quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A questão não é como descascar uma laranja...

Eu tenho um amigo que é praticamente um irmão para mim. Amo a vida dele de um modo que é difícil de explicar, especialmente porque de fato muitas vezes nós brigamos como se fôssemos mesmo irmãos de sangue, o que é quase incompreensível, já que embora tendo irmãs, eu sempre fui filha única da minha mãe e portanto sempre fui "sozinha" em casa. E mais: não tenho irmãos... sempre desejei um mas nunca tive. Até agora...

Esse moço era apenas um colega de trabalho e, por ocasião do término do relacionamento dele com a namorada (e do meu com o meu namorado na ocasião) acabamos nos aproximando. Ele nasceu praticamente dentro de uma igreja e por isso eu entendia muito do que acontecia na vida dele, mas sabia que Deus tinha (e tem) muito mais para ele. E em um sábado, aparentemente sem mais nem menos, eu decidi convidá-lo a ir na célula comigo.

Chegando lá, ele acabou fazendo amizades muito facilmente (é bem o jeito dele mesmo) e acabou se entrosando rapidamente em um ambiente com um grupo que o acolheu de um modo que ele nunca tinha vivido. E aí, num dado momento, depois de muita insistência, ele decidiu participar de um final de semana separado para um encontro pessoal com Deus.

Vale ressaltar antes de continuar que uns dias antes do tal evento eu e ele tivemos uma conversa muito dura e ficou muito claro para mim o quanto ele estava cego em relação ao mundo ao seu redor e isso aparecia para mim como uma luz daquelas que ofusca a visão e impede de ver tudo o que está mais adiante. E eu chorei... e clamei a Deus que desse uma oportunidade a ele de aprender através do amor e não da dor. E foi quando ele topou ir no encontro. E sua vida mudou. Ou pelo menos começou a mudar.

Só que eu achava que, uma vez que isso tivesse acontecido, todos os problemas teriam sido resolvidos e ele mudaria por completo em um piscar de olhos. E, de um jeito muito amargo, percebo que, assim como a maioria das coisas, essa mudança é o resultado de um processo e não apenas de um evento.

O mais curioso é que conforme vamos nos aproximando, mais eu me irrito com ele ultimamente. Seja porque ele simplesmente não consegue entender e aceitar que infringir regras de trânsito é um completo absurdo; seja porque ele não consegue ver o quanto ele é arrogante quando vê os erros dos outros e não consegue nem cogitar a possibilidade de ter se expressado de jeito errado ou de ter dito algo que não devia; seja porque ele cobra de outros ainda coisas que ele mesmo não vive (mas não percebe); seja o que for: a maioria das coisas que eu vejo ele contando ou fazendo passou a me irritar profundamente. E eu fiquei a meditar o motivo disso.

Discutimos cada vez com mais frequência e por motivos cada vez mais ridículos. A gota d'água para mim foi quando ele comentou que queria comer uma laranja mas não sabe descascar... e por não ter melhor meio, enviei um vídeo explicando como fazer isso... e ele, além de não assistir, estragou bastante da laranja e ainda ficou contando vantagem para os outros. Não tenho como descrever o quanto isso me deixou irada. E me irritou porque eu sei que o problema não é a laranja: o problema é que ele é assim para absolutamente TUDO.

E aí, fiquei pensando: será que o problema é realmente o fato dele ser assim para tudo? Será que ele é mesmo assim para tudo? Mas, eu sempre soube que ele era assim... por que isso me incomoda agora? E de repente, algo me ocorreu: será que isso me irrita tanto pela minha completa falta de habilidade de aceitar as pessoas como são ainda quando vejo nelas aquilo que elas serão em Deus lá na frente? E, pois é... o problema é esse.

No fim das contas, o problema não é descascar a laranja, não é furar o sinal vermelho (bom, isso é realmente um problema mas o ponto aqui não é esse) e nem fingir que não tem problemas. O ponto aqui é a minha impaciência e a minha falta de tolerância com os outros. Principalmente porque eu espero para mim uma compreensão e um apoio dos demais que eu sei que não tenho.

Descobri que eu mesma cobro dos outros um apoio e um incentivo que eu não recebo mas também não via que não consigo dar. Descobri ainda que o que mais me irrita nele é que ele tem os mesmos defeitos que eu, e pior: algumas coisas que eu achava que eram boas características em mim e que de verdade são defeitos mesmo, coisas ruins que incomodam e atrapalham os outros. Então, vi que o que mais me incomoda nele é que ele é tão terrível quanto eu, com a diferença que, olhando para ele, eu simplesmente não tenho como ignorar aquilo que preciso que Deus mude em mim.

Então, a questão definitivamente não é sobre como descascar uma laranja. A questão é como uma pessoa do seu lado pode, de modo tão eficiente, ser usada por Deus para descascar a sua visão e provocar-nos ao ponto de querermos descascar a alma para que Deus, de uma vez por todas, tire tudo aquilo que definitivamente não deveria estar ali.

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