Hoje tive a oportunidade de conversar com um colega de trabalho que tem uma visão muito peculiar do mundo corporativo. Ele é, tentando definir de modo justo ou mais claro, um belo exemplar daquilo que poderia ser considerado um homem bem sucedido. Isso porque, quando chegou na empresa, era apenas um vendedor em uma área de três funcionários (a empresa toda tinha umas dez pessoas) e com o passar dos anos ele passou a ganhar mais espaço, promoções, até que se tornou superintendente da área que, na ocasião, tinha quase vinte pessoas (a empresa na época tinha umas cento e vinte ao total). Por ter chegado a este ponto em sua vida, ele teve a certeza daquilo que desconfiava: ele é bom mesmo no que faz! Tão bom que ninguém o derruba... será?
O tempo mostrou que a vida não é bem assim e que o ditado que diz que "um dia é da caça e outro é do caçador" pode ser bem verdadeiro. Em um determinado período da minha vida, ele me dirigia olhares de piedade porque escolhi caminhos que buscavam manter íntegros os meus valores ao invés de aceitar o dinheiro como motivação maior. Agora, ele é mais manso e, embora ainda muito magoado, ele olha as pessoas como iguais... curioso, não?
Enfim, o ponto é que na nossa conversa ele comentou que está proporcionando a seu filho de dezoito anos um intercâmbio no exterior por seis meses. E ele comentou que essa é a oportunidade que ele dará ao rapaz e que, daqui em diante, está nas mãos do moço. De fato, concordei com ele que é justo e que, como pai, o papel dele em termos de provedor está no fim.
O comentário veio porque como eu acabei de voltar de férias falamos um pouco da viagem que tive oportunidade de fazer com minha filha e de como foi a experiência de estar em um país de outra língua e porque eu havia escolhido proporcionar essa experiência para ela. Ele, como a grande maioria das pessoas desse mundo, entende que a formação é sim uma grande chave para conseguir sucesso profissional, já que o conhecimento e alguns poucos detalhes podem fazer toda a diferença no momento de uma seleção (formalizada ou não).
E aí, durante a conversa, comentamos que esse desejo vem porque não tivemos as mesmas oportunidades que nossos filhos e que é normal que os pais queiram dar mais chances. E ele contou que virou a seu filho e disse: "Quando eu era novo, me deram uma colherinha de café, pequenininha, e me mandaram cavar com ela... e olha o tamanho do buraco que cavei! Pense que estou te dando uma britadeira e aproveite que, para você, a vida está começando com mais facilidade. Não desperdice essa oportunidade do intercâmbio porque daqui em diante é com você.". E eu absolutamente amei a comparação!
Olhando para trás, já tive situações em que eu ganhei uma colher de café para cavar um buraco capaz de passar o metrô (como no caso da empresa em que trabalho). Nessa situação, com a graça, o amor e a coragem que Deus foi colocando no meu coração, ganhei espaço e consegui avançar. Em outras, eu ganhei uma britadeira e, por ser sofisticada demais, não sabia exatamente tudo o que ela podia fazer e fiquei como que usando o instrumento para bater na parede tentando usá-la do modo errado... ou simplesmente desperdiçando-a.
QUantas vezes pedimos a Deus que mande uma britadeira mas não sabemos nem onde tem que ser aberto o buraco ou mesmo como usar uma colher? Quantas vezes pedimos a Deus que nos dê uma britadeira mas não temos força nos braços (ou até disposição) para segurar a ferramenta que exige uma preparação maior de uso?
Isso tudo me faz aprender que precisamos ser sábios ao pedir algo. E a sabedoria tem que, no fundo, começar com termos uma visão clara do que queremos, como obteremos e, lógico (mas nem tão óbvio assim), o que faremos com ela quando ganharmos. Isso significa que não adianta orar pedindo um filho quando a mulher não sabe nem ao menos cuidar de si mesma. Ou ainda, quando pedimos para ter uma oportunidade de emprego mas, de verdade, não estudamos o suficiente ou ainda não estamos dispostos a trabalhar o suficiente para avançar nesse sentido.
Então, preparação não é tudo mas é definitivamente muita coisa. Fé é o meio de agradar a Deus mas mais importante do que acreditar é conhecer no que está sendo depositada a sua fé. E claro, iniciativa é o ingrediente principal para fazer com que a oração (como comentamos eu e um amigo recentemente: "oração = orar + ação") realmente se torne em benção.
Por fim, é importante aceitar o instrumento que recebemos. Afinal, quando Deus nos coloca em uma situação, é sim para que aprendamos a sermos gratos e a confiar que, com uma colher de café ou com uma britadeira, quando Ele está no negócio, não tem como dar errado!
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