quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Per mia madre


Tenho certeza de que Deus escolheu a dedo a mulher exata para a difícil missão de ser a minha mãe. Digo isso porque tenho consciência do desafio que é ser um parente meu, especialmente no posto em que ela ocupa.

Quando eu era criança eu cobrava muito da minha mãe a sua presença mas não entendia que mesmo não estando o tempo todo fisicamente ao meu lado ainda assim ela cuidava de mim. Quando eu era adolescente, eu achava que ela era brincalhona demais e me irritava com isso sem perceber que, na verdade, era isso que eu precisava naquele momento mais difícil. Quando eu cresci um pouco mais, eu achava chato quando ela me pedia a minha companhia sem perceber que, na verdade, era a sua forma de mostrar que estaria ali sempre que eu precisasse.

Interessante como dizem que realmente a gente entende muito dos nossos pais quando nos temos os nossos próprios filhos, ainda mais quando passamos pelas mesmas escolhas que eles. Eu, particularmente, passei por situações tão diferentes mas ao mesmo tempo tão iguais às dela mesmo sem perceber.

Por exemplo: pelo que sei, a gestação dela foi mais complicada e ela perdeu outros filhos antes de eu nascer. Ela disse que queria uma menina porque queria uma companheira para caminhar com ela de mãos dadas nas ruas. Eu me lembro até que ela contou uma vez que tinha tido um sonho durante a gravidez sobre o meu gênero e foi assim que ela soube que seu desejo se realizara (sim, naquela época esse tipo de coisa era muito mais frequente do que as tais ultrassonografias que fazemos o tempo todo hoje em dia).

No meu caso foi diferente: na primeira "chance" acabou acontecendo de eu engravidar. Por sinal, eu queria um menino porque eu sempre achei que não saberia cuidar de uma menina. Aliás, pensando bem, acho também que preferia um menino porque tinha medo de passar pelas dificuldades que a minha mãe enfrentou... hoje não imagino como seria ter um menino e sei o quanto a minha mãe tinha razão quando desejava a sua "companheirinha".

Por outro lado, passei por situações tão complicadas como as dela: lembro-me que a minha mãe dedicou muito tempo seu para a carreira profissional quando eu era criança e eu achava que ela simplesmente não se interessava tanto por mim. Ela trabalhava até tarde às vezes e viajava bastante (às vezes inclusive eu ia junto e achava o máximo porque sempre estava conhecendo lugares novos).

Sem perceber, quando cresci, acabei fazendo a mesma escolha por um período. Ela, que é museóloga, tornou-se agente de viagens. Eu, publicitária, tornei-me analista de sistemas. Mas a correria e as viagens frequentes também aconteceram para mim e eu por um bom tempo segui seus passos.

Hoje percebo que, na verdade, ela dava o seu melhor, especialmente em uma época em que ela simplesmente não conhecia a vida que é Cristo e portanto focava seus esforços naquilo que conhecia ser o melhor. No fundo, ela sempre buscou me dar uma boa vida.

Mais tarde, meus pais se divorciaram. Eu fui cruel com ela na ocasião e, quando me dei conta disso, anos depois, pedi perdão e creio que ela aceitou. Eu a culpei na época porque achava que ela não queria que eu fosse feliz. Depois, percebi que na verdade ela estava só me mostrando como ter a coragem de fazer o que se faria necessário anos depois em minha própria vida de modo digno, reajustando o meu rumo para aquilo que deveria ter sido o meu foco sempre: o Caminho, a Verdade e a Vida (Jesus Cristo).

Algumas vezes eu a vi escolher programações e compromissos na igreja preterindo ocasiões familiares e achava o cúmulo que aquilo fosse correto. Hoje eu entendo que ela estava mesmo era só priorizando estar ao lado daqueles membros da família que mais precisavam dela no momento. Eu a via orar e achava um absurdo como suas palavras ousadas e de tanta autoridade poderiam ser proferidas por alguém tão humano quanto ela... e era ela mais uma vez me ensinando na prática o que diz em João 14:12-15: "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardai os meus mandamentos."

É, definitivamente Deus deve ter tido muito trabalho para escolher essa mulher. Mas posso falar? Ele acertou em cheio!!!

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