segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Às vezes o melhor discurso é o silêncio



Hoje, ao chegar em casa, vi que, como muitas vezes, a minha benção dava-me a impressão de não ser tão agradável assim. Cheguei e fiquei sabendo que ela passou o dia todo em seu quarto assistindo filmes deitada. Além disso, comeu mas não lavou a louça como eu havia pedido. E mais, teve disposição de fazer suspiro mas não teve a mínima coragem de lavar ao menos o que ela usou. Não arrumou o quarto e deixou tudo o que estava na sala esparramado do jeitinho que vi pela manhã ao sair para trabalhar.

Quando eu disse que amanhã ela precisa fazer algo diferente, ela reclamou mais uma vez. Curiosidade: o "algo diferente" era passear no comércio próximo de casa para tomar um ar na rua com uma amiga minha. Ela reclamou... disse que não gosta de andar mas, em seguida pediu para caminharmos até a locadora para pegar um DVD.

Chegamos em casa e a minha paciência que já estava pequena foi se esgotando. Vi que de fato ela tinha quebrado sem querer uma garrafa que estava na geladeira mas não teve a pachorra de jogar na lixeira do prédio os cacos, deixando-os no chão do quartinho dos fundos. Não recolheu ou guardou a sua roupa mas pôde mexer com os panos de chão que estavam no tanque e pôde inclusive somar a eles gemas de ovos que sobraram do suspiro.

Para completar, não arrumou nada mas gastou dois tubos de cola com brincadeiras que apenas desperdiçaram o conteúdo e gastou todo o meu sabonete líquido que eu ganhei no Natal passado da minha irmã e que eu vinha gastando lentamente para que rendesse mais.

Quando eu pedi para ela lavar a louça, ela se recusou e quando eu questionei sobre o conteúdo grudento na caneca de chá ela disse não saber o que era. Pronto, foi a gota d'água: sentei com ela na sala e realmente admiti que de fato devo ser uma péssima mãe porque não consigo me comunicar com ela e nada do que eu peço ela pode fazer. Então, eu, naturalmente irada, fui para a cozinha lavar a pilha de louça (a que eu sujei no final de semana e a que ela sujou hoje) porque ela, que está de férias, não estava disposta a fazê-lo mas eu, que trabalhei o dia todo, deveria fazer, afinal, nenhuma boa mãe de verdade deixa seus filhos fazerem atividades domésticas, mesmo que esporádicas e mesmo que sejam varrer o seu próprio quarto ou mantê-lo arrumado ou ainda lavar a louça que usou ou mesmo guardar a sua própria roupa (que a mãe naturalmente lava).

Acabei então lavando toda a louça, desci com o lixo e com os recicláveis separados, arrumei o quarto dela, varri a cozinha e o quarto dela (e descobri mais cacos de vidro da garrafa), arrumei a sala, guardei os pares de sapatos dela, troquei a roupa da cama dela e fiz um chá. Durante esse processo eu disse a ela para ficar no quarto porque, como uma boa mãe, deveria prezar pelo descanso dela e portanto ela deveria assistir filme para relaxar enquanto eu, que trabalhei o dia todo, estava arrumando as coisas sozinha em casa.

Fiz tudo decidida a não conversar com ela, mas também decidida a não jogar na cara tudo isso e principalmente, a não reclamar. Vi que, durante esse período ela escreveu um e-mail para mim que dizia:

“Desculpas
Eu sei que sou grosseira sempre porque você não é uma mãe normal. Realmente você trabalha o dia inteiro e tem que cogita (palavra em latim para ‘considerar’) que você é mandona às vezes. E a vó é mandona, irritante e chata mas eu não a odeio e nem a você. Não espero que você me perdoe e nem me deixe ir ao acampamento de férias ou à casa da minha amiga mas pelo menos não fique brava comigo porque não vou conseguir ficar feliz se você ficar triste ou brava.
E se você é uma escrava não é uma boa mãe, é apenas uma empregada e não é uma mãe assim que vai virar uma mãe normal porque, se quisesse não teria você como mãe, não é? Então não fique brava comigo por favor.”

Eu ainda não respondi. Honestamente, o e-mail me surpreendeu. Eu sabia que ela estava escrevendo algo porém não tinha idéia da percepção que ela tem das coisas e nem da maturidade dela (curioso... acho que toda mãe tem a tendência de achar mesmo que o filho é mais inocente e despreparado do que de fato é). Pior, ela me chocou, me deixou sem reação, sem palavras e, sinceramente, não sei o que dizer.

É claro que eu a perdoaria, independente de qualquer coisa mas confesso que a minha disposição para conversar com ela até o e-mail era bem menor do que a que tenho agora. 
Não vou ao quarto dela porque sei que ela precisa entender as consequências do que fez mas não vou deixar o e-mail sem resposta até amanhã (ela não merece). Mas não sei mesmo o que responder e, ainda acho que tudo isso foi provocado pelo meu silêncio.

Enquanto eu fazia as coisas, pensava: “Meu Deus, eu definitivamente não nasci para ser mãe... não sei fazer isso e pior, estou comprometendo a vida de outra pessoa que depende de mim... ela é uma alegria para mim mas nessas horas, por covardia e por não saber o que fazer, fico pensando se não tem um jeito mais fácil de fazer isso... O que fazer?” e aí, cheguei a algumas conclusões:

- Às vezes a gente ora e pensa que Deus não está escutando quando, na verdade, Ele está 
nos dando a oportunidade de ouvir o que estamos dizendo e fazendo e mostrando-nos como estamos inadequados;

- Como é dolorido não conseguirmos nos fazer entender, principalmente quando temos boas intenções mas, eventualmente, falhamos. Como será que Deus se sente quando fazemos o mesmo com Ele: somos grosseiros, mal agradecidos, arrogantes ou indiferentes?

- Se eu, que sou falha, penso em fazer o melhor para a minha benção, que dirá o nosso Senhor que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos e pensamos?

- Como será que a minha mãe me aguentou, principalmente nessa fase pré-adolescente??? Esse é um mistério gigantesco para mim porque, que ninguém nos ouça/ leia, eu era bem pior do que a minha benção;

- O que fazer para que isso não aconteça mais? Como fazer com que ela entenda que eu sou falha e não consigo ser a mãe que ela espera, do mesmo jeito que qualquer outro ser humano vai frustrá-la e como às vezes eu me frustro quando coloco as minhas expectativas não comunicadas na vida dela?

Definitivamente, não consigo imaginar uma forma de responder a essas perguntas acima sem Deus... só Ele é onipresente, onisciente e onipotente (graças a Deus!) e pode não só permitir que com a nossa fé movamos montanhas mas, principalmente, através do Seu amor nos concede um coração de carne.

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