Bom, desde que cheguei na casa aqui, tinham algumas coisas claramente muito legais e outras que me incomodavam. Das coisas legais tinha o fato de que cheguei e estava sozinha no quarto, e depois acabei recebendo uma companheira que não ronca. O quarto em si não tem muito espaço no armário, o que não é tão legal, mas tem uma varandinha que acalanta meu coração. Embora estejamos de frente pra avenida, não rola barulho, o que é excelente, e eu confesso que nem mesmo a existência de uma única tomada no quarto todo me incomoda muito, apesar de não ser legal ter os interruptores do lado de fora dos ambientes, e não ter lâmpada de leitura no quarto (ainda). Outra coisa legal é que, fora o quarto dos homens, a casa é bem iluminada e arejada, e isso é bem simpático pra mim. No fundo, acho o apartamento excelente, e ficaria bem feliz de morar sozinha ou com a minha família em algum lugar exatamente como esse. O prédio é cheio de idosos, o que nos confere uma tranquilidade sonora, e a única "perturbação" de fora é uma vizinha que toca música clássica em um período do dia, mas ela toca bem e é bastante agradável. Os mais barulhentos na realidade são os brasileiros do apartamento aqui.
Mas, por outro lado, os quartos e o banheiro não tinham chaves, o que deixava todo mundo da casa um tanto incomodado porque, imagina se alguém resolve usar o banheiro naquele momento de maior necessidade de privacidade e, de repente, alguém esquece de checar se o local está em uso e resolve entrar, assim, na emergência, e dá de cara com o outro ali, "processando"? Fora disso, sair de casa e deixar suas coisas ali no quarto aberto, de modo que todo mundo pudesse acessar o que é seu, por mais que as pessoas sejam confiáveis, não é muito confortável. Por fim, sentir que sua intimidade pode ser vista por qualquer um que entre na casa a qualquer tempo começou a me soar bem incômodo.
Bom, esse foi o lugar que Deus abriu para que eu estivesse quando chegasse. Tem seus prós e contras, mas é o lugar de Deus, e mesmo com seus desconfortos, existem os bônus, já que Ele está nisso e portanto, ao final da jornada, vai valer a pena cada situação delicada que passar por aqui, e eu sabia isso desde antes de chegar. O que tem sido desafio é manter o foco nisso e não me deixar levar pelo desânimo do desconforto pra mim, o que definitivamente é um péssimo negócio, e pode me fazer tomar decisões que parecem sábias mas na realidade são estúpidas pensando com mais calma.
Um bom paralelo sobre isso é o andar de elevador. Pra quem não liga pra coisa de estar fechado em uma caixa de aço que se movimenta em um espaço restrito pra cima e pra baixo puxado por alguns cabos de aço, fica só o conforto de não precisar subir inúmeros degraus para chegar mais rápido e de modo mais cômodo no andar pretendido. Agora, pra quem não curte a sensação, e mesmo sabendo racionalmente que o meio de transporte mais seguro do mundo é o elevador, não consegue ficar à vontade com a coisa toda e constantemente considera fazer o trajeto de escadas, contando mais com sua própria força e equilíbrio do que com a segurança desse meio de transporte, embora os benefícios ao chegar no topo do prédio sejam evidentes, o desconforto sempre deixa a dúvida sobre o preço que foi pago. E quando o elevador é antigo, daqueles que só de olhar você já sabe que nasceu décadas depois da sua data de fabricação? Começam a surgir dúvidas sobre a disponibilidade de peças pro tal apetrecho no mercado nos dias de hoje, quantos profissionais saberiam mexer em algo tão antigo assim ao ponto de manter a coisa toda funcionando de modo seguro, e também o quanto de fato aquilo é mesmo mantido em ordem... e o coração começa a acelerar só de entrar em uma caixinha dessas.
E hoje, eu que sou desse segundo grupo que não consegue ficar completamente à vontade com a informação que a cabeça possui sobre o elevador, tive que usar um desses elevadores super antigos, em um prédio cuja frequência de manutenção me deixou bem receosa... e claro, na hora de ir embora, eu e a moça que estava comigo ficamos presas. O tempo foi curto, e graças a Deus consegui não chorar, não me desesperar e nem ter dores de barriga, apenas perdendo um pouco mais da tal "cor de oliva" que os italianos do Norte acham que eu tenho (um dia vou entender porque raios eles acham que eu sou verde), me assemelhando um pouco mais com um feijão branco talvez... em alguns minutos, a boa alma que estava do lado de fora (que por sinal foi quem provocou acidentalmente a parada do elevador) chamou o zelador do prédio que deu orientações e nos ajudou a sair dali. Terminamos bem o "passeio", e o alívio de chegar bem foi grande, mas de sair rápido e não ter que entrar de novo nele foi maior. E o aprendizado... esse foi fundamental!
Andar com Deus é como andar de elevador: mesmo sabendo que é o jeito mais seguro (mesmo quando a "embalagem" é feia e antiquada) porque quem mantém a coisa toda funcionando é só o Criador do universo, a gente teima em se sentir desconfortável com a completa falta de controle das coisas, e diversas vezes pensa que fazer o trecho pelas escadas vai ser bem mais vantajoso. Ledo engano mas... quem nunca?
Resumo da ópera: quando cheguei em casa, depois de expressar bem claramente meu desconforto a alguns conhecidos a questão sobre as chaves, descubro que foram colocadas chaves no banheiro e no quarto das moças. Além disso, recebo uma mensagem de outra pessoa que nada tinha a ver com a coisa toda deixando claro que Deus está no controle e que esse é o lugar em que Ele me colocou, e quem mantém tudo funcionando é Ele, e que a minha função é... aproveitar o conforto da estadia, sendo grata pelo que tenho, pedindo a Ele o que não tenho, e focando no que Ele me chamou para ser: testemunha do seu IMENSO amor.
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