De uns tempos pra cá tenho convivido com alguns militares. Eu nunca tive parentes militares, e nunca tinha tido essa chance até esse momento da minha vida, e curiosamente, nem convivi com pessoas que serviram ao Exército (mesmo o pai da minha filha foi dispensado, e os poucos amigos que serviram o Exército na juventude eu perdi contato). Aliás, nunca achei isso ruim, porque desde sempre ouvi piadinhas infames sobre a (falta de) inteligência necessária para ser um militar, sobre a truculência, ou ainda mesmo sobre aspectos que não eram favoráveis aos que seguem esse tipo de carreira. Ouvia também casos de abusos policiais, como o caso de uns policiais que extorquiam e torturavam pessoas em Diadema (anos e anos atrás), e também me lembro bem de um policial, atirador de elite, que errou o alvo numa ação policial em que ele acabou acertando o sequestrador e a vítima, matando os dois, que estavam na janela do sobrado dela, em 1987.
Sou de uma época em que o país saía da Ditadura Militar, e que os tais eram mesmo muito mal vistos. Não ouvi meus amiguinhos na escola dizerem que queriam ser policiais ou soldados: ouvia como opções "médico", "engenheiro", "dentista","historiador", mas militar... nunca! Mesmo os que gostavam de aviões não demonstravam interesse em entrar para a Aeronáutica.
Inclusive, a coisa mais próxima que tive de ter um militar na família fui eu mesma: com dezessete anos, cogitei entrar para a Aeronáutica, que eu achava mesmo incrível (provavelmente porque nasci na época do Top Gun, e aquele filme com o Tom Cruise e a Kelly McGillis realmente me tirava o fôlego!) mas fiquei só na vontade, nunca levando nada disso adiante. Fora disso, tenho um irmão que é bombeiro e muito a contragosto teve que ser policial por um tempo, e orava pedindo a Deus que aquilo tudo acabasse logo porque o objetivo dele estava longe de carregar uma arma e ter que invadir comunidades ou abordar policiais. Ou seja, tive vários referenciais que não ajudaram em nada.
Somando-se a isso, tinha em família poucos referenciais e conceitos positivos sobre autoridades, e definitivamente, os militares não eram populares lá em casa. Se fôssemos gregos, certamente seríamos atenienses, nunca, jamais, espartanos! Imagine então o que se passava na minha cabeça sobre essa classe profissional...
Estando mais perto agora de alguns deles, comecei a perceber uma coisa: a maioria tem orgulho de ser reconhecido como um militar, e eles tem fotos com suas fardas, e gostam de suas atividades, e parecem ser bem mais felizes do que muitos profissionais por aí. Inclusive, quando se pergunta para eles sobre o que fazem da vida, a resposta nunca começa com um "eu faço" ou "eu trabalho em", mas sempre é um "eu sou", o que passou a me intrigar (alias, fazendo uma análise mais criteriosa, meu irmão bombeiro também fala que é bombeiro, e não que faz isso ou aquilo... talvez em parte porque é fácil alguém entender o que faz um bombeiro, mas em parte porque aquilo é de fato o que ele é e não apenas o que ele faz). Fica parecendo que, de alguma forma, aquela farda é parte da pele daquelas pessoas, não apenas um uniforme para descaracterizá-lo e deixá-lo igual aos demais que o vestem.
Com tudo isso, o paralelo com a vida cristã para mim passou a ser inevitável: a Bíblia faz diversas menções sobre o Senhor dos Exércitos, sobre o Nosso General, sobre se entregar a algo, se necessário, até morrer por aquilo, enfrentar guerras, seguir em frente até o fim (como se de fato estivessem em um campo de batalha), sobre questões de vida e morte... começo a pensar que para um civil é muito mais complicado entender com a profundidade necessária cada uma dessas coisas do que para um militar, que desde cedo é levado a conviver na prática com cada uma dessas questões de hierarquia, serviço, grupo, ideais, entrega, e honra, algo que definitivamente eles entendem bem mais e melhor do que a gente.
Pelo pouco que tenho visto, ouso arriscar a dizer que militares chegam a ser apaixonados pelas suas corporações. Afinal, é difícil ver um militar abandonando a farda ou falando mal daquilo que ele é. Ok, eu não conheço tantos assim, e provavelmente existam alguns vários infelizes nas corporações, mas de alguma forma, vejo que é como se ser um militar fosse mesmo ser parte de algo maior, como se isso fizesse parte da identidade deles, mais do que uma ocupação, mais do que uma profissão... algo do qual nunca se aposenta, nunca de deixa de ser. A alegria de ver os que realmente curtem ser parte daquilo serem identificados como militares me faz pensar em como a gente se sente quando alguém nos reconhece como cristão...
Ainda não consegui concluir muito, mas tem algo nisso que me chama atenção e eu ainda não sei dizer o que é... acho que merece pesquisa, e com isso Deus abra os meus olhos para outros aspectos do Seu reino que ainda não entendi. Pra falar a verdade, nem sei bem por onde começar... talvez perguntar para eles o que de fato eles pensam sobre o assunto pode ser um bom começo. Vamos ver no que isso vai dar...
Eu sou militar e amo vestir o meu camuflado, ele faz parte de mim
ResponderExcluirEu sei, e isso é tão forte que me faz questionar até que ponto eu realmente "visto a camisa" daquilo que me proponho a participar...
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