Hoje eu faço questão de contar uma história que não é minha, mas que me deixou sinceramente inspirada (pra não dizer inclusive envergonhada de não ter a mesma garra e determinação).
Tenho uma tia que mora nos Estados Unidos há vários anos. Ela tem uma vida que eu particularmente acho muito legal (com exceção da profissão, que confesso, não consigo imaginar porque alguém gosta de fazer o que ela faz): ela é bioquímica, e trabalha em uma universidade, não só fazendo experimentos específicos na área dela como orientando alunos da universidade em seus experimentos. Fora isso, ela é casada com um cara muito legal, que é dos Estados Unidos (tenho certeza) e é bioquímico também (eu acho) e que trabalha na mesma universidade que ela. Eles moram em uma casa que eu conheço por fotos mas que pelo que já vi é realmente linda, não só pela arquitetura, mas também pela maneira como eles decidiram arrumar por dentro. Eles tem três cachorros que rendem histórias incríveis e volta e meia a gente se mata de rir com elas.
Além disso tudo, ela cozinha coisas que tem uma aparência sensacional! São tão bonitas (e quem já provou diz que são igualmente gostosas) que as fotos que ela posta no blog dela sobre comida são de dar inveja e fazer a barriga roncar! Ah, sim, ela ainda consegue escrever um blog com suas peripécias culinárias, e compartilha suas aventuras (pães, bolos, petiscos em geral e pratos lindos) com seus alunos do laboratório e seus convidados que volta e meia passam pela sua cozinha, entre eles reitores de universidades, investidores e até alguns prêmios Nobel.
Como se fosse pouco, ela também se exercita com frequência. Aliás, diga-se de passagem, com uma frequência invejável. Tendo quase vinte anos a mais do que eu, certamente ela em um mês deste ano se exercitou muito mais do que a maioria das pessoas que conheço no último ano inteiro. Ou seja, ela é realmente um referencial em vários aspectos!
Embora ela sempre nos brinde com histórias interessantes (ou no mínimo curiosas), teve uma que realmente me deixou sem fôlego: ela decidiu se preparar para correr uma prova de longa distância com seu esposo. Ambos vinham treinando constantemente e claro, cada um a seu ritmo mas, tanto um quanto outro, muito disciplinados e focados em completar a prova no menor tempo possível. Para ele, a preocupação era uma cirurgia no joelho que, embora não seja tão recente, ainda não tinha sido colocada à prova desta forma. Para ela, apenas a preocupação com o marido. Isso até uns quinze dias antes da prova...
Uma quinzena antes da corrida (acho que foi isso) em um dos treinos, por alguma razão, ela forçou demais seu corpo e o músculo de uma das pernas estirou-se, o que trouxe grande dor e muita apreensão em relação à prova. Ela diminuiu o ritmo de treinos para garantir que poderia participar da tão planejada corrida, mas mesmo assim esse tempo não foi suficiente porque foi perto demais do dia D.
Só que, uma vez inscritos e já tendo viagem marcada e comprada para o local da prova, lá foram eles. E ela contou que logo nos primeiros dois minutos ela percebeu que não conseguiria correr mais nem duzentos metros. Ela ficou então por um período tentando convencer o esposo a seguir sozinho, e quando venceu essa batalha (o cara é mesmo muito companheiro... imagino que para ele ter deixado ela parar e descansar e prosseguir sozinho deva ter exigido uma boa dose de argumentação por parte dela), ela decidiu voltar então ao início do percurso para sentar-se e aguardar a chegada do maridão. Era o melhor a fazer? Não sabemos, mas era o que parecia mais razoável naquele momento, considerando a lesão e a dor.
Ela nos contou então que, quando estava chegando na largada, ela parou e pensou: "I'm not a quitter!" (ou seja, "eu não sou de desistir" ou "eu não sou das que desistem") e começou tudo de novo. Claro, a seu ritmo, ou seja, andando (na verdade, mais mancando do que andando propriamente) e, passo a passo, foi superando a dor e os quilômetros do percurso, até que concluiu a prova. O maridão, claro, no final a aguardava ansioso e comemorou com muito orgulho a conquista de minha tia. E ela compartilhou conosco com o mesmo orgulho a sua conquista.
E isso me impactou de tal forma... é difícil de explicar. Uma vez eu ouvi de um conhecido que a gente tende a ser um "quase" na vida muitas vezes. A gente escolhe, por ser mais confortável, mais tranquilo ou mais fácil, deixar as coisas sem conclusão, ou simplesmente abrir mão de algo que se sonhou porque, na primeira dificuldade, pareceu difícil demais... e aí, a gente passa a ser um "quase" corredor, "quase" sucesso, "quase" fala um idioma ou "quase" fez aquela viagem... que maldição é essa que nos acomete e que nos convence que está tudo bem em ser um "quase"?
Esse episódio me marcou de uma forma que eu acho que ela nem sabe. Por causa disso, neste último domingo, acordei mesmo com sono, fome e dores, no horário certo para treinar, e dei o meu melhor. Por causa disso, tenho olhado para algumas coisas na minha vida e pedido a Deus que me dê forças para com alegria poder olhar para os desafios na minha vida e dizer como ela: "I'm not a quitter!!!". Só depende de mim.
Nem sei o que dizer.... super tocante e uma das maiores homenagens que recebi em tantas decadas de vida...
ResponderExcluirvaleu!