sexta-feira, 7 de junho de 2013

O fariseu e a prostituta

Ouvindo uma pregação do Ed Renê ouço a seguinte pergunta: "de onde foi que você tirou a ideia de que o fariseu é melhor ou mais amado pelo Senhor do que a prostituta?" e passei a pensar no que exatamente isso significa. Claro, apenas para contextualizar, a pregação em questão é baseada no texto de Lucas 15:11-32 (a parábola do filho pródigo) e o pregador fala de como encaramos a graça de Deus e a transformamos em algo comprável dentro de nossas mentes e nossos corações.

É engraçado porque, parando para pensar sobre isso, penso que em alguns momentos eu fiz coisas pensando que Deus me amaria mais por conta de alguma atitude ou menos por conta de outra. Mas, relembrando agora, vejo que no fundo Ele me ama sempre do mesmo jeito: a diferença está no quanto Ele fica satisfeito com o rumo que eu decido tomar na minha vida, e não é porque Ele deseja algo que seja ruim para mim; pelo contrário, é porque como Ele tem o melhor, dói para o Pai (como para qualquer pai) ver o Seu filho fazendo algo que não faz o menor sentido e só dificulta as coisas para a vida do próprio filho.

Lembrei-me de uma vez em que vi um exemplo contado por um pregador que, ao tentar explicar porque as pessoas não deveriam pecar, usou uma situação em que seu filho pedia para ir a um lugar em que as atividades ali desenvolvidas seriam de teor "duvidoso" em relação à santidade. O pregador em questão comenta que o filho tentou argumentar e dizer que não teria problema já que era só uma festinha, só um pouquinho de distração ou só um pouquinho de pecado. O pai, já sem forças para argumentar, deixa-o ir à escola e faz um bolo de chocolate para o filho. Quando este volta, lá está o bolo, lindo, o aguardando e, quando o pai oferece, ele começa a comer. Entre uma garfada e outra, o pai informa ao filho que junto com os ingredientes tradicionais do bolo ele tinha colocado um ingrediente surpresa para dar um sabor diferente. E o filho, claro, curioso, começa a tentar adivinhar. Depois de várias tentativas frustradas, o filho pergunta o que era e o pai informa que usou "só um pouquinho de cocô do cachorro da família". O filho, desesperado, cospe o bolo. E o pai, com um sorriso maroto, vira-se para ele e pergunta: "ué, qual é o problema? Foi só um pouquinho...". E o garoto entendeu o que o pai quis dizer ali.

Só que, uma coisa que tinha me escapado esse tempo todo é que, no fundo, o pai não queria que o filho comesse o bolo. E claro, não é porque ele perderia algo ou teria algum prejuízo: de fato, mesmo que o filho comesse, em nada mudaria a rotina do pai, que já tinha gasto o tempo necessário para cozinhar o bolo e já o tinha deixado pronto. O pai não queria que o filho comesse o bolo porque era ruim para o filho, e só para o filho.

Ou seja, a atitude do filho de comer ou não o bolo não mudaria o amor do pai por ele, não mudaria o quanto o pai está ou não orgulhoso de seu filho neste caso, mas claro, mudaria o estado físico do filho, afinal, não deve ser das coisas mais saudáveis comer cocô. Mas, no fundo, não é isso que fazemos quando escolhemos as coisas que não são de Deus?

A gente fica com o conceito na cabeça de que podemos fazer algo para receber ou deixar de receber uma benção mas, considerando que o critério não é mérito e sim graça, nada disso faz sentido. A gente se acostuma (especialmente quem enfrenta esse mundo corporativo diariamente) a pensar que as coisas acontecem de bom quando fazemos algo, ou que as coisas ruins acontecem quando fazemos outra coisa, mas no fundo, tudo isso é um engodo, já que não é pelo que somos, temos ou fazemos mas é pelo que Ele é.

Claro, somos sempre incentivados a fazer o melhor porque isso melhora as coisas para nós mesmos. É o lance do bolo de chocolate com cocô: melhor não comer porque vai fazer mal para nós depois. Mas, podemos comer o tal bolo e nos deliciarmos com aquele "ingrediente especial" que, no fundo, só nos prejudica, mesmo podendo conferir ao quitute um gostinho agradável (o que em certos casos eu realmente duvido, como o do cocô).

Considerando isso, volto à pergunta inicial: o que nos faz pensar que o fariseu é melhor do que a prostituta? O que mesmo nos faz pensar, crer e agir como se o fariseu fosse realmente melhor do que a prostituta? Será que é porque os pecados dele (que são tantos quanto os da prostituta ou até mais numerosos) simplesmente não aparecem como os dela? Aliás, pensando nisso, chego à seguinte conclusão: prefiro ser a prostituta, não pelo teor dos pecados mas pela sinceridade de vida, já que pelo menos a prostituta sabia que estava errada, não queria mais aquela vida e buscava algo melhor, ao passo que o fariseu, por estar "justificado" pelo seu "bom comportamento", vive um engano e provavelmente demorará muito mais para ser livre do que aquela que já está consciente de seus pecados...

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