quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Choque de realidade

No primeiro dia, ao sair para almoçar, fui procurando o shopping que me indicaram, que de fato é bem pertinho do hotel carinhosamente escolhido pela minha pastora (muito aconchegante até aqui por sinal). Segui a direção indicada pelo pessoal do hotel e poucos metros depois de começar a andar, deparei-me com um jovem só de bermuda acompanhado de sua amiga andando e conversando animadamente. Ele estava com aquela cara (e cheiro... e acreditem, se eu senti é porque o ovo ficou apodrecendo por um tempo razoável) de quem passou por algo que na minha infância chamávamos de "ovada", que era uma mistura de ovo podre, café, chocolate, farinha e qualquer outra coisa gosmenta que aparecesse na frente para saudar um aniversariante. Achei curioso porque nunca mais vi isso na minha cidade e continuei.

Mais alguns metros e fui encontrando vários outros jovens no mesmo estado e percebi então que hoje não é aniversário de todos eles... olhei para os lados e vi um cursinho pré-vestibular e tudo ficou mais claro: eles estavam comemorando quem foi aprovado nas provas de alguma faculdade.

Achei o ritual bem pitoresco, com um gostinho de infância (bom, quando o pessoal passa na faculdade na minha cidade isso não acontece, e olha que eu trabalho na frente de um cursinho pré-vestibular considerado grande) e fui observando a festa, desviando para não esbarrar em nenhum "ovado". Mas foi aí que reparei que a festa tinha um ingrediente a mais: cachaça aos litros, sendo tomada por diversos jovens (acredito que por quase todos eles sem muita distinção).

Não serei hipócrita: eu mesma bebi por muito tempo na minha juventude (e até quando cresci) e em uma quantidade muito maior do que de fato eu (ou qualquer pessoa) deveria em algumas situações, mas confesso que ver aquela garotada tão nova bebendo assim às claras, ao meio dia, me chocou um pouco.

Fui olhando as meninas e os rapazes e vi que as camisetas foram rasgadas na comemoração, o que fez com que as meninas ficassem na sua maioria com as barrigas de fora e os garotos praticamente (ou literalmente) sem camiseta, como o primeiro rapaz que eu vi. De novo, não posso ser hipócrita: além da cidade ser realmente quente, entendo que as pessoas que não vivem uma busca por santidade no fundo acham uma boa ideia mostrar seus corpos, dando valor a algo que pode ser belo mas passa, e vai embora muito mais rápido do que se possa imaginar.

Confesso que foi um misto de sensações ver tudo aquilo, especialmente quando eu vi uma mãe fotografando a coisa toda com um sorriso orgulhoso no rosto. Fiquei me perguntando porque exatamente ela acharia uma boa coisa ver seus filhos menores de idade se embebedando à luz do dia e rasgando suas roupas em comemoração a uma vitória.

Foi também inevitável pensar na minha filha que hoje tem treze anos mas já tem mais estatura do que eu (ok, eu sou pequena mas ela está grande e isso não é discurso de mãe coruja) e em pouco tempo estará em cursinhos pré-vestibulares e, Deus nos permita, comemorando sua passagem para a faculdade de modo bem mais saudável do que aqueles jovens que eu encontrei. Foi difícil também não lembrar de cada jovem com quem convivo: aqueles que já estão na faculdade e passaram pelo vestibular não faz tanto tempo assim, e daqueles que ainda passarão ou que estão enfrentando os processos seletivos neste ano (eu mesma conheço alguns e acompanho a vida escolar que está no fim).

Meu coração se encheu de um misto de preocupação e responsabilidade, afinal, como é que chegamos a esta situação que encontrei? E mais: como ser influência positiva para evitar que isso continue acontecendo.

Não acredito que o caminho seja reprimir. Sou a favor da correção mas acho que reprimir é algo que se faz tarde demais, quando de fato nada mais funcionou. E o que vejo é que nós, pais, não temos tentado o suficiente outras coisas, seja porque não acreditamos, seja porque não vivemos, seja porque simplesmente estamos longe demais de nossos filhos para que eles vejam que vivemos uma vida diferente dessa que eles vêem na TV e almejam para si.

Deu-me uma sincera vontade de abraçar a todos eles, e a alguns chegar e dizer que a vitória deve mesmo ser comemorada mas que esse tipo de comemoração não traz bons resultados. Uma das moças que vi estava ali bebendo claramente para não desagradar o grupo de rapazes que a cercava insistindo. Ou seja, ao invés dela ser cuidada pelos seus amigos, ela estava sendo pressionada a agir de um modo que não é bom para ela (e nem para eles no fim das contas).

Para aquele grupo, faltou amor, faltou identidade, faltou Cristo. Para mim, sobrou vergonha por saber que os jovens que passaram perto de mim até hoje provavelmente não se sentiriam mal por fazer algo assim, até porque talvez há pouco tempo atrás eu mesma estaria praticando algo do tipo. Sobrou ainda responsabilidade e aquela "pulguinha atrás da orelha" me fazendo pensar: como me aproximar desses jovens e mostrar a eles que existe um caminho melhor? Como fazer isso sem ser chata, sem adotar um discurso gasto de tão usado mas ao mesmo tempo tão repelido por ser apenas um discurso? Como dizer isso preferencialmente sem falar nada? Peço a Deus que me dê estratégias e me mostre como ser alguém que é um referencial positivo para esta geração, sem me tornar ridícula por tentar viver o que eles vivem com muito mais idade mas sem criar a barreira que a idade costuma criar naqueles que são mais novos.

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