizer que o propósito existe 24 horas por dia, 7 dias por semana, enquanto eu respirar, independente de onde eu for, e de como eu estiver. Portanto, o que é (ou não) feito em um local de culto é (ou deveria ser) só a continuidade natural do que sou e faço em todo o resto do tempo. Fora disso, o propósito é desculpa, e a hipocrisia reina.
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