segunda-feira, 4 de abril de 2016
Missão cumprida
Quantas vezes a gente perde oportunidades preciosas simplesmente por não entender o tamanho delas? Ou mesmo não as ter visto? Quantas vezes deixamos passar situações e contextos que, no momento, parecem tão pequenos e insignificantes, mas com o passar dos anos, ganham uma proporção gigantesca?
Ontem eu tive a oportunidade de viver um desses momentos com uma amiga muito querida. Eles começaram o que a gente chama de corte, que nada mais é do que uma amizade com contornos de namoro (mas sem a parte física) cujo objetivo é conhecer a pessoa o suficiente para saber se realmente aquele outro ser humano pode ser o companheiro que Deus tem para a vida toda. No caso deles, a corte começou de modo "extraoficial" ao meu ver bem antes, já que a corte é o período da amizade, do andar junto, do orar, de conhecer as famílias... e isso eles já vinham vivendo antes da oficialização que aconteceu ontem. De qualquer modo, foi um processo longo e cauteloso, e olhando agora, entendo mesmo que foi bom assim.
Enfim, por conta do contexto, pareceu que o evento de ontem não era nada assim tão significativo, já que eles vinham nessa amizade há mais de ano, e ontem era mesmo só a benção oficial do pastor dela. Mas, por outro lado, ontem era a benção oficial do pastor dela sobre o relacionamento, e isso é super importante, já que é o momento em que, como igreja, entramos oficialmente em um relacionamento reconhecido por todos, e é neste momento que todos se conhecem e entram com o casal no compromisso de colaborar com o processo, orando, vigiando, acompanhando e claro, comemorando ou abraçando, independente do que venha a seguir, até porque a corte pode terminar em casamento um mais uma linda amizade (deveria pelo menos, mas isso é assunto pra outro texto).
Eu participei dessa história desde o começo: lembro-me da primeira vez em que ela mencionou aquele rapaz do seminário, colega de classe dela, com uma voz e um tom mais apaixonado... eu lembro que na ocasião eu sugeri que ela não criasse expectativas e que deixasse isso de lado, mas que orasse também para que Deus cuidasse de tudo. Curiosamente, o tal rapaz começou a interagir com ela no seminário, já que eles estavam na mesma classe, e em um determinado dia, eles tiveram aula com o pai dele (que agora é pastor). Esse homem, expressão do amor e da mansidão de Deus para quem tem a oportunidade de conviver com ele, começou a olhar mais de perto aquela moça que estava na classe de seu filho, e puxou assunto com ela. A coisa foi indo, e eu do lado de cá, acompanhando tudo, ouvindo as expectativas, os medos, os sonhos, as alegrias e as dúvidas dela. Por muito tempo oramos, e eu me preocupei porque não sabia até que ponto aquilo iria adiante, mas ficava feliz por ela, por ver que tudo aquilo, acima de qualquer coisa, a fazia se sentir honrada e respeitada por ele e pela família dele (coisa rara hoje em dia).
O negócio foi avançando e eu me lembro que em um determinado momento ele foi convidado para um aniversário dela, e ele foi. Na ocasião, minha maior preocupação era de que ela estava sempre tendo contato com a família dele, mas eles não tinham contato com a dela, por diversos motivos que não cabem comentar. E uma certa indignação me invadiu, porque eu via que ela tinha família, e precisava ser representada. E eu decidi entrar na jogada e comecei a me aproximar do rapaz. Na época, eu já tinha bastante amizade com a família dela, especialmente com o irmão, e decidi que eu tomaria essa posição então, já que os pais não estavam em condições de fazê-lo. E "fui pra cima" para entender o que estava de fato acontecendo do outro lado.
Sutileza nunca foi mesmo o meu forte, mas eu fui o mais delicada que consegui, e aos poucos vi que as minhas preocupações eram infundadas. Eu já tinha tido aulas com o pai do rapaz e conhecia bem o seu caráter de ouvir falar de várias coisas, mas quem disse que "filho de peixe peixinho é"? Com o passar do tempo entendi que ele era mesmo um rapaz bem intencionado e comecei a orar para que Deus confirmasse tudo aquilo. Foi um processo longo mas de grande aprendizado para eu e ela.
Lembro-me por fim de um dia em que estávamos eu e ela conversando, eu dirigia para a casa dela, e ela ao meu lado falava que não acreditava que um rapaz de tão boa família, com tantas qualidades, poderia se interessar por ela... e eu ouvi tudo aquilo, e me lembro que em seguida conversamos muito mesmo, e o que eu disse a ela foi: "aproveite este tempo sem criar grandes expectativas... você é tão interessante quanto ele, e se Deus está permitindo esse tempo, aproveite-o da melhor forma... na pior das hipóteses, você vai ganhar um grande amigo" e parece que aquilo surtiu um efeito maior do que eu esperava, e ela abraçou a ideia, e seguiu em frente.
No começo do ano passado, depois de conversar horas com o pai dele, passando-se uns dias, eu tive a confirmação de que aquilo tudo era mesmo de Deus, e pude orar pelo rapaz e agradecer a Deus pelo tempo que passou e pelo tempo novo que viria. Naquele mesmo dia, eu fui à casa dela, e falei que entendia que a estação tinha mudado, e que dali em diante, as coisas não seriam as mesmas, mas que ela estaria bem. A entreguei nas mãos do pastor (pai do rapaz) e seguimos em frente.
E ontem eu tive o privilégio de fazer parte desse momento de oficialização de uma história tão bonita, tão cheia de vida de Deus, de respeito, carinho, cuidado e bons exemplos do que é uma família.
Também tive a oportunidade de "arrastar" o irmão dela para essa ocasião que, se fosse de outra forma, ele não participaria, e eu sei que, mais para frente, a presença dele ali vai se mostrar muito mais importante do que ele possa imaginar.
Eu tenho a honra e a alegria de terminar um ciclo e a minha participação direta em uma história saindo com a sensação de missão cumprida. Fico triste por não ter conseguido perceber isso em relação a outras pessoas que passaram ao meu lado e eu não tive a mesma percepção, mas por outro lado, fico com a lição de que fazer parte de algo bonito assim vale a pena.
Peço ainda a Deus que dessa história muitos frutos doces venham, e que sejam mesmo benção, e que lá na frente, outras moças e rapazes possam se beneficiar de um exemplo tão bonito daquilo que Deus pode reservar para um casal. Espero ainda que a família dela possa, em algum momento, entender como era necessário que eles estivessem ali, e que possam tentar compensar o tempo perdido, se é que isso é possível...
E por fim, peço a Deus que me dê sensibilidade e visão para poder entender o tempo das coisas, e o meu papel em cada história. Quero ser benção na vida das pessoas, e quero poder olhar para mais e mais histórias assim e ver que, de alguma forma, Deus me deu o privilégio de ser apoio e instrumento Dele, fazendo a diferença de modo positivo, deixando um legado que vai ficar, mesmo quando eu não estiver mais nessa Terra.
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