segunda-feira, 16 de abril de 2018

Pontes e distâncias

O que é distância? O que é proximidade? O que é longe demais para quem ama? E o que significa estar perto?
Quando eu morava em São Paulo, eu pensava que proximidade era um conceito geográfico, físico e espacial. Afinal de contas, embora eu viajasse sempre, como os meus relacionamentos eram mantidos com pessoas que estavam fisicamente ao meu alcance, pra mim, esse era o conceito. Acho até que ele é o conceito primário que aprendemos na escola. Mas, com o passar do tempo, vemos que proximidade e distância são conceitos que ultrapassam esse prisma básico.
Com o passar do tempo, eu pensei que o tempo era mais uma variável nessa equação, e aos poucos, alguns amigos foram se distanciando nos dias, meses e anos que se passavam sem um contato, seja pessoalmente, seja por algum outro meio (antigamente cartas e ligações, mas depois e-mails, mensagens de texto por SMS, whatsapp e redes sociais). Aos poucos, independente de estar fisicamente próxima, via que algumas pessoas simplesmente não se faziam presentes, mesmo estando ao meu lado, e a recíproca era verdadeira (quem nunca teve um vizinho ou um colega de escola ou trabalho que simplesmente foi um contato por um tempo e depois de um período simplesmente não era mais tão ligado quanto antes?).
Depois, pensei que a variável que explicava essa equação eram as prioridades (minhas e dos outros), já que com o passar do tempo, eu fui escolhendo e priorizando algumas coisas novas, reafirmando outras escolhas antigas, ajustando rumos e assim é com todo mundo, e aos poucos, de algum modo, com certas pessoas, as escolhas parecem que simplesmente nos deixam distantes, seja porque não escolhemos mais estar num lugar, ou pensar de um modo, ou dedicar a vida a alguma coisa... mas isso ainda não parecia explicar exatamente o que acontece.
E as prioridades? Sim, de algum modo, as prioridades são escolhas, mas elas na verdade são, na minha visão, algo mais tático, já que as escolhas nos dizem em que direção nos mover, mas a prioridade nos indica quando e como. Mas ainda faltava algo...
Poderia elencar aqui ainda as condições financeiras, o idioma, o fuso horário e tantos outros elementos... mas hoje penso que todas estas coisas são apenas elementos que apimentam o que no fundo define se estamos perto ou longe, mas não são a base disso, e podem ser espadas de dois gumes. Pra mim, hoje, o que define a proximidade é a vontade de duas pessoas: se de um lado, quando um não quer, dois não tem; por outro, quando dois ou mais estão focados no mesmo objetivo, é complicadíssimo impedi-los de atingir o alvo (vide a história da torre de Babel).
Vejo que quando comecei a orar pedindo a Deus para ter um relacionamento de verdade com a minha família, veio também o projeto de mudar-me de país, e com ele o receio de que tudo o que eu vinha tentando construir fosse simplesmente por água abaixo. Mas, ao invés disso, percebi que a distância física só revelou quem de fato tem vontade de estar perto: os meus melhores amigos vivem em outros países diferentes do meu, e nem por isso nos distanciamos. Aliás, certas relações cresceram na distância geográfica, e me fizeram crescer nas relações interpessoais e até comigo mesma.
Em cerca de um mês fará um ano que a minha avó faleceu no Brasil, e embora eu não tenha podido ir até lá, eu nunca estive tão perto das mulheres da minha família quando neste último ano. A propósito, a minha avó era, na realidade, avó das minhas irmãs, mãe da mãe delas, que não é biologicamente minha mãe, mas sempre me tratou como tal. Elas mostraram que a distância física não é um empecilho pra quem quer incluir alguém (como às vezes mostram também que a proximidade física não necessariamente garante afinidade e intimidade).
Hoje, indo a Paris para trabalhar e conviver com algumas pessoas com quem convivo à distância (e outras que não tenho quase convívio ainda), sei que estar fisicamente perto é super importante, mas só ou principalmente quando a vontade de estar junto é real. Caso contrário, estar fisicamente próximo pode se tornar uma dificuldade, e até uma tortura, ao ponto de dividir o mesmo teto (e até a mesma cama) com um completo desconhecido que, apesar de te permitir ouvir as batidas do seu coração, esse é um ato só físico, porque o que se passa ali dentro está a milhas e milhas de distância e já deram tchau pra você há muito tempo...
Proximidade se constroi, se faz, se conquista e se desfruta. E é dia a dia. E quando a pessoa se vai (porque a sua vontade se foi, morrendo emocionalmente ou porque ela morreu de fato), o luto é o mesmo, e a dor é complicada de lidar, porque é uma decisão unilateral, e não somos preparados para esse desligamento repentino, embora a consciência de que a vida é frágil e passageira nos rodeie sempre, lembrando-nos da nossa vulnerabilidade de tempos em tempos.
Que eu possa direcionar sabiamente a minha vontade, de modo a me aproximar de quem realmente faz sentido, construindo pontes fortes que a geografia não seja capaz de esburacar, e o tempo não seja capaz de puir, e as circunstâncias não sejam capazes de destruir. Que cada momento e cada situação sejam tijolos e argamassa para essa construção que, no final, seguirá para além da minha vida nesse planeta, deixando para quem está do outro lado dessa ponte um legado, uma lembrança boa, uma alegria de ter sido honrado por mim e um aprendizado de fé e superação. Que eu possa construir em Deus pontes que portem outros à um relacionamento íntimo com Ele. Que assim seja, pois esse é o desejo do meu coração, e sei que Deus também assim o quer.

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